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M

acroglobulinemia

de

W

aldenström

uma

revisão

R

ev

A

ssoc

M

ed

B

ras

2014; 60(5):490-499

495

D

iagnóstico

diferencial

É fundamental distinguir a MW de outras patologias que

podem confundir-se clinicamente com essa doença.

O diagnóstico diferencial (Tabela 3) é importante para a

exclusão de neoplasias potencialmente secretoras de IgM

monoclonal e que também podem apresentar linfócitos

com diferenciação linfoplasmocitoide na medula óssea.

Nesse grupo, incluem-se os linfomas de zona marginal,

57

a leucemia linfocítica crônica (CD5

+

, CD23

+

), o linfoma

das células do manto (CD5

+

, CD23

-

), o linfoma folicular

(CD10

+

) e o mieloma múltiplo (CD138

+

, CD38

+

, CD56

+

).

17,57

A diferenciação entre MW sintomática, MW assinto-

mática e gamopatia monoclonal de significado indeter-

minado (GMSI) de tipo IgM é importante, já que estes

últimos doentes apresentam um risco de progressão para

MW sintomática de 1,5%/ano.

58,59

Esta diferencia-se da

MW assintomática pela menor concentração de IgMmo-

noclonal (< 3 g/dL) e ausência de infiltração medular

(< 10%). O risco de progressão de MW assintomática para

sintomática é de 6%/ano, e apenas 55% desses doentes

apresentarão progressão em um período de 5 anos.

3

P

rognóstico

da

MW

sintomática

O Sistema Internacional de Prognóstico para doentes com

MW sintomática (

International Prognostic Staging System for

WaldenströmMacroglobulinemia

) considera 5 variáveis, que

correlacionam com a baixa sobrevivência de doentes sob

tratamento: idade > 65 anos, concentração de beta-2-mi-

croglobulina > 3mg/L, contagemde plaquetas ≤ 100 × 10

9

/L,

concentração de IgMmonoclonal > 7.000 mg/dL e concen-

tração de hemoglobina ≤ 11,5 g/dL.

61

A ausência ou a pre-

sença de um ou mais fatores de prognóstico enquadra o

doente em 3 níveis de risco: baixo (0 a 1 fator de risco, ex-

cluída a idade), intermediário (2 fatores de risco e idade

> 65 anos) ou alto (mais de 3 fatores de risco).

61

Junto com o grau de risco, é possível estimar a sobrevi-

vência média/geral. Em doentes com baixo risco, o tempo

médio de sobrevivência é de 12 anos, devendo a terapêutica

ser de baixa toxicidade, preservando a qualidade de vida. A

utilização desse sistema, nos doentes sintomáticos candida-

tos a tratamento, permite adequar a terapêutica ao doente,

considerando a sobrevivência média estimada.

Em um estudo recente, uma concentração elevada de

lactato desidrogenase (> 250 UI/L) foi também considera-

da fator de mau prognóstico, sobretudo nos doentes de

alto risco.

62

T

ratamento

Na decisão clínica sobre a terapêutica a ser instituída, di-

versos fatores são importantes, como a idade do doente, as

manifestações clínicas, os fatores de prognóstico, a quali-

dade de vida e a potencial sobrevivência do doente, a rela-

ção risco/benefício e custo/benefício da terapêutica, a efi-

cácia e os efeitos secundários.

O tratamento dos doentes assintomáticos não melho-

ra a sua qualidade de vida e a sua sobrevivência;

3

a obser-

vação clínica semestral é a opção recomendada nesses do-

entes se a função hematológica estiver preservada.

3

Há um

estudo que sugere o seguimento clínico bimestral/trimes-

tral durante o 1º ano após diagnóstico; mantendo-se está-

vel, a monitoração será trimestral/semestral nos anos se-

guintes.

63

Os doentes comMW são candidatos a tratamento caso

apresentem evidências clínicas de evolução agressiva da

doença ou manifestações clínicas e laboratoriais associa-

das à MW, como linfadenopatias ou esplenomegalia, sin-

tomas de hiperviscosidade, neuropatia periférica severa,

amiloidose AL (resultante da deposição tecidual de cadeias

leves de imunoglobulinas), crioglobulinemia, anemia he-

molítica autoimune, concentração de hemoglobina

< 10 g/dL e/ou contagem de plaquetas < 100 × 10

9

/L.

64

De fato, a escolha da terapêutica é uma opção crítica,

não devendo ser feita de maneira a limitar futuras opções,

já que todos os doentes inevitavelmente apresentarão re-

cidivas após o tratamento inicial, requerendo tratamentos

futuros.

3

A idade, a presença de citopenias, a necessidade

de controle da doença e a possibilidade de transplante au-

tólogo de

stem cells

devem ser consideradas na abordagem

terapêutica.

64

Na terapêutica de primeira linha, incluem-se agentes al-

quilantes, análogos das purinas e anticorpos monoclonais

anti-CD20.

64

A terapêutica com agentes alquilantes pode

provocar citopenias e mielossupressão, devendo ser evitada

nos doentes candidatos a transplante autólogo.

64,65

Os aná-

logos das purinas podem ser responsáveis pela evolução para

mielodisplasia e leucemia mieloblástica aguda.

64,66

A Clínica Mayo desenvolveu uma abordagem terapêu-

tica adaptada às características clínicas do doente.

3

A maio-

ria dos doentes sintomáticos são tratados com rituxima-

be, emmonoterapia ou em combinação com quimioterapia.

A monoterapia é recomendada nos doentes sintomáticos

com moderado comprometimento hematológico, nos

doentes com neuropatias associadas ao autoanticorpo IgM

e nos casos de anemia hemolítica resistente a corticoste-

roides.

3

O rituximabe é um anticorpo monoclonal IgG1 anti-

-CD20. A ligação ao receptor CD20 nos linfócitos B ativa a

cascata do complemento, conduzindo à formação do com-

plexo de ataque à membrana que induz a lise celular.

67

Esse

anticorpo ativa também as células

natural killer

pela liga-