O secretário-geral da Associação Médica Brasileira (AMB), Florisval Meinão, participou, nesta sexta-feira (14), do workshop Remuneração Médica durante a XXIV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo, realizada no Centro de Convenções Anhembi, em São Paulo. O encontro reuniu especialistas e lideranças médicas para discutir desafios históricos e caminhos possíveis para a valorização profissional no país.
O evento, promovido pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva () teve mediação do Dr. Eduardo Guimarães Hourneaux de Moura e contou com debatedores de diferentes regiões do Brasil. Dr. Meinão abriu as apresentações com a palestra “CBHPM: mito ou realidade? Dificuldades de implantação universal”, trazendo uma análise crítica sobre a defasagem histórica da remuneração e os entraves que ainda impedem a adoção plena da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM).
Segundo o secretário-geral da AMB, a CBHPM “continua sendo o instrumento mais sólido e tecnicamente fundamentado para ordenar a remuneração médica no Brasil, mas sua implantação universal esbarra na ausência de um compromisso real das fontes pagadoras e na falta de mecanismos regulatórios que garantam sua aplicação”.
Meinão ressaltou que a valorização do trabalho médico é condição indispensável para a sustentabilidade da assistência e para o fortalecimento das especialidades. “Não há como falar em qualidade de atendimento sem reconhecer o valor do ato médico. A remuneração adequada não é benefício ao profissional; é garantia de um sistema de saúde mais justo, eficiente e comprometido com o paciente”, afirmou.
Ao longo de sua apresentação, ele destacou que a AMB tem atuado de forma permanente junto às entidades médicas, operadoras e instâncias governamentais para ampliar a adoção da CBHPM e combater distorções que afetam diretamente a prática médica. “O que defendemos é previsibilidade, coerência e respeito. É impossível avançar sem um modelo que reflita a complexidade dos procedimentos e assegure condições dignas de trabalho aos médicos em todo o país”, completou.
O workshop seguiu com exposições do presidente do CFM, Dr. José Hiran da Silva Gallo, da Dra. Tereza Veloso e da Dra. Ana Maria Zuccaro, além de um amplo debate entre os participantes. A presença do Dr. Florisval Meinão reforçou o compromisso da AMB com a defesa da remuneração justa e da consolidação de parâmetros que valorizem a atividade médica no Brasil.
Na tarde desta quinta-feira, 13 de novembro, o diretor administrativo da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. Akira Ishida esteve na capital baiana para participar do57º Congresso Anual SBOT, evento realizado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
O médico ortopedista foi um dos convidados da mesa-redonda que discutiu sobre o tema ‘Preparando os Ortopedistas para o Real Futuro Próximo’, um dos debates que fez parte do ‘Fórum de Ética, Dignidade e Valorização do Ortopedista da SBOT’.
O evento
O congresso, que acontece entre os dias 12 a 14 de novembro, em Salvador/BA, reúne os principais especialistas da Ortopedia e Traumatologia do país e do mundo. Na edição deste ano, o evento conta com a presença de especialistas dos Estados Unidos, com renomados palestrantes da American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS), além de profissionais da Grécia, do Peru, entre outras nações.
A celebração dos 90 anos da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia também faz parte da programação do 57º Congresso Anual SBOT.
Projeto usa nome próximo ao da Associação Médica Brasileira, estabelecida há 70 anos, para certificar especialistas e divulgar diretrizes sem evidências
Não é de hoje que falsos especialistas minam a medicina. Basta uma pesquisa rápida nas redes sociais para encontrar médicos que se dizem especialistas em tal ou qual área, mas que, na prática, não têm qualificações registradas. Neste ano, porém, o problema parece ter ganhado outra dimensão. Desde janeiro, um projeto chamado Ordem Médica Brasileira (OMB) tenta se posicionar como alternativa à Associação Médica Brasileira (AMB), entidade responsável por conceder títulos de especialista a médicos há 70 anos.
A OMB se apresenta como defensora da “isonomia e justiça entre médicos” e promete criar suas próprias regras para certificar profissionais em diferentes áreas da medicina a partir de 2026. \”Vivemos uma estrutura concentradora, na qual apenas uma sociedade passou a emitir títulos […] isso ignora a multiplicidade de ideias e desconsidera formações médicas diversas\”, diz texto divulgado pela iniciativa. Nas redes sociais, onde soma quase 3 mil seguidores, um médico — que se apresenta como endocrinologista, mas não tem registro formal — é o rosto mais visível do projeto, cujo site ainda está “em construção”.
Apesar disso, a iniciativa já começou a se movimentar. Foram criadas pelo menos 55 sociedades médicas paralelas, muitas com nomes e siglas semelhantes aos de instituições tradicionais. Um exemplo é a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Exercício do Esporte (SBEMEE), muito parecida com a já consolidada Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que completou 75 anos em setembro. Além disso, há entidades voltadas à ginecologia, menopausa, mastologia, pediatria, diabetes, cardiologia e outras especialidades — todas ligadas à OMB e criadas por ela.
E não é só pelo número de sociedades que a iniciativa chama a atenção: algumas já começaram a publicar diretrizes para orientar a prática médica, muitas delas questionáveis segundo especialistas. Um exemplo é a recomendação de implantes hormonais à base de testosterona em mulheres, uma técnica sem respaldo científico consolidado e considerada arriscada, com risco de problemas cardiovasculares, hepáticos e até câncer de mama. Especialistas também alertam que esse tipo de procedimento movimenta um mercado lucrativo, levantando suspeitas sobre interesses comerciais.
Riscos do “atalho”
Diante desse cenário, a AMB emitiu nota alertando para o que chama de “grave ameaça” ao sistema de certificação de especialistas e à segurança que ele garante. A entidade explica que, no Brasil, apenas médicos que concluíram residência reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) ou que obtiveram o título de especialista emitido pela AMB, em parceria com sociedades filiadas, têm direito ao Registro de Qualificação de Especialista (RQE).
“São processos rigorosos, baseados em critérios técnicos, científicos e éticos, que visam, sobretudo, proteger o paciente”, diz o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente da AMB. Segundo ele, esse tipo de “atalho” para obter especialidade coloca diretamente em risco a segurança dos pacientes. “Um diagnóstico incorreto, um tratamento inadequado ou um procedimento mal conduzido pode custar não apenas a confiança no sistema médico, mas também vidas humanas”.
A AMB também chama a atenção para a estratégia da OMB de se aproximar do nome e das siglas de sociedades já consolidadas, criando risco de confusão institucional e levando, por exemplo, pacientes a acreditar que estão sendo atendidos por especialistas devidamente qualificados quando não estão. “A escolha do nome ‘OMB’, muito semelhante a ‘AMB’, e o anúncio de iniciativas que tangenciam atribuições legais e históricas da AMB e de suas sociedades filiadas, como a certificação de especialistas, revelam a inconveniência e o risco de confusão junto à sociedade, aos médicos em formação e às autoridades públicas”, alerta a entidade.
A Associação Médica Brasileira, que tem mais de 70 anos, orienta médicos a rejeitarem qualquer vínculo “com práticas irregulares que deturpam o conceito de especialidade e ferem a ética profissional”. A AMB também defende que “é imperativo que as autoridades competentes adotem medidas firmes para coibir tentativas de burlar o sistema legítimo de certificação, que colocam em risco a segurança da assistência médica no Brasil”.
A reportagem pediu posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre o caso, questionando se há conhecimento da situação e se alguma medida está sendo tomada, mas ainda não houve resposta. A matéria será atualizada quando houver retorno.
A Associação Médica Brasileira lamenta o falecimento nesta quinta-feira (13) de Manlio Basilio Speranzini, médico especialista em Cirurgia. O Dr. Manlio deixa um legado de dedicação, excelência e compromisso com a cirurgia brasileira, inspirando gerações de colegas e alunos ao longo de sua trajetória.
Ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em 1950 e graduou-se em 1955. Durante o curso de medicina foi plantonista remunerado do Banco de Sangue do Hospital das Clínicas (HC), do Samdu e da Maternidade São Paulo, além dos estágios regulamentares no Serviço de Anestesiologia, Obstetrícia e Pronto-Socorro do HC. Após a graduação fez residência em cirurgia durante dois anos, interrompendo-a quando foi convidado pelo professor Mario Ramos de Oliveira para assumir o cargo de médico auxiliar de ensino da 3ª Clínica Cirúrgica.
Manlio Speranzini possui títulos de especialista pelas seguintes entidades: Cirurgia Geral (1962, AMB12 e 1975, CBC13), Gastroenterologia (1966, FBG14) e Cirurgia do Aparelho Digestivo (1992, CBCD15).
A AMB se solidariza com familiares, amigos e colegas.
A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou o Requerimento nº 300/2025, de autoria do deputado Dr. Frederico, para convidar o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes, a participar da audiência pública que discutirá o tema “A medicina baseada em evidências no contexto da judicialização da saúde no Brasil”.
O requerimento adita a proposta nº 6/2025, apresentada pela deputada Adriana Ventura, responsável pela iniciativa original do debate.
A participação do presidente da AMB reforça o compromisso da entidade com a defesa da boa prática médica, a qualificação da assistência à saúde e o fortalecimento das bases científicas que orientam o exercício da Medicina no Brasil.
A audiência está agendada para o dia 25 de novembro de 2025, às 10h, na Câmara dos Deputados, e reunirá representantes do Governo Federal, entidades médicas, do setor jurídico e da indústria farmacêutica.
O objetivo do encontro é promover uma ampla discussão sobre os desafios e impactos da judicialização da saúde no país, buscando alinhar a prática médica, as políticas públicas e as decisões judiciais aos princípios da medicina baseada em evidências científicas.
“A medicina baseada em evidências é um pilar essencial para assegurar decisões clínicas responsáveis, sustentadas pelo conhecimento científico e voltadas ao melhor cuidado do paciente. Discutir esse tema no contexto da judicialização é fundamental para garantir que o direito à saúde caminhe junto com a prática médica ética e qualificada”, afirmou Dr. César Eduardo Fernandes, presidente da AMB.
A AMB reitera sua disposição em contribuir com o debate técnico e ético sobre temas que envolvem a qualidade do cuidado médico e o acesso responsável à saúde, sempre em benefício da sociedade brasileira. E reforça
Além do Dr. César Eduardo Fernandes, também foram convidados para o debate:
Representante da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde);
Representante do Departamento de Gestão das Demandas em Judicialização na Saúde, do Ministério da Saúde;
Representante da Secretaria de Reformas Microeconômicas, do Ministério da Fazenda;
Representante da Advocacia-Geral da União (AGU);
Dra. Ludhmilla Hajjar, médica cardiologista;
Representante da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge);
Representante do Sindusfarma;
Representante do Conselho Federal de Medicina (CFM);
Ramiro Nóbrega Sant’Ana, defensor público do Distrito Federal;
Maria Cecília Oliveira, presidente da Associação dos Familiares, Amigos e Pessoas com Doenças Graves, Raras e Deficiências.
A Associação Médica Brasileira (AMB) participou, nesta terça-feira (11), de audiência pública na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados para discutir o Projeto de Lei nº 2717/2019, que trata sobre a regulamentação da chamada “saúde estética”. O debate foi proposto pelo deputado Eduardo Velloso e reuniu representantes de entidades médicas, de conselhos profissionais e especialistas do setor.
Representando a AMB, o Dr. Sergio Palma destacou que a estética, entendida como um campo interdisciplinar que envolve saúde, bem-estar e qualidade de vida, tem registrado crescimento expressivo no Brasil nos últimos anos. No entanto, segundo ele, esse avanço não foi acompanhado por uma normatização adequada, o que gera insegurança jurídica e conflitos de competência entre diferentes categorias profissionais.
“Vivemos um cenário em que diversas profissões reivindicam o direito de realizar procedimentos estéticos — inclusive invasivos — amparadas apenas por resoluções corporativas de seus conselhos, sem respaldo legal claro. Esse vácuo regulatório expõe os pacientes a riscos e os profissionais à insegurança sobre os limites de sua atuação”, alertou Palma.
O representante da AMB ressaltou ainda que a questão deve ser analisada sob a perspectiva do biodireito e da bioética, uma vez que envolve direitos fundamentais, como a saúde, a vida e a dignidade humana. Segundo ele, a prática de procedimentos invasivos requer uma abordagem completa, que inclui anamnese, diagnóstico, indicação adequada, técnica fundamentada em evidências científicas e capacidade de manejo de complicações.
“Essas práticas exigem formação médica sólida. Quando realizadas por profissionais sem o preparo necessário, podem resultar em complicações graves, reações adversas e até óbitos”, afirmou.
Palma alertou também para o risco da mercantilização da estética, que, sem regulação eficaz, transforma a saúde em produto e aumenta a vulnerabilidade de pacientes e profissionais. “É urgente estabelecer marcos legais que garantam segurança e qualidade nos procedimentos estéticos. Precisamos proteger a saúde pública e preservar a integridade dos indivíduos e das profissões envolvidas”, concluiu.
O PL 2717/2019 segue em tramitação na Câmara dos Deputados e deve continuar sendo discutido em novas audiências e com diferentes setores da sociedade antes de ser votado em plenário.
Participaram ainda da audiência pública, Silvia Perotti, representante do Conselho Federal de Fonoaudiologia, Fernando Cesar de Sousa Santos Veríssimo Gamarros, representante do Conselho Federal de Biologia, Tatiana Maria Melo Guimarães, chefe do Departamento de Gestão do Exercício Profissional do Conselho Federal de Enfermagem, Graziela Schmitz Bonin, conselheira federal pelo Estado de Santa Catarina do Conselho Federal de Medicina, Cecília Castro, presidente da União Nacional dos Esteticistas e Técnicos em Estética, Edgar Garcez Junior, presidente do Conselho Federal de Biomedicina, Rodrigo Prado Santiago, representante da Federação Médica Brasileira, Camila Maria Rodrigues Borges, membro do Grupo de Trabalho sobre Estética do Conselho Federal de Farmácia, Caroline Romeiro, coordenadora da Coordenação Técnica de Nutrição do Conselho Federal de Nutrição, Juliano Tibola, representante do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Carlos Roberto de Souza Filho, presidente dos Sindicatos dos Biomédicos do DF, Guilherme de Araújo Freitas, representando a Federação Brasileira dos Profissionais Esteticistas e Walter Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia
O diretor cultural da Associação Médica Brasileira – AMB – Dr. Rômulo Capello Teixeira participou, no dia 6 de novembro, do Rio Health Forum como moderador de uma mesa-redonda que debateu o tema ‘Como as Sociedades Médicas podem Contribuir para a Sustentabilidade da Saúde’.
O evento, que apresentou como tema central “Construindo um Sistema Integrado e Sustentável na Saúde”, foi desenvolvido com o objetivo de interagir e contribuir na construção de um novo futuro para a Saúde. O encontro ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 7 de novembro.
O Brasil vive uma transição silenciosa e profunda: a de um país jovem que envelhece rápido demais.
Um estudo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) mostra que a população idosa dobrará em apenas 25 anos, um ritmo seis vezes mais veloz do que o registrado na França. Até 2031, haverá mais idosos do que crianças — um marco demográfico que desafia a estrutura social, econômica e sanitária do país.
O envelhecimento acelerado, que inspirou o tema da redação do Enem 2025 (“Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”), vem acompanhado de uma mudança preocupante no mapa das doenças: as enfermidades do envelhecimento — cardiovasculares, metabólicas e neurológicas — estão crescendo mais rápido do que a capacidade do sistema de saúde de lidar com elas.
As doenças do envelhecimento: um novo perfil epidemiológico
O levantamento do IEPS, de 2023, revela que os idosos brasileiros vivem mais, mas acumulam múltiplas doenças crônicas, com destaque para hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, AVC e demências.
Essas condições já consomem boa parte dos recursos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), e a sobrecarga recai também sobre as famílias — especialmente as mulheres, que, segundo o estudo, se tornam cuidadoras e acabam afastadas do mercado de trabalho.
“Estamos envelhecendo antes de nos estruturar. O desafio não é só viver mais, mas viver com qualidade e suporte”, resume o relatório.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), distúrbios como AVC, Alzheimer, enxaqueca, epilepsia e neuropatia diabética já são responsáveis por quase metade da carga global de incapacidade.
O alerta ganha peso em países que envelhecem rapidamente, como o Brasil, onde o aumento da expectativa de vida amplia a exposição a esses fatores de risco.
“É uma crise silenciosa de saúde pública global, e o Brasil reflete esse cenário de forma muito evidente”, alerta Maramélia Miranda, presidente da Sociedade Brasileira do AVC.
No país, o AVC voltou a superar o infarto como principal causa de morte cardiovascular desde 2019 — um reflexo direto do envelhecimento populacional somado ao controle insuficiente da pressão, do diabetes e do colesterol.
Envelhecimento, desigualdade e descoberta brasileira
A doença de Alzheimer, que tem a idade como maior fator de risco, cresce na esteira do envelhecimento acelerado.
“O que a França levou cem anos para envelhecer, o Brasil está fazendo em dez — e não estamos preparados”, explica Elisa de Paula França Resende, coordenadora de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
Baixa escolaridade, hipertensão, diabetes, depressão e isolamento social agravam o risco. O Plano Nacional de Demências, embora aprovado, ainda não foi implementado.
A descoberta marca uma virada na compreensão da doença e reforça a importância de identificar precocemente processos inflamatórios no cérebro, algo que poderá orientar futuras terapias combinadas.
Câncer: o outro rosto do envelhecimento
O avanço da idade também tem mudado o mapa das principais causas de morte no país.
O estudo, baseado em dados do Ministério da Saúde, revela que as mortes por tumores cresceram 120% desde 1998, mais que o dobro do aumento observado nas doenças do aparelho circulatório (51%).
Se o ritmo continuar, o câncer deve se tornar a principal causa de morte no Brasil até 2029, marcando uma virada epidemiológica ligada diretamente ao envelhecimento populacional.
“O câncer é uma doença do envelhecimento celular. Quanto mais o país envelhece, maior o número de diagnósticos”, explica o oncologista Abraão Dornellas, do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do Instituto Vencer o Câncer.
Segundo o levantamento, 77% das mortes por câncer ocorrem em pessoas acima dos 60 anos — e o fenômeno é mais evidente nas regiões com maior expectativa de vida. O Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional, com 168 municípios onde o câncer já é a principal causa de morte. Lá, 22% de todos os óbitos são provocados por tumores, índice bem acima da média nacional (17%).
“O Sul tem a maior expectativa de vida do país e uma rede de diagnóstico mais estruturada, o que naturalmente amplia os registros”, explica a pesquisadora Nina Melo, coautora do estudo. “Mas há também fatores ambientais e genéticos — é uma população majoritariamente caucasiana, mais suscetível ao câncer de pele.”
O avanço do câncer entre idosos e o aumento da longevidade se somam a outro desafio: as doenças cardiovasculares continuam a crescer, alimentadas pelo mesmo processo de envelhecimento populacional e pelos fatores de risco acumulados ao longo da vida. Entre eles, a hipertensão arterial é o mais determinante — e também o mais comum.
Hipertensão alimenta o ciclo
A pressão alta continua sendo a principal porta de entrada para complicações do envelhecimento, como AVC e insuficiência renal.
Em setembro, uma nova diretriz brasileira mudou o parâmetro: pressão de 12 por 8 passou a ser considerada “pré-hipertensão”. O objetivo é endurecer a prevenção e manter a pressão abaixo de 13 por 8 (130/80 mmHg) para reduzir o risco cardiovascular em todas as idades.
“É uma medida que antecipa o diagnóstico e reforça o papel da atenção básica, especialmente no SUS, que acompanha 75% dos hipertensos”, explica o cardiologista Fernando Nobre, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A hipertensão afeta quase 30% dos brasileiros adultos, mas só um terço mantém controle adequado — um número preocupante para um país que envelhece rapidamente.
Famílias no centro da sobrecarga
O envelhecimento também reconfigura os lares brasileiros: segundo o IEPS, cresceu a proporção de casas habitadas apenas por idosos. Quando há limitações físicas, quase 100% dos cuidados são oferecidos por familiares, principalmente mulheres, o que reduz a renda e amplia a desigualdade.
“Sem políticas de apoio domiciliar e centros de reabilitação, a velhice no Brasil ainda é um problema privado — não uma prioridade pública”, resume Resende.
Um país que envelhece mais rápido do que se estrutura
O cruzamento de dados mostra que o Brasil está pouco preparado para o envelhecimento.
Há escassez de geriatras e gerontólogos, queda de leitos de reabilitação e poucas instituições de longa permanência. Apenas 36% dos municípios têm algum tipo de abrigo ou casa de apoio para idosos — a maioria privada.
A consequência é dupla: idosos mais doentes e famílias sobrecarregadas, num ciclo que já pressiona o SUS e desafia a previdência.
“O maior risco não é envelhecer, mas envelhecer mal — e sozinho”, complementa Resende.