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Juliana

Mynssen

Após as medidas tomadas pelo governo envolvendo o setor de saúde, médicos de todas as partes do país revoltaram-

-se. Muitos posicionaram-se firmemente, mas a cirurgiã-geral carioca JulianaMynssen tornou-se uma referência na luta

médica ao ter diversos de seus artigos intensamente replicados nas redes sociais. Mynssen tem30 anos emora no Rio de

Janeiro. Graduou-se pela Universidade Federal Fluminense (UFF), emNiterói, fez os dois primeiros anos de residência

emCirurgia Geral noHospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) da UFF, e os dois últimos e a preceptoria em

Cirurgia Geral Avançada noHospital das Clínicas da USP. Mynssen concedeu a seguinte entrevista ao

Jamb

.

Você acredita na sensibilização

da sociedade por meio de

mobilizações virtuais, tomando como

exemplo a repercussão que seus

depoimentos vêm alcançando?

Juliana –

Acredito. As manifestações

que aconteceram nesses últimos meses

por todo o país são o maior exemplo

disso. A internet foi o grande agregador

de todos os que sentiam em comum

a indignação e a insatisfação com

os atuais políticos e suas falhas.

Um de seus artigos, “O dia em que

Dilma cuspiu no rosto de 370.000

médicos brasileiros”, teve mais

de 100 mil compartilhamentos.

Imaginava tal repercussão?

Juliana –

Não imaginava! Foi uma grande

surpresa e até um susto! Algumas pessoas

e amigos da área da Saúde já me seguiam

no Facebook e compartilhavam alguns

textos, mas nada com essa proporção.

Além do paciente semmaca citado

no artigo, o que mais a faz chorar no

exercício da medicina no Brasil?

Juliana –

Ah, já chorei algumas

vezes. Mas, apesar das dificuldades de

infraestrutura que todos passam em

algum momento da carreira, sem dúvida,

perder um paciente é o que dói mais.

Quando começou a militar pela

melhoria dos serviços de saúde?

Juliana –

Eu não “milito”. Só expressei

minha insatisfação com a política para

a Saúde do atual governo no meu perfil

pessoal de uma mídia social. Na minha

opinião, [a proposta de Dilma] foi uma medida

populista, que garante votos, mas não resolve

os problemas reais da Saúde no nosso país.

O que a motivou a entrar na medicina?

Juliana –

Meus pais são pediatras. Sempre

me incentivaram e me deram apoio.

No artigo, a senhora se declarou

uma “preceptora bruxa”. Qual é a

sua visão a respeito da qualidade

do ensino nos programas de

residência médica atualmente?

Juliana –

Os programas de residência

médica no país são heterogêneos. Muitos

são de excelente qualidade e têm até padrão

internacional. Outros, na minha opinião, não

deveriam existir. O médico-residente não

deve ser tratado como mão de obra barata. Ele

ainda é um médico em formação. Para que se

torne um bom profissional, é necessário que

ele receba supervisão e orientação precisas

em condutas técnicas e clínicas; programas

de educação médica continuados; e estímulos

e subsídios para publicação de trabalhos e

pesquisas. A última etapa da sua formação

consiste em ter alguém para ensiná-lo o

correto. Quando o residente cria um conceito

errôneo, corrigi-lo é um caminho dif ícil.

Exige-se o compromisso de quem ensina um

médico em formação para que ele receba não

só o ensino técnico, mas aprenda também

a ética, a postura e as ideias médicas. Além

disso, alguns hospitais não têm estrutura nem

tecnologia de equipamentos, instrumentais,

aparelhos de imagem ou próteses utilizados

em procedimentos básicos e exigidos pelas

sociedades médicas para formar um médico

especialista. Isso não deveria acontecer.

Arquivo pessoal

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JAMB

Setembro/Outubro

2013