Pesquisa inédita – Explode a violência contra médicos de São José do Rio Preto e região
Seis em cada dez profissionais já acompanharam agressões a colegas da área, segundo levantamento da Regional SJRP da Associação Paulista de Medicina
A violência contra médicos em São José do Rio Preto e cidades da região está em alta, equiparando-se, em alguns quesitos, a gravíssimos índices registrados em pesquisas estaduais.
De acordo com levantamento inédito da Regional SJRP da Associação Paulista de Medicina, divulgado, nesta manhã de 29 de julho, um em cada dois médicos já sofreu agressão por parte de pacientes e familiares. Os episódios vão desde ataque físicos a psicológicos, passando por situações de assédio sexual.
O arrefecer da truculência, mesmo em um momento em que os médicos têm exposto suas vidas e de seus familiares para salvar os acometidos pela Covid-19, já provoca reações das entidades representativas da classe. A Associação Médica Brasileira (AMB), por meio do presidente César Eduardo Fernandes, acionou sua assessoria parlamentar em Brasília, na primeira hora de hoje (29), solicitando que deputados e senadores sejam contatados imediatamente e cobrados a dar celeridade à aprovação do Projeto de Lei n° 6749 de 2016. O PL tipifica de forma mais gravosa os crimes de lesão corporal, contra a honra, ameaça e desacato, quando cometidos contra médicos e demais profissionais da saúde no exercício de sua profissão.
“Lamentavelmente, as mazelas no sistema público e da rede suplementar são recorrentes e os pacientes sofrem na pele. São dificuldades para o acesso, demora para atendimento, falta de leitos, de medicamentos, de profissionais, entre outras”, argumenta César Eduardo Fernandes. “A indignação dos pacientes e familiares é justificável, somos solidários a eles. O problema é que alguns jogam sobre nós a responsabilidade da má-gestão da saúde, nos culpam por falhas estruturais. Isso é um equívoco inadmissível. Uma coisa é defender a cidadania, outra é calar ante a selvageria”.
Segurança Pública e Ministério da Justiça são acionados
No dia 27 de julho, imediatamente após tomar conhecimento dos dados do levantamento, a APM Estadual acionou os Ministérios da Justiça e da Saúde, o Governo do Estado de São Paulo, as Secretarias de Segurança Pública e Saúde, além da Procuradoria Geral de Justiça, requerendo providências urgentes para garantir a segurança dos profissionais de São José do Rio Preto e região.
“Faz anos que as pesquisas apontam o agravamento da violência”, pontua Marun David Cury, diretor de Defesa Profissional da Associação Paulista de Medicina. “Temos uma emergência de saúde pública e as autoridades responsáveis nos devem respostas e soluções. Além do fator humano, de garantia da integridade do médico, há outra questão: toda vez que sofremos um ataque desses e somos obrigados a nos afastar da linha de frente, aumentam os buracos da assistência”.
O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, pondera que a violência na saúde não é alarmante apenas no Brasil; é fragilidade comum aos países com falta de justiça social.
“Os serviços de saúde nas periferias e até em consideradas áreas de melhor poder aquisitivo apresentam insuficiências. Isso acaba em transferência da revolta à gestão e aos responsáveis pelo sistema para quem está cuidando do cidadão na linha de frente”.
Números da pesquisa
Essa é a primeira pesquisa da história, exclusivamente com médicos de Rio Preto, sobre violência. Foi motivada pelo aumento das denúncias informais de agressão para a Regional APM.
Assim, para compreender a extensão do problema, houve entre 5 e 19 de março de 2021, um levantamento junto aos profissionais por intermédio da plataforma on-line Survey Monkey. Em termos estatísticos, o retorno é excelente: 354 médicos responderam ao questionário, 68% homens e 32% mulheres.
Dessa amostra, 63,28% já tiveram o dissabor de assistir algum colega da saúde sofrer violência, sendo que 44,92 (praticamente um a cada dois) foram vítimas de agressões.
Os números de São José do Rio Preto se aproximam de outros, alarmantes, de pesquisas estaduais. Em 2018, levantamento do Conselho Regional de Medicina dava conta de que a taxa no estado era de 7 vitimados em cada 10.
Os dados da região também se aproximam aos do conjunto da América Latina: 66,70%, em 2015, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde.
A agravante é a de que a estrutura de SJRP para garantir a segurança dos médicos e demais profissionais é extremamente insuficiente. Conforme a pesquisa da APM SJRP, na saúde pública, esse aparato só é perceptível para 17,80% dos que responderam; enquanto na saúde privada a percepção é de 30,79%.