Há relação entre a resposta imunológica pulmonar causada pelo tabagismo e a infecção pela COVID-19? - AMB

Há relação entre a resposta imunológica pulmonar causada pelo tabagismo e a infecção pela COVID-19?

Cada vez mais surgem evidencias que confirmam o envolvimento do tabagismo como fator predisponente chave para a gravidade e mortalidade da COVID-19. O uso crônico de nicotina através dos derivados do tabaco, de forma direta ou indireta, é um importante fator de vulnerabilidade para a COVID-19, em várias populações(2).

Baseando-se na elevada expressão ECA2 presente nos pneumócitos tipo II, nos macrófagos alveolares e no epitélio das pequenas vias aéreas em fumantes, especulou-se que o tabagismo pode ser fator de risco, uma vez que esta enzima tem importante papel como receptor funcional para a entrada do vírus na célula (endocitose) e sua subsequente replicação, nos casos de SARS-CoV-2, podendo assim contribuir para o aumento da gravidade e mortalidade pela COVID-19 (22).

Ao se ligar à ECA2, o vírus provoca o aumento da lesão pela angiotensina II e diminuição da proteção pela angiotensina 1-7, o que acarreta aumento da inflamação, vasoconstrição, exsudação de neutrófilos, macrófagos, fibrina e trombose(20,30). Assim, o efeito do aumento significativo na expressão pulmonar da ECA2, causado pelo tabagismo, sugere risco aumentado para ligação viral e entrada nos pulmões de fumantes, sugerindo então que estes têm maior susceptibilidade à infecção, maior gravidade da doença e pior desfecho após o tratamento (31,32).

Também é sabido que o tabagismo provoca a ativação de citocinas inflamatórias e apoptose no tecido pulmonar, além de ações diretas sobre as células circulantes do sistema imunológico. Desta forma, a exposição à nicotina de forma sistemática e prolongada, através das várias formas de consumo do tabaco, provém mecanismo celular para a susceptibilidade viral e gravidade da doença durante o curso de uma infecção nos pulmões e em outros órgãos(27).

Em resumo, em fumantes, ex-fumantes e pessoas com DPOC, há aumento (upregulation) da expressão da ECA2 nas vias aéreas inferiores, o que pode explicar, em parte, o risco aumentado de manifestações graves da COVID-19 nessas populações. Esses achados chamam a atenção da importância de cessar o tabagismo e aumentar a vigilância nesta população, para a prevenção e o diagnóstico rápido da COVID-19, uma doença potencialmente letal(23).