Boletim 016/2021: COVID-19 no Brasil: vacinação e desafios inadiáveis
Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 – CEM COVID_AMB.
Desde os primeiros casos e óbitos por COVID-19 no Brasil se passaram 18 meses (1,5 anos). O impacto é devastador: mais de 21 milhões de casos notificados e estamos bem próximos de 600 mil mortes. O país ocupa o segundo lugar no ranking de óbitos em números absolutos em todo o mundo. Quanto aos casos, um em cada dez brasileiros já contraíram o vírus SARS-Cov-2.
É obrigatório registrar que, para além desse universo, temos uma legião de pessoas assintomáticas. Estudos em países que acompanharam essa população indicam que 18% a 33% permanecem sem sintomas o tempo todo. Há ainda os que contraíram formas leves de Covid leve e nem fizerem o teste. São grupos sobre os quais não existem estatísticas sustentáveis no Brasil.
Imunização
Após atraso considerável em relação à países desenvolvidos como Estados Unidos, Israel e Reino Unido – somente em meados janeiro de 2021 o Brasil iniciou timidamente a vacinação, mas os primeiros meses de imunização no país tiveram baixíssima velocidade, por falta de planejamento na aquisição internacional e de produção local das diversas plataformas de vacinas disponíveis no mercado. Apenas em abril de 2021, com mudança na política do enfrentamento e priorização da imunização, a aplicação de vacinas atingiu patamar adequado para a emergência de saúde pública vivida em território nacional.
Atribua-se à extrema efetividade e capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil chegarmos rapidamente à velocidade média de um milhão de doses ao dia e picos de mais de dois milhões, aumentando consideravelmente o percentual de brasileiros imunizados.
Como consequência do engrenar da vacinação, a partir de julho de 2021 a média móvel de óbitos por COVID-19 iniciou queda linear e sustentada, mantendo relação diretamente proporcional com o aumento da imunização populacional. Dados do Ministério da Saúde apontam redução de 67% da mortalidade quando comparado os meses de abril com agosto de 2021.
O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Brasil utiliza até agora três plataformas de Vacinas COVID (mRNA, vetor viral e vírus inativado), de quatro fabricantes distintas com o percentual de doses distribuídas à saber: Oxford/AstraZeneca – vetor viral (47%), Coronavac – vírus inativado (35%), Pfizer – mRNA (15%) e Janssen – vetor viral (3%).
O que temos atualmente em grandes estudos observacionais de vida real (estudos de efetividade de fase 4), publicados com dados de milhões de pessoas em diversos países, incluindo o Brasil, são resultados homogêneos quando se avaliam os desfechos clínicos mais importantes: redução de hospitalização e óbitos, proteção em torno de 70 a 90% em favor dos vacinados quando comparados aos não imunizados na população em geral, mesmo no contexto atual de circulação das variantes de atenção, VOCs, Alfa, Gama e Delta.
Desafios
Assim, a efetividade das Vacinas COVID na redução de hospitalização e óbitos é demonstrada. Mas ao menos três desafios se colocam no presente momento para que os resultados do enfrentamento da pandemia sejam otimizados no Brasil.
O primeiro e mais importante desafio é completar o esquema vacinal daqueles que receberam apenas uma dose dos imunizantes Coronavac, Oxford/Astrazeneca e Pfizer, pois a imunização parcial é sub-ótima para a proteção contra casos leves e principalmente de COVID grave, em especial no contexto da circulação das variantes Gama e Delta no Brasil.
Dados oficiais apontam que apesar de 53 milhões de brasileiros estarem com o esquema imunizante completo, quase nove milhões de pessoas ainda não retornaram para a segunda dose das Vacinas COVID que demandam duas aplicações, e, portanto, não estão devidamente protegidos.
O segundo desafio é a circulação das variantes de atenção, VOCs, em especial da Delta, já circulando em distintas regiões do país, substituindo a VOC Gama, surgido aqui em dezembro de 2020. A VOC Delta tem como principal problema a alta transmissibilidade, cerca de 2 a 3 vezes maior que o SARS-COV-2 original. No Brasil a prevalência dessa variante passou de apenas 2,3% em junho para quase 40% em agosto de 2021.
A despeito de os estudos de vida real das vacinas COVID no Brasil evidenciarem boa efetividade na redução de episódios graves e óbitos, inclusive com a VOC Delta, medidas não farmacológicas de prevenção devem ser otimizadas no cenário de circulação dessa variante. É ação inadiável frente ao risco de explosão de casos e de maior chance de doença grave em não vacinados e eventualmente situações de falha vacinal.
Doses de reforço
O terceiro desafio é a menor efetividade das Vacinas COVID em idosos e imunossuprimidos, que já foi demonstrada de forma linear para todas as plataformas de imunizantes. Devido ao fenômeno conhecido como imunossenescência, idosos acima de 70 anos têm resultados menos efetivos de proteção contra quadros graves e fatais de COVID-19 do que a população em geral, principalmente após cinco a seis meses após a vacinação completa.
O mesmo fenômeno ocorre em indivíduos recebendo quimioterapia para câncer, medicações imunossupressoras, transplantados, pessoas vivendo com HIV/Aids com contagem de linfócitos T CD4 menor que 200 céls/mm e pacientes em hemodiálise.
Intercambialidade de vacinas
Em relação à intercambialidade, estudos em andamento buscam avaliar benefício de uma dose de reforço de Vacina COVID nessas populações mais vulneráveis. Até o momento, resultados dos ensaios científicos disponíveis apontam para a necessidade de dose extra nessas condições, posição adotada em nota técnica do Ministério da Saúde do Brasil em agosto, contemplando a população idosa e os imunossuprimidos, utilizando como imunizante de reforço vacinas de mRNA ou de vetor viral, preferindo a intercambialidade em relação ao esquema original.
Papéis do Estado e do cidadão
Os desafios da Vacinação COVID no Brasil também passam por temas como a equidade, imunização de crianças e adolescentes, entre outros. De forma geral, apesar da demora inicial na implementação de um programa realmente efetivo, graças à eficiência do SUS e da baixíssima recusa vacinal (2 a 4% das indicações) o cenário da pandemia no país é, nessa hora, de situação de menor impacto em termos de mortalidade, o que só se consolidará se a nação mantiver o ritmo adequado de imunização aliado ao pacote de prevenção não-farmacológico, uso de máscaras, higienização das mãos com água e sabão/álcool gel e distanciamento social.
São Paulo, 16 de setembro de 2021
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