Secretário-geral da AMB participa do lançamento da Demografia Médica de SP, que revela radiografia inédita da Medicina

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES) divulgaram nesta quarta-feira (10), o estudo Demografia Médica do Estado de São Paulo 2026 (DMSP), levantamento inédito que descreve com profundidade o perfil, a distribuição e as tendências da força de trabalho médica nos 17 Departamentos Regionais de Saúde (DRS).

Estiveram presentes Antonio José Gonçalves, presidente da APM, Dr. Florisval Meinão, secretário-geral da Associação Médica Brasileira (AMB), professor e coordenador do estudo e professor do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, Mário Scheffer, Dr. José Luiz Gomes do Amaral, assessor do Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, o Dr. Eleuses Vieira de Paiva, representando o secretário no evento, Dr. Roger Chamas, médico e professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) representando a diretora da instituição. Dra. Eloisa Bonfá, e diversas entidades e autoridades médicas.

Segundo Mário Scheffer, a iniciativa surge para fortalecer o planejamento em saúde com base em evidências. “A Demografia Médica de São Paulo surge com o propósito de fornecer evidências científicas para orientar políticas públicas. Com isso, busca aproximar os médicos das necessidades da população e dos serviços existentes, considerando as características sociais, econômicas e sanitárias singulares de cada região do estado”, afirma.

Segundo o secretário-geral da AMB, Florisval Meinão ao olhar esses números, é possível traçar políticas públicas de saúde mais eficazes. Isso também orienta as entidades médicas — como a AMB e a APM — a formularem suas políticas em defesa do trabalho do médico e da qualidade da assistência à população. “É um estudo extremamente valioso, porque traz dados importantes para todo o cenário da saúde no país”, comentou.

Porém ele faz um alerta: “A demografia trouxe informações extremamente preocupantes. Uma delas é que o número de médicos no Estado de São Paulo já é equivalente ao dos países mais desenvolvidos, com cerca de 4,2 médicos por 1.000 habitantes. Portanto, não há mais necessidade de aumentar esse contingente no estado. No entanto, dentro de dez anos, teremos um cenário ainda mais crítico: serão cerca de dez médicos para cada mil habitantes”, apontou Meinão.  Segundo ele, não haverá trabalho para todos. A AMB terá de defender esses profissionais e encontrar soluções para um mercado que não conseguirá absorvê-los.

Crescimento acelerado da oferta de médicos
O estudo estima que, até o fim de 2025, São Paulo contará com cerca de 197 mil médicos, com projeções que indicam um salto para 235 mil em 2030 e 340 mil até 2035. A razão de médicos por mil habitantes deve subir de 4 para 7 no período. Apesar do crescimento, persistem desigualdades territoriais. Em 2025, Ribeirão Preto tem 5,2 médicos por mil habitantes, enquanto Registro conta com 2,1.

Especialistas x generalistas: mudança no perfil profissional
O levantamento revela que 60% dos médicos paulistas são especialistas — cerca de 117,7 mil profissionais — concentrados principalmente na Grande São Paulo (57%) e na região de Campinas (10%). Por outro lado, o número de médicos generalistas cresce em ritmo acelerado. São hoje 80 mil, representando 40% da força de trabalho, proporção que era inferior a 25% no ano 2000.

Esse fenômeno está diretamente relacionado à expansão do ensino privado de Medicina e à insuficiência de vagas de Residência Médica (RM). Em uma década, foram abertos 40 novos cursos, totalizando 87 escolas médicas no estado — das quais 92% são privadas. O presidente da APM, Antonio José Gonçalves, alerta para os impactos desse cenário. “A abertura indiscriminada de cursos de Medicina e o crescimento acelerado do número de médicos generalistas, uma vez que não há vagas de Residência Médica para todos, são uma grande preocupação da APM e de todo o movimento associativo”, afirma.

O secretário da AMB aponta também para um outro dado alarmante da pesquisa. 40% dos médicos do estado não possuem título de especialista. Segundo Florisval, considerando que em breve teremos um número mais do que suficiente de profissionais, não haverá emprego para médicos generalistas. Isso também se tornará um problema, e as entidades representativas precisarão buscar alternativas para esses colegas.

“A AMB trabalha no sentido de ampliar a formação de especialistas no país, mas essa adaptação não acontecerá no curto prazo. Temos, portanto, um cenário preocupante à frente: de um lado, a necessidade de garantir qualidade na formação; de outro, o excesso de médicos sem especialização ingressando em um mercado que não poderá contemplá-los ao longo de sua vida profissional”, finalizou.

Feminização e rejuvenescimento da Medicina
A profissão também passa por forte transformação demográfica. As mulheres já representam 52% dos médicos em 2025 e devem chegar a 70% na próxima década. Elas predominam em 22 das 55 especialidades, com presença acima de 60% em Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, e Medicina de Família e Comunidade. A idade média também caiu: um terço dos médicos paulistas tem 35 anos ou menos.

Setor privado concentra cirurgiões e reduz disponibilidade no SUS
Outro destaque do estudo é a análise sobre a atuação dos cirurgiões. Com 40% da população paulista coberta por planos de saúde, o setor privado exerce forte atração sobre esses profissionais. A pesquisa mostra que quase 70% dos cirurgiões trabalham simultaneamente nos setores público e privado (modelo de dupla prática). Outros 26% atuam exclusivamente na rede suplementar, enquanto menos de 7% dedicam-se apenas ao SUS. Esse cenário, segundo os pesquisadores, compromete a disponibilidade de especialistas para a população que depende exclusivamente da saúde pública.

Sobre o estudo
A Demografia Médica do Estado de São Paulo (DMSP) é um recorte da pesquisa nacional Demografia Médica no Brasil, desenvolvida há 15 anos pelo Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. O trabalho tem apoio do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas (PPPP) da Fapesp e parceria da APM e da SES-SP. A publicação apresenta dados detalhados sobre formação, distribuição, vínculos, tendências e características dos médicos atuantes nos 17 DRS, oferecendo uma base inédita para decisões estratégicas em saúde.

Clique aqui e confira a pesquisa completa.

Assessoria de Comunicação da AMB

Foto: Alexandre Diniz