Brasília, urgente

Depressão e burnout: Saúde mental do brasileiro piora, mas SUS não acompanha demanda

Doenças de aspectos mentais como ansiedade, depressão e síndrome de esgotamento profissional (síndrome de burnout) ganharam mais visibilidade e já são debatidas pela sociedade, mas ainda há pouco sendo feito em termos de política pública para tratar transtornos que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), oferecem riscos coletivos ao país, inclusive econômicos, devido ao impacto na produtividade das empresas.

Para especialistas ouvidos pelo Valor Econômico em razão do Dia Nacional da Saúde, celebrado nesta sexta (05), o sistema público está longe de conseguir atender uma demanda crescente que explodiu durante a pandemia e não há movimentos em andamento para mudar o cenário. Antes mesmo da pandemia, dados da OMS apontavam que 18,6 milhões de brasileiros, cerca de 10% da população, já conviviam com ansiedade em 2019, colocando o Brasil como o país com o maior número de pessoas com esse transtorno no mundo. O número surpreende ainda mais quando se considera que o país conta com apenas 11,7 mil médicos com especialidade em psiquiatria, segundo estudo de demografia médica realizado em 2020 pela Universidade de São Paulo (USP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Soma-se a isso a preocupação de que a depressão será a doença mais comum em todo o mundo em 2030 e já acomete mais de 10 milhões de pessoas no país, de acordo com a OMS.“O Brasil tem uma espécie de tempestade perfeita da saúde porque os índices de bem-estar estão caindo e isso se reflete em níveis de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse, burnout”, diz Gustavo Arns, co-fundador do Centro de Estudos de Felicidade, organização com representações também na Argentina e no Canadá. Ele sugere que o Ministério da Saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) estão fazendo muito pouco para uma questão que pode causar problemas em série tanto para a saúde individual das pessoas quanto para o país coletivamente.

O Relatório Mundial da Felicidade, elaborado anualmente desde 2012 pelo instituto Gallup em parceria com a ONU por meio da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, indica uma real piora da saúde mental na sociedade brasileira. Embora o país tenha melhorado a sua posição no ranking de 2021 para 2022, de 41º para 38º, a colocação está longe do 14º lugar registrado em 2014. O índice avalia, em uma escala de 0 a 10, pontos como o PIB per capita, apoio social, vida saudável, expectativa de vida, liberdade para fazer escolhas de vida, generosidade e percepção sobre corrução.


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