Pelo menos nove pacientes morreram por dia à espera de transplante no primeiro trimestre deste ano, segundo relatório da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (Abto), informou o Estado de S. Paulo. Enquanto isso, a lista ativa de pacientes adultos e pediátricos em espera ultrapassou os 50 mil. Foi um crescimento de 30,45% desde o início da pandemia de covid-19.
A crise sanitária causou aumento nas contraindicações médicas de doação e represamento de procedimentos, além de ampliar as mortes de pacientes em lista de espera. Mesmo com o aparente arrefecimento da pandemia, os dados do primeiro trimestre não são animadores, na visão de especialistas. Presidente da Abto, Gustavo Ferreira destaca que a pandemia desestruturou o programa de transplante no Brasil, ao provocar impacto negativo no número de procedimentos e de doações, que vinham em alta. A queda se deu, explica Ferreira, por dois motivos principais: insegurança de movimentar um paciente debilitado e expô-lo ao vírus e por causa da pressão no sistema de saúde, que paralisou alguns centros de transplante e reduziu a ação de outros. Em 2020, o Ministério da Saúde recomendou “contraindicação absoluta” para doação de órgãos e tecidos em caso de doador com teste positivo, por exemplo. A taxa de contraindicação passou de 15% em 2019, para 23% em 2021, reduzindo a efetivação das doações. A mortalidade em fila também progrediu.
Foram mais de 4,2 mil mortes em 2021, número que foi de 2,5 mil em 2019. Isso tem forte ligação com a contaminação por covid. “São pacientes mais vulneráveis”, destaca Ferreira. Mais de 71% eram pacientes à espera de transplante renal, que precisam fazer hemodiálise ao menos três vezes na semana. O ano passado foi um dos piores para a atividade, especialmente o primeiro trimestre. Em números absolutos, os três meses iniciais de 2022 foram um pouco melhores. A taxa de efetivação de doação passou de 26,2% no fim de 2021 para 24,3% no primeiro trimestre deste ano.
A queda foi acompanhada pelo crescimento da não autorização familiar para doação, que chegou a 46% – era 42% em 2021. A contraindicação médica caiu, ficando em 21%, mas segue alta levando em consideração os níveis pré-pandemia. Em março, o governo flexibilizou as regras de doação em relação à covid para retomar os índices de antes da doença.