Brasília, urgente

Comissão Especial de Combate ao Câncer promove seminário sobre a imunização do paciente oncológico

NK Consultores – Na terça-feira (17), a Comissão de Combate ao Câncer no Brasil da Câmara dos Deputados promoveu seminário sobre a imunização de pacientes oncológicos. O deputado Weliton Prado (Solidariedade-MG) foi o responsável pela coordenação do seminário.

Ministério da Saúde

Conforme o Dr. Eder Gatti, diretor do departamento do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, em 2016, o Brasil experimentou uma queda na cobertura vacinal que resultou em desafios relacionados ao registro de doses aplicadas, problemas estruturais no SUS, falta de abastecimento e atrasos na vacinação.

Apontou que pesquisa realizada em 2017/18 mostrou que a principal razão mencionada pela população para a baixa vacinação foi a dificuldade de acesso às vacinas. Essas dificuldades foram justificadas pelo fato de que os postos de vacinação estavam longe de casa, falta de tempo para levar as crianças, condições de saúde das crianças, horários inadequados de funcionamento dos postos, falta de transporte, limitações financeiras, falta de vacinas, salas de vacinação fechadas, falta de recomendação dos profissionais, falta de profissionais disponíveis e inconveniência no dia da vacinação.

Eder também observou que a disseminação de notícias falsas relacionadas a várias vacinas aumentou significativamente nos últimos anos. Para combater esse crescimento de informações incorretas, foi organizado o 10º workshop de planejamento para a melhoria das taxas de vacinação e lançado um movimento com o objetivo de realizar campanhas de vacinação e mobilizar a sociedade ao máximo.

Por fim, enfatizou que a hesitação vacinal é um fenômeno complexo e multifatorial, que requer a implementação de várias estratégias para mitigá-lo. Ele destacou a importância dos profissionais de saúde e das instituições na mudança desse cenário, ressaltando que a vacinação é uma responsabilidade de todos e que a educação, a mobilização social e a comunicação eficaz desempenham um papel fundamental na superação dos vieses cognitivos.

Hospital da Criança- Brasília

Claudia Valente, coordenadora do serviço de alergia e imunologia do Hospital da Criança de Brasília, ressaltou que o impacto de notícias falsas nas coberturas vacinais é muito grande, pois, a vacinação por ser um dos maiores avanços de saúde pública do século xx, vem apresentando uma queda altíssima, principalmente em crianças. Segundo a coordenadora, a falta de informação é um dos pontos que mais afetam em relação a queda da vacinação, pois, acabam gerando medo, inseguranças e principalmente uma certa desconfiança em relação a eficácia. 

Claudia destacou a importância de realizar campanhas para passar informações para a população, de maneira que todos tenham acesso e compreendam a linguagem, a necessidade de realizar de ações coordenadas para remoção de conteúdos antivacina das plataformas digitais e realizar também ações coordenadas para controle de campanhas estrangeiras de desinformação e má informação são essenciais para conter o crescimento da hesitação vacinal no mundo.

Por fim, Claudia fez destaque ao calendário vacinal, ressaltando que a indicação para a vacina influenza é a partir dos 6 meses de idade (anualmente), pneumocócica a partir dos 2 meses de idade (número de doses dependerá da idade em que iniciou a vacinação), vacina meningocócicas em adulto imunossuprimido (2 doses com intervalo de 2 meses), hepatite A crianças, adolescentes e adultos (duas doses 0-6 meses), HPV (três doses é obrigatório para imunossuprimidos, mesmo entre 9 e 14 anos).

Instituto de Oncologia Pediátrica- GRAACC

Em sua apresentação, Fabiane Carlesse, infectologista pediátrica e chefe do serviço de controle de infecção hospitalar e controle de antimicrobianos do Instituto de Oncologia Pediátrica, destacou a importância da vacinação para pacientes oncológicos e seus conviventes. Enfatizou que a vacinação contra a Covid-19 em pacientes pediátricos com câncer pode causar doença grave em cerca de 19% dos casos, e a taxa de mortalidade é de 3,8%. Ela ressaltou que o fator que mais contribui para essa taxa de mortalidade nas crianças é o estado nutricional, especificamente a obesidade. Portanto, é crucial que a vacinação seja realizada antes do início da terapia. Caso a vacinação seja administrada durante a quimioterapia, as vacinas inativadas são seguras durante a fase de manutenção.

A infectologista fez um apelo para que os contatos das crianças oncológicas, como pais e irmãos, recebam a vacinação da influenza, varicela, tríplice viral, hepatite B, dt e VIP durante os reforços das crianças aos 15 meses e aos 4 anos. Além disso, ela destacou a importância do acesso a um centro de referência de imunobiológicos especiais para todos.

Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais – CRIE-GO

De acordo com a Dra. Lorena Diniz, Médica Responsável pelo Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais – CRIE-GO e coordenadora do departamento nacional de imunização da ASBAI, a primeira vacina a ser desenvolvida foi a da varíola, que chegou ao Brasil em 1804. Em 2004, foi estabelecida a criação do calendário de vacinação abrangendo crianças, adolescentes, adultos e idosos. Destacou que na década de 1940, a taxa de mortalidade de crianças com menos de 5 anos no Brasil era de 212 a cada mil crianças, enquanto na população geral, essa taxa era de 19 a cada mil habitantes. De acordo com ela, isso ressaltou a necessidade de criar o Programa Nacional de Imunização em 1973, com o objetivo de reduzir essa alta taxa de mortalidade. Dez anos após a implementação desse programa, a mortalidade infantil já havia caído em mais de 50%, e essa tendência continuou nas décadas seguintes.

Sociedade Brasileira de Imunizações

O Dr. Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, enfatizou a importância de os pacientes oncológicos manterem o calendário de vacinação em dia. Ele destacou que, antes de recomendar uma vacina, é fundamental levar em consideração a idade do paciente, o estágio do tratamento (grau de imunossupressão) e o tipo de vacina (vírus vivo, inativado, novas tecnologias).

De acordo com ele, aproximadamente 99,5% dos adultos com 40 anos ou mais apresentam evidências sorológicas de infecção pelo vírus varicela zoster (VVZ), e uma em cada três pessoas nos EUA desenvolve herpes zoster durante a vida. A infecção primária por VVZ induz imunidade celular específica, que pode ser reforçada periodicamente pela exposição ao vírus ou por meio da reativação silenciosa a partir da latência.

Instituto Lado a Lado pela Vida

Conforme Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, a relevância da vacinação contra o HPV é de interesse geral, destacando que o Programa Nacional de Imunização completou 50 anos em 2023. Enfatizou a necessidade de realizar mais ações e comunicar de maneira eficaz e consistente em todo o país. Para os pacientes com câncer, os desafios são ainda maiores, pois envolvem a compreensão de suas necessidades abrangentes durante o tratamento, sendo a imunização e a orientação elementos fundamentais nesse processo.

Instituto Vencer o Câncer

Segundo Celina Rosa Martins, consultora de advocacy do Instituto Vencer o Câncer, em 2020, a Pfizer conduziu uma pesquisa que revelou que 36% dos médicos não encaminham pacientes imunossuprimidos para os CRIE’s, e 21% dos profissionais não tinham conhecimento da existência dos CRIE’s. Ressaltou que a falta de informação tanto entre a população quanto entre os profissionais de saúde é uma das principais causas da queda nas taxas de vacinação ao longo dos últimos anos.

Associação Brasileira Câncer Cabeça e Pescoço

Ana Paula Guedes, representante da Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço, enfatizou que o câncer de cabeça e pescoço representa a segunda maior incidência entre os homens e afeta principalmente homens com mais de 60 anos. No entanto, muitos jovens estão contribuindo para as estatísticas de câncer na língua, lábios e laringe, onde os principais fatores de risco são o tabagismo, narguilé, cigarro eletrônico, vape, consumo de bebidas alcoólicas e outros. Ressaltou que a estimativa para o período de 2023-2025 é que o câncer de cavidade oral afete 4.200 mulheres e 10.900 homens, o de laringe 1.220 mulheres e 6.570 homens, a tireoide 14.160 mulheres e 2.500 homens, e a pele 118.570 mulheres e 101.920 homens.

De acordo com a análise de dados abertos do SUS, o Observatório de Oncologia destacou que em 2022 ocorreram 6.215 óbitos por câncer na cavidade oral, 4.359 por câncer de laringe, 21.115 por câncer de cólon e reto, e 31.689 por HPV. Por fim, fez um apelo para que mais dados e informações sejam divulgados para toda a população, incentivando as pessoas a se prevenirem e a receberem as vacinas necessárias para a prevenção de diversas doenças.

Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia

Luana Ferreira Lima, coordenadora de Políticas Públicas da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, enfatizou a importância da imunização do paciente oncológico, promovendo campanhas e palestras com comunicação e informação abrangentes para toda a população.

Parlamentares

O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP), presidente da Frente Parlamentar pela Vacinação, apresentou o Projeto de Lei 1809/2023, que tem como objetivo regulamentar o combate à disseminação de informações falsas (fake news) que coloquem em risco a saúde da população. Ele enfatizou a importância de desenvolver estratégias para compreender as particularidades de cada região, a fim de aumentar o número de vacinações.

Por fim, o presidente da Comissão Especial de Combate ao Câncer, deputado Weliton Prado (Solidariedade-MG), destacou a importância de atribuir conhecimento e conscientização à população sobre as formas de prevenção e imunização dos diversos tipos de cânceres, ressaltando que a realização de campanhas e seminários é de extrema importância. Salientou que a construção de mais centros de prevenção é essencial, pois muitas vezes, um paciente que tem acesso a centros de prevenção/reabilitação volta a enxergar, volta a andar, ou seja, pode ter novamente uma vida com menos dificuldades e uma melhor qualidade de vida. Ele reforçou a importância de que todos tenham tratamento e diagnóstico disponíveis e acessíveis de maneira igualitária.


Envie sua opinião