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Dia Nacional de Combate Ao Fumo 2023

O Dia Nacional de Combate ao Fumo  – 29 de agosto – foi criado em 1986 pela Lei Federal nº 7.488 e tem como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira contra os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco. Esta foi a primeira legislação, em âmbito federal, relacionada à regulamentação do tabagismo no Brasil.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a epidemia do tabagismo entre as maiores ameaças à saúde pública que a humanidade já enfrentou.  É a maior causa isolada evitável de mortes precoces em todo o mundo, e considerado como uma doença crônica devido à dependência da nicotina presente nos produtos derivados do tabaco. É a maior causa evitável de doença e morte no mundo de acordo com a OMS.. Anualmente, morrem mais de 8 milhões de pessoas, sendo que mais de 7 milhões dos óbitos são atribuíveis ao tabagismo ativo e 1,2 milhão ao tabagismo passivo. No Brasil, são estimadas cerca de 156 mil mortes anuais (428 mortes por dia) devido ao tabagismo.

Os produtos do tabaco são consumidos de diversas formas (fumados, inalados, aspirados, mascados ou absorvidos pela mucosa oral). No Brasil, predomina o uso do tabaco fumado. Os produtos derivados da combustão do tabaco contêm aproximadamente 7 mil substâncias tóxicas, que são responsáveis direta ou indiretamente por cerca de 55 doenças. Entre estas, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) – doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, doenças respiratórias crônicas, câncer e diabetes, que são  responsáveis por 7 entre cada 10 mortes prematuras no mundo.

A exposição de adultos não-fumantes à poluição do ambiente causada pela fumaça ou vapor do tabaco (tabagismo passivo) aumenta as chances de apresentarem as mesmas doenças dos fumantes. As crianças têm maior risco de infecções respiratórias, otites de repetição, asma brônquica, perda da função pulmonar e morte nos primeiros anos de vida, além de câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica na vida adulta. As gestantes que fumam têm risco aumentado de complicações da gravidez (abortos, partos prematuros, descolamento prematuro da placenta) e de danos para o bebê, como baixo peso ao nascimento, morte súbita infantil, comprometimento da inteligência e do comportamento e dificuldade de aprendizagem escolar. Fumar durante décadas pode reduzir a expectativa de vida em 10 a 12 anos, em relação a quem nunca fumou.

Além dos danos à saúde causado pelo tabagismo e pelo tabagismo passivo, as substâncias da fumaça do cigarro podem contaminar o ambiente após o cigarro ser apagado. É o chamado tabagismo terciário, As substâncias da fumaça do cigarro se acumulam na poeira e em superfícieis: móveis, assoalhos, carpetes, paredes, cortinas, roupas, estofamentos de carros e depois se dissipam no ar ambiente. Os componentes são os mesmos do tabagismo passivo, mas em concentrações menores. As crianças são as mais vulneráveis, pois aumentam o risco de contrair doenças respiratórias e até câncer.

A OMS define o tabagismo como uma doença pediátrica, pois 90% dos fumantes começaram a fumar na adolescência, em um momento em que estão construindo sua personalidade e são suscetíveis a estímulos externos. De olho nesse público, a indústria do tabaco investiu durante muito tempo em publicidade e patrocínio de eventos culturais e esportivos, atualmente proibidos no Brasil.

O primeiro contato com o cigarro é sempre ruim, devido ao efeito aversivo da nicotina e do sabor desagradável do tabaco. Documentos internos da indústria indicam o conhecimento de que a inserção de aditivos nos produtos é fundamental para captar crianças, adolescentes e jovens em virtude da baixa tolerância desse grupo à irritação causada pela fumaça.

Por esta razão, a indústria do tabaco introduziu, nas últimas décadas, uma diversidade de aromas e sabores em marcas e produtos incluindo cigarros, charutos, fumo para cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, kreteks, snus, bidis, tabaco para narguilé, rapé e e-liquids para dispositivos eletrônicos para fumar.

No Brasil, dentre os produtos derivados de tabaco registrados, temos os seguintessabores: choco menta, menta cítrica, menta doce, maçã, berry, citrus, limão, uva, guaraná, coco, kiwi, laranja, hortelã, morango, chocolate, melão, melancia, abacaxi, açaí, bombom, manga, maracujá, pina colada, creme de morango, caramelo, banana, chiclete, mirtilo e pera (ANVISA, 2023).

Análises de documentos da indústria mostram que o percentual de aditivos por peso de cigarros aumentou a partir dos anos 90 (em especial, o uso de açúcares e doces).

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – PeNSE (2019), de abrangência nacional, revelou que em relação à experimentação, considerando os escolares de 13 a 17 anos, o percentual que experimentou cigarro alguma vez na vida foi de 22,5% entre os meninos e de 22,6% entre as meninas.

Atualmente a indústria do tabaco vem promovendo a venda de seus novos produtos, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs): cigarros eletrônicos, produtos de tabaco aquecido.

Apesar da proibição da comercialização, importação e propaganda dos DEFs através da Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária  (RDC – ANVISA) Nº 46 de 28/08/2009,  a experimentação de cigarros eletrônicos vem crescendo entre jovens no Brasil, que estão sendo iludidos com a falsa impressão que são inofensivos ou que são menos prejudiciais à saúde.

Diferentes sabores têm sido utilizados com o intuito de tornar os dispositivos eletrônicos para fumar também menos aversivos, facilitando a inalação de aerossóis e modificando a percepção dos riscos associados ao seu uso.

De acordo com a OMS, 70% dos usuários jovens (12 a 17 anos) de dispositivos eletrônicos para fumar dizem que consomem esses produtos por terem sabores dos quais gostam. Existem aproximadamente 16 mil sabores disponíveis no mercado, muitos deles atraentes para as crianças.

A maioria dos sabores disponíveis no mercado são atrativos para crianças, adolescentes e jovens, enquanto outros sabores frutados e mentolados atraem adultos e populações específicas como, por exemplo, mulheres e não fumantes.

O uso dos DEFs por não fumantes, principalmente adolescentes e jovens, aumenta em 2 a 3 vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e em mais de quatro vezes o risco de se tornarem fumantes de cigarros convencionais. Além disso cresce a possibilidade do uso simultâneo de ambos os produtos (uso dual), o que aumenta muito o risco das doenças tabaco-relacionadas, já bastante conhecidas.

O comércio, assim como a propaganda e publicidade dos DEFs são proibidos no Brasil desde 2009 por resolução da ANVISA.

O Brasil possui um exitoso Programa de Controle do Tabagismo. Em 1989 a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição apontou uma prevalência de 32,4% de fumantes no país. A última Pesquisa Nacional de Saúde apontou a prevalência de 12,8% de fumantes no país.

Em 2012 se tornou o primeiro país a aprovar uma política nacional para proibir os aditivos de sabor em todos os produtos derivados do tabaco por meio da publicação da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa. Porém, esta importante política ainda não foi implementada.

Dessa forma, a Associação Médica Brasileira defende a implementação da proibição de aditivos de sabor nos derivados do tabaco em nosso país, para que possamos manter as conquistas alcançadas, evitando um possível retrocesso no Programa Nacional de Controle do Tabagismo.

Riscos e malefícios dos DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar)

O que são os DEFs?

Cada vez mais comuns entre os jovens, os DEFs ou cigarros eletrônicos (também chamados de vapes, e-cigarros ou pen drive) são dispositivos mecânico-eletrônicos alimentados por bateria que exalam um aerossol contendo nicotina, entre outras substâncias.

Quais são os problemas provocados pelos DEFs?

Muitos acreditam que cigarros eletrônicos ajudam as pessoas a deixarem de fumar cigarros comuns. Pensam também que eles são “saudáveis” por exalar apenas “vapor de água”, não contendo substâncias tóxicas e perigosas.

Mas, ao contrário do que a indústria do tabaco vem apregoando, os cigarros eletrônicos não trazem nenhuma vantagem.

• Eles contêm nicotina, droga que leva à dependência.

• Contêm ainda mais de 80 substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados.

• O uso da nicotina aumenta o risco de trombose, AVC, hipertensão e infarto do miocárdio, entre outros.

• Estudos também mostram que o cigarro eletrônico aumenta em cerca de três vezes as chances do usuário fumar também cigarros comuns.

ATENÇÃO, MÉDICOS:
é muito importante alertar seus pacientes sobre todos os malefícios provocados pelos cigarros eletrônicos. Essa é uma grave questão de saúde pública.

Os DEFs são permitidos no Brasil?

Em 2009, a ANVISA proibiu a venda e a propaganda dos cigarros eletrônicos no país. Mas sua comercialização é intensa pela internet. Agora, a ANVISA está na fase final de elaboração de seu posicionamento quanto à liberação do uso dos DEFs.

A AMB e a SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) são veemente contra essa liberação.

Neste momento, a comunidade científica e de saúde pública brasileira só esperam uma coisa da ANVISA: que não libere a comercialização dos cigarros eletrônicos no Brasil. Os cigarros eletrônicos não podem reverter décadas de esforços da política de controle do tabaco no País.

Veja o posicionamento oficial da AMB

Dia Mundial Sem Tabaco alerta para as ameaças ao meio ambiente provocadas pelo cigarro

Por Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB

O Dia Mundial sem Tabaco foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1987, com o intuito de alertar à população sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo.

A OMS considera o tabagismo como a maior causa evitável de mortes precoces em todo o mundo, representando um dos mais graves problemas de saúde pública dos tempos atuais. É considerado uma doença crônica, devido à dependência da nicotina.

Essa dependência faz com que os tabagistas se exponham de forma contínua a aproximadamente 7.000 componentes químicos, fazendo com que o tabagismo seja fator causal de aproximadamente 50 doenças diferentes, ocasionando 8 milhões de mortes ao ano no mundo.

Em 2022 o tema escolhido pela OMS para a data é “Tabaco: uma ameaça ao meio ambiente”, com o objetivo de alertar sobre os danos ambientais provocados em razão do cultivo, produção, uso e descarte de produtos à base de tabaco. Assim, o consumo de produtos derivados do tabaco não prejudica apenas a saúde das pessoas. Ele — de seu cultivo até o seu descarte — afeta o ar, o solo e a água.

MAS COMO?

Aproximadamente 4,5 trilhões de cigarros são descartados no meio ambiente todos os anos. Pesquisas sobre o comportamento do descarte de lixo descobriram que aproximadamente 65% dos fumantes descartam pontas de cigarro de forma inadequada (por exemplo, em calçadas, praias, etc.).

No mundo, a cada ano, cerca de 3,5 milhões de hectares de terra são utilizados para cultivar tabaco, em especial nos países em desenvolvimento, o que contribui para o desmatamento, perda de biodiversidade, erosão e degradação do solo, poluição das águas e aumento das emissões de dióxido de carbono atmosférico.

O cultivo do produto geralmente envolve o uso substancial de substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, fertilizantes e reguladores de crescimento. Estes químicos podem escoar e afetar o solo e as fontes de água potável (contaminando rios e lençóis freáticos), além de causarem danos à saúde dos plantadores de fumo.

Durante o processo de produção, são geradas toneladas de lixo, tanto sólido quanto resíduos químicos (contendo substâncias como a amônia e  tolueno).  A fabricação e o consumo de cigarros envolvem também o uso de papéis e plástico. Há ainda todo o material utilizado na confecção do produto, além do uso adicional de fósforos e isqueiros para acender os cigarros e outros produtos de tabaco fumígenos.

A OMS divulgou alguns dados que exemplificam o impacto ambiental causado pela indústria do tabaco durante a fabricação de seus produtos:  600.000.000 árvores cortadas;  84.000.000 toneladas de emissões de gás carbônico (CO2) liberadas no ar, elevando as temperaturas globais, além de 22.000.000.000 litros de água usados.

A fumaça do tabaco também pode contribuir para aumentar os níveis de poluição do ar nas cidades. Estudos indicam que ela, que polui ambientes internos e externos, contém três tipos de gases responsáveis pelo efeito estufa — gás carbônico (CO2 ), metano (CH4 ) e óxidos nitrosos (N2O).

As guimbas ou bitucas de cigarros estão entre os resíduos mais descartados em todo o mundo e são o lixo mais comum coletado em praias e margens fluviais. Nelas, há substâncias perigosas identificadas, como arsênio, chumbo, nicotina e formaldeído. Segundo Novotny et al (2015), o principal componente dos resíduos de guimbas, o filtro dos cigarros (produzido com acetato de celulose), não é biodegradável.

Devemos considerar também os resíduos gerados com o descarte das embalagens dos produtos de tabaco, as quais possuem em sua composição papel, tinta, celofane, alumínio e cola, que podem gerar contaminação pelos seus constituintes e mais resíduos no meio ambiente.

Atualmente, há um fator relevante (e ainda pouco estudado) referente ao impacto gerado pelo descarte dos dispositivos eletrônicos para fumar que, por conterem baterias, substâncias químicas, embalagens metálicas e outras, requerem um descarte especial, já que não são biodegradáveis.

Esses produtos contêm metal, circuitos, cartuchos plásticos de uso único, baterias e produtos químicos tóxicos em líquidos eletrônicos. Os resíduos de cigarros eletrônicos são dificilmente biodegradados, mesmo sob condições severas.

Cartuchos de cigarros eletrônicos descartados nas ruas se misturam com lixo e são empurrados por eventos climáticos, acabando por se decompor em microplásticos e produtos químicos, que fluem para os bueiros, poluindo os cursos de água. Os dispositivos eletrônicos para fumar contêm substâncias perigosas como mercúrio e chumbo. As baterias de íons de lítio em dispositivos eletrônicos para fumar explodem e causam incêndios.

Dados internacionais da Truth Initiative apontam que, em 2018, os americanos geraram 2,7 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, incluindo resíduos de cigarros eletrônicos, que acabaram em aterros sanitários ou incineradores.

Todos estes dados mostram a importância do controle do tabagismo para a saúde do planeta. Cada vez mais informações demonstram que parar de fumar qualquer derivado do tabaco, incluindo cigarros eletrônicos não é uma ação isolada e sim a representação de uma melhor qualidade de vida para todos.

REFERÊNCIAS.

DROPE, J. et al. The Tobacco Atlas. Geórgia, Atlanta: 2018. Disponível em: https://pt.tobaccoatlas.org/topic/meio-ambiente/.

NOVOTNY, T. et al. The environmental and health impacts of tobacco agriculture, cigarette manufacture and consumption. Bethesda, Maryland: 2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4669730/.

TRUTH INITIATIVE. Tobacco and the environment. Washington, DC: 2021. Disponível em: chromeextension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/viewer.html?pdfurl=https%3A%2F%2Ftruthinitiative .org%2Fsites%2Fdefault%2Ffiles%2Fmedia%2Ffiles%2F2021%2F03%2FTruth_Environment%2520FactSheet%2520Update%25202021_final_030821.pdf&clen=1413082&chunk=true.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Fact Sheet. Tobacco. [Geneva]: WHO, 2021. Disponível em: https://www.who.int/news- room/fact-sheets/detail/tobacco.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. News. Protect the environment, World No Tobacco Day 2022 will give you one more reason to quit. [Geneva]: WHO, 2021. Disponível em: https://www.who.int/news/item/13-12-2021-protect-the-environment-world-no-tobacco-day-2022- will-give-you-one-more-reason-to-quit .

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Spotlight. More than 100 reasons to quit tobacco. [Geneva]: WHO, 2020. Disponível em: https://www.who.int/news-room/spotlight/more-than-100-reasons-to-quittobacco.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO report on the global tobacco epidemic 2019. [Geneva]: WHO, 2019. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241516204.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Tobacco and its environmental impact: an overview. [Geneva]. WHO, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/255574

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Dia Mundial sem Tabaco – 31 de maio de 2022. Disponível em: https://www.paho.org/pt/campaigns/world-no-tobacco-day-2022.

NOTA PÚBLICA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA

A Associação Médica Brasileira, através da sua Comissão de Combate ao Tabagismo vêm a público rejeitar a proposta do Deputado Federal Kim Kataguiri (SP), que em rede social, se posiciona favoravelmente à liberação do uso dos cigarros eletrônicos no Brasil e relata ter apresentado um Projeto de Lei neste sentido.

A Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (RDC – ANVISA) Nº 46 de 28/08/2009 proíbe a comercialização, importação e propaganda de quaisquer Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) no Brasil, como cigarros eletrônicos e outros, especialmente os que aleguem substituir os cigarros e demais produtos convencionais do tabaco ou objetivem alternativas ao tratamento do tabagismo1.

Apesar da proibição, o percentual de experimentação e uso dos referidos dispositivos vem aumentando significativamente no país, como mostram os resultados de algumas pesquisas. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019 (PeNSE, 2019) mostrou que 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico (sendo 13,6% nos de 13 a 15 anos de idade e 22,7% nos de 16 e 17 anos) e o consumo nos 30 dias anteriores à pesquisa foi de 2,8%2. Na Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (PNS, 2019), a prevalência atual do uso dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar entre indivíduos de 15 anos ou mais foi de 0,64% (cerca de 1 milhão de indivíduos), sendo aproximadamente 70% na faixa etária entre 15 e 24 anos de idade3.

A maioria absoluta dos DEFs contém nicotina – a droga psicoativa responsável pela dependência química. Nos cigarros eletrônicos, ela se apresenta sob a forma líquida, com forte poder adictivo, ao lado de solventes (propilenoglicol ou glicerol), água, flavorizantes (cerca de 16 mil tipos), aromatizantes e substâncias destinadas a produzir um vapor mais suave para facilitar a tragada e a absorção pelo trato respiratório. Foram identificadas, até o momento, cerca de 80 substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígenas4,5,6.

O cigarro eletrônico em forma de pendrive e com USB entrega nicotina na forma de “sal de nicotina”, algo que se assemelha à estrutura natural da nicotina encontrada nas folhas de tabaco, facilitando sua inalação por períodos maiores, sem ocasionar desconforto ao usuário 5.
Em 2018, os fabricantes do cigarro eletrônico no formato de pendrive lançaram no mercado dispositivos para recarga dos cartuchos – os “pods” com concentrações entre 3% a 5% de nicotina7 . Cada pod do cigarro eletrônico no formato de pendrive contêm 0,7 ml de e-líquido com nicotina, possibilitando 200 tragadas, similar portanto, ao número de tragadas de um fumante de 20 cigarros convencionais. Ou seja, podemos afirmar que vaporizar um pendrive equivale a fumar 20 cigarros (1 maço).

Além da nicotina, os pods também contêm uma mistura de glicerol, propilenoglicol, ácido benzoico e flavorizantes 8 . Eles podem ser manipulados e preenchidos com outras substâncias como o tetrahidrocanabinol (THC) – principal substância psicoativa da maconha.

Uma metanálise e revisão sistemática, publicada em 2020, demonstrou que o uso de cigarros eletrônicos aumentou em quase três vezes e meia o risco de experimentação do cigarro convencional e em mais de quatro vezes o risco de tabagismo9. Estudos epidemiológicos em vários países mostram que o uso concomitante dos DEFs com os cigarros convencionais é muito comum (uso dual)10.

Entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020, ocorreu um surto de doença pulmonar aguda ou subaguda grave denominada EVALI (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), em usuários de cigarros eletrônicos (jovens em sua maioria), tendo sido notificados 2.807 casos nos EUA, com 68 mortes confirmadas11.

O Deputado Kim Kataguiri não considera justificativa para a proibição o fato desses dispositivos fazerem mal à saúde pois, segundo suas palavras, “os indivíduos devem ter liberdade para determinar a sua vida e a sua própria saúde”. Além disso, alega que estudos científicos, especialmente os do sistema de saúde inglês, demonstram que os cigarros eletrônicos são mais saudáveis do que os cigarros convencionais.

Como falar em liberdade com o uso de uma droga psicoativa pesada como a nicotina, que torna a maioria de seus dependentes cativos da indústria do tabaco pelo resto de suas vidas e os levará ao adoecimento e morte prematura? Esta indústria perversa agora demoniza o outrora glamourizado cigarro convencional e vem afirmando que os DEFs são úteis na tentativa de cessação do tabagismo ou na redução do consumo de cigarros – a chamada Redução de Danos.

Em seu informe de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou não haver suficientes evidências científicas independentes para respaldar o uso dos cigarros eletrônicos como uma intervenção para a cessação do tabagismo em nível populacional ou para ajudar as pessoas a deixarem o consumo convencional do tabaco e assinalou que estes produtos são indubitavelmente maléficos. O mesmo informe concluiu também que as evidências não mostram que os produtos do tabaco aquecido reduzirão as doenças relacionadas ao tabaco12.

A União Internacional contra a Tuberculose e Enfermidades Respiratórias (The UNION),em sua 4ª declaração sobre os cigarros eletrônicos, publicada em 2020, coloca-se de acordo com a posição da OMS e ressalta a importância da divulgação do impacto dos DEFs na saúde pública, não só nos países de alta renda mas também naqueles de média e baixa renda, onde estão sendo introduzidos e comercializados de forma agressiva, geralmente com pouco ou nenhum marco regulatório e onde os jovens são particularmente vulneráveis. Por estas razões, a entidade recomenda que sejam adotadas políticas de proibição de vendas, que são protetoras e preventivas13.

Os interesses da saúde pública e os interesses da indústria são irreconciliáveis e a relação deve ser pautada pelos ditames da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, o 1º Tratado Internacional de Saúde Pública da História da Humanidade, cujo objetivo principal é preservar as gerações, presentes e futuras, das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas do consumo e da exposição à fumaça do tabaco14. Este tratado foi elaborado sob os auspícios da OMS, assinado pelo Brasil em 16/06/2003, ratificado pelo Congresso Nacional em 27/10/2005 e pelo Presidente da República em 03/11/2005 em vigor no Brasil desde 01/02/2006 como política pública de Estado.

A AMB e suas sociedades afiliadas apoiam a manutenção da RDC ANVISA n.46/2009 da ANVISA, que sabiamente contempla todos os dispositivos eletrônicos para fumar com o objetivo de impedir a propagação do uso desses produtos, especialmente para a juventude, como forma de mudar este cenário cruel e inexorável de adoecimento, sequelas e mortes causado pelo tabaco, nas suas mais diversas formas e disfarces para consumo.


REFERÊNCIAS

  1. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Resolução RDC n. 46, de 28 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 de ago. 2009.
  2. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar : 2019 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. – Rio de Janeiro : IBGE, 2021. 162 p. : il.
  3. Pesquisa Nacional de Saúde : 2019 : Percepção do Estado de Saúde, Estilos de Vida, Doenças Crônicas e Saúde Bucal : Brasil e
    grandes regiões / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento.
    (- Rio de Janeiro : IBGE, 2020. 113p.
  4. Ministério da Saúde. INCA/ANVISA. Cigarros eletrônicos: o que sabemos. 2016
  5. Ministério da Saúde. INCA. Alerta do Instituto Nacional de câncer José Alencar Gomes da Silva – INCA – sobre os riscos dos dispositivos eletrônicos para fumar
  6. WHO report on the global tobacco epidemic 2021: addressing new and emerging products
  7. Romberg AR, Miller Lo EJ, Cuccia AF, Willett JG, Xiao H, Hair EC, et al. Patterns of nicotine concentrations in electronic cigarettes sold in the United States, 2013-2018. Drug and Alcohol Dependence. 2019;203:1-7. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0376871619302571
  8. What is JUUL Vape Juice? | Learn about JUUL pods Flavors | JUUL [Internet]. Disponível em: https://www.juul.com/resources/What-is-JUUL-Vape-Juice-All-JUUL-PodFlavors
  9. Barufaldi LA, Guerra RL, Albuquerque RCR, et al. Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos: revisão sistemática e metanálise. Cien Saude Colet internet. Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/risco-de-iniciacao-ao-tabagismo-com-o-uso-de-cigarros- eletronicos-revisao-sistematica-e-metaanalise/17801?id=17801&id=17801.
  10. Grana et al. E-Cigarettes A Scientific Review. Circulation. May 13, 2014
  11. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Outbreak of Lung Injury Associated with the Use of E-Cigarette, or Vaping, Products. Updated February 25, 2020. https://www.cdc.gov/tobacco/basic_information/e-cigarettes/severe-lung-disease.html.
  12. WHO Report on the Global Tobacco Epidemic, 2019.
  13. Unión Internacional Contra la Tuberculosis y Enfermedades Respiratórias – The Union Org. Soluciones de salud para los pobres. Cuando prohibir es lo mejor. Por qué los países de ingresos medios y bajos deben prohibir la venta de cigarrillos electrónicos y productos de tabaco calentados para combatir verdaderamente el consumo de tabaco. Documento de posición actualizado, 2020.
  14. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Convenção – Quadro para o Controle do Tabaco; Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2011. 58 p.

Coletiva Tabagismo

Na segunda-feira (31/05) é Dia Mundial Sem Tabaco. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) fará uma reunião entre médicos e jornalistas para explicar como funciona o tratamento do tabagismo, falar sobre o papel do especialista no processo de parar de fumar, explicar sobre as doenças relacionadas ao uso do tabaco e demais assuntos relacionados. 


Coletiva de imprensa – Dia Mundial Sem Tabaco

Coletiva de imprensa Tabagismo & Covid – Assista na íntegra

Lançamento da Campanha Novos Produtos, Velhos Problemas para o Dia Mundial Sem Tabaco



A Associação Médica Brasileira, a ACT Promoção da Saúde, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Fundação do Câncer promoveram hoje, 26 de maio, às 10h30, coletiva à imprensa para detalhar novidades relacionadas ao tabagismo e a Covid-19, os riscos do momento e ameaças negacionistas, além de recomendações aos médicos brasileiros e aos cidadãos.

Também foi anunciada, em primeira mão aos jornalistas, campanha de mídia para alertar e conscientizar os brasileiros sobre os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), categoria que engloba os cigarros eletrônicos, de tabaco aquecido, vaporizadores e outros.

Visitar o site

Durante a coletiva, as entidades apresentaram uma Carta ao Brasil, apontando os entraves em níveis de estado para o avanço das políticas antitabagismo em anos recentes, desafios político-institucionais e jurídicos atuais e as ações previstas para superá-los.  

Carta ao Brasil

O Dia Mundial sem Tabaco – 31 de maio foi criado em 1987 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com a finalidade de alertar a população mundial e as autoridades sanitárias dos países sobre os malefícios do tabagismo ativo e passivo, bem como para desencorajar o uso do tabaco em qualquer uma de suas formas.

O tabagismo é considerado uma doença crônica causada pela dependência à droga nicotina presente nos produtos derivados do tabaco. É a maior causa evitável de doença e morte no mundo de acordo com a OMS. Anualmente, morrem mais de 8 milhões de pessoas, sendo que mais de 7 milhões dos óbitos são atribuíveis ao tabagismo ativo e 1,2 milhão ao tabagismo passivo. No Brasil, são estimadas cerca de 156 mil mortes anuais (428 mortes por dia) devido ao tabagismo.

Os produtos do tabaco são consumidos de diversas formas (fumado, inalado, aspirado, mascado ou absorvido pela mucosa oral). No Brasil, predomina o uso do tabaco fumado. Os produtos derivados da combustão do tabaco contêm aproximadamente 7 mil substâncias tóxicas que são responsáveis direta ou indiretamente por cerca de 55 doenças. Entre estas, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) – doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, doenças respiratórias crônicas, câncer e diabetes – são responsáveis por 7 entre cada 10 mortes prematuras no mundo.

A exposição de adultos não-fumantes à poluição do ambiente causada pela fumaça ou vapor do tabaco (tabagismo passivo) aumenta as chances de apresentarem as mesmas doenças dos fumantes. As crianças têm maior risco de infecções respiratórias, otites de repetição, asma brônquica, perda da função pulmonar e morte nos primeiros anos de vida, além de câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica na vida adulta. As gestantes que fumam têm risco aumentado de complicações da gravidez (abortos, partos prematuros, descolamento prematuro da placenta) e de danos para o bebê, como baixo peso ao nascimento, morte súbita infantil e comprometimento da inteligência e do comportamento, com dificuldade de aprendizagem escolar.

TABAGISMO E COVID-19

Desde o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, diversos estudos seguem em andamento. Diversos têm demonstrado que fumantes de qualquer produto derivado do tabaco têm uma chance 2 a 3 vezes maior de desenvolver a COVID-19 em suas formas mais graves, que podem culminar com a morte, pois já podem apresentar redução da capacidade pulmonar, alterações ou mesmo doenças pulmonares crônicas já instaladas, doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, todas essas relacionadas ao tabagismo.

O tabagismo aumenta o risco de infecções causadas por bactérias, vírus e fungos, pois altera a estrutura do sistema respiratório, causa inflamação, promove a elevação da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) – enzima que se comporta como receptor do novo coronavírus, aumentando a carga viral – e reduz a resposta local de defesa do sistema respiratório, bem como das células que compõem o sistema imunológico do organismo (resposta imune). Os fumantes apresentam baixa oxigenação dos tecidos, alterações dos vasos sanguíneos e um estado de hipercoagulação, que os predispõem à trombose, o que pode ocorrer também na COVID-19. O ato de fumar pode favorecer a transmissão da COVID-19, através dos movimentos repetidos mão-boca (cerca de 200 por dia, nos fumantes de 1 maço diário), sem a adequada higienização das mãos e com cigarros contaminados, bem como através da eliminação de aerossóis no ambiente, o que ocorre com os cigarros eletrônicos, cigarros de tabaco aquecido e narguilés. Nestes últimos, há também aumento do risco de transmissão da doença pelo compartilhamento de piteiras e mangueiras e pela preparação e limpeza inadequadas do dispositivo e seus acessórios. A tosse frequente dos usuários durante o uso, a umidade da fumaça do tabaco e o recipiente com água fria do narguilé possibilitam a sobrevivência de microrganismos dentro das mangueiras. Geralmente o uso do narguilé é realizado em grupos e as sessões têm a duração de 45 a 60 minutos, promovendo, portanto, aglomeração, o que sabidamente também aumenta o risco de transmissão do novo coronavírus.

 “Comprometa-se a parar de fumar durante a PANDEMIA DA Covid-19”

Este é o tema definido pela OMS para o Dia Mundial sem Tabaco de 2021, tendo em vista a forte interação entre os fatores de risco do tabagismo e da COVID-19. Portanto, é fundamental que os médicos e demais profissionais de saúde encorajem, motivem e apoiem os fumantes a interromper o tabagismo.

De 1,3 bilhão de usuários de tabaco em todo o mundo, 60% expressam o desejo de parar de fumar, mas apenas 30% têm acesso às ferramentas para ajudá-los a ter sucesso.

A OMS listou 103 razões para parar de fumar, como forma de mobilizar, motivar, sensibilizar e encorajar os tabagistas a deixarem o fumo. São previstas ações de fortalecimento e ampliação do acesso aos serviços de cessação, aumento da conscientização sobre as táticas da indústria do tabaco e empoderamento dos fumantes para conseguirem vencer o tabagismo, através da criação de comunidades digitais, onde as pessoas podem encontrar o apoio social de que precisam para parar de fumar.

No Brasil, o tema do Dia Mundial sem Tabaco vai ser divulgado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) para alertar a população sobre o uso de produtos fumígenos como fator de risco para a transmissão do SARS-CoV-2 e para o desenvolvimento de formas mais graves de COVID-19, incentivando os fumantes a pararem de fumar e desestimulando a iniciação no consumo de produtos do tabaco por crianças, jovens e adolescentes.

Nas situações de dificuldade de comparecimento dos usuários para o tratamento presencial nas unidades de saúde, em consequência da pandemia, será recomendado o tratamento dos fumantes a distância. Através de parceria entre a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o INCA e a Associação Médica Brasileira (AMB), foram elaborados 9 vídeos curtos de aconselhamento para a cessação do tabagismo e a prevenção de recaídas, no formato de história em quadrinhos, que devem ser amplamente divulgados para a população.Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira