NK Consultores – Um em cada três brasileiros com mais de 50 anos sofre de algum tipo de dor crônica – e quase um terço desse grupo utiliza opioides para aliviar o desconforto, índice visto como preocupante pelo Ministério da Saúde e por especialistas pelo alto potencial que essa classe de medicamentos tem em causar dependência, destacou matéria do Estado de S. Paulo. Diante do cenário, o órgão federal prepara novo protocolo de tratamento para a dor crônica no Sistema Único de Saúde (SUS) para trazer alternativas ao uso desses remédios. Os dados de prevalência da dor crônica e do uso de opioides fazem parte do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI-Brasil), coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e financiado pelo ministério. A pesquisa acompanha mais de 10 mil brasileiros com mais de 50 anos em 70 municípios brasileiros. O trabalho com os dados específicos sobre dor crônica, publicado no periódico Lancet Regional Health – Americas, mostra que 36,9% dos brasileiros na faixa etária analisada sofrem do problema, mas que esse índice é maior em alguns grupos. “O índice geral é semelhante ao observado na maioria dos países de média e alta renda, mas é importante salientar que, entre os brasileiros, a prevalência da dor crônica foi substancialmente mais alta entre aqueles com nível mais baixo de escolaridade e com menor renda per capita”, destaca Maria Fernanda Lima-Costa, pesquisadora da Fiocruz e da UFMG e coordenadora do Elsi-Brasil. Em relação à escolaridade, esse índice de prevalência varia de 29% entre aqueles com 12 anos ou mais de escolaridade a 40% entre aqueles com 0 a 4 anos de estudo. Já com relação à renda, a prevalência vai de 28% entre o quinto mais rico a 46% entre o quinto mais pobre da população. Há prevalência maior também entre mulheres – 42% no grupo feminino contra 31% entre os homens. Essa tendência se repete em outros países, mas os pesquisadores ainda não sabem as razões dessa disparidade.De acordo com Maria Fernanda, as principais causas de dores crônicas são artrite, problemas na coluna e quedas. A pesquisadora diz que, hoje, os principais tratamentos para a dor crônica são uso de analgésicos, inclusive opioides, e fisioterapia, mas destaca que o uso desse tipo de medicamento deve ser feito com cautela. “Existem indicações clínicas para o uso de opioides. Mas seu uso inadequado é uma das maiores preocupações para a saúde pública. Nossos resultados chamam a atenção para a necessidade de vigilância no seu uso. O uso de opioides tem sido monitorado em países de alta renda. Trata-se de um problema emergente em países de média renda como o Brasil”, afirma. Para evitar que o uso inadequado cresça no Brasil, pesquisadores e o Ministério da Saúde defendem uma ampliação das opções terapêuticas no SUS e promoção de ações de prevenção das dores crônicas. Para enfrentar o problema, o Ministério da Saúde diz apostar em maior investimento em equipes multidisciplinares na atenção primária, que contem, por exemplo, com fisioterapeutas. De acordo com a pasta, foram investidos R$ 870 milhões neste ano para que Estados e municípios investissem em equipes com diferentes profissionais. Será repassado mais R$ 1,8 bilhão no ano que vem para esse mesmo programa. Além disso, o ministério trabalha em um protocolo mais abrangente com terapias complementares para o manejo da dor, segundo Nésio Fernandes, secretário de Atenção Primária à Saúde. Para acessar a matéria completa, clique aqui.