Brasília, urgente

ANS debate sobre os desafios na integração da Atenção Primária à Saúde

Nesta terça-feira (08), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) promoveu live para debater o tema “Atenção Primária na Saúde Suplementar: Desafios na Integração com as demais especialidades”. O evento foi uma iniciativa do Projeto Cuidado Integral à Saúde, desenvolvido pela ANS em colaboração com o Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), o Institute for HealthCare Improvement (IHI) e a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

Ana Paula Cavalcante, representante da Agência Nacional de Saúde Suplementar, comentou que o Projeto de Cuidado Integral à Saúde é uma fase preparatória para a solicitação da Certificação em Atenção Primária à Saúde (APS) e tem como objetivo subsidiar a implantação de projetos-piloto em APS na saúde suplementar e fortalecer a rede de cuidados.

Passando a fase de foco nas questões do equilíbrio econômico-financeiro das operadoras, das coberturas mínimas, passa-se à etapa de qualificação da rede de atenção e de avaliação dos resultados em saúde. Segundo ela, a ANS, no quesito modelo de atenção, pretende induzir práticas e modelos assistenciais capazes de promover a saúde e prevenir riscos e doenças; estimular a adoção de Boas Prática por meio de Certificações e Acreditações Avaliação e Monitoramento da qualidade assistencial por meio de indicadores; estimular o uso racional e adequado de procedimentos para a garantia de melhores resultados em saúde e da sustentabilidade do setor.

Ressaltou que o modelo atual da suplementar é fragmentado, ineficiente e desarticulado; tem foco na produção sem continuidade do cuidado coordenado; no qual o médico é centrado e hospitalocêntrico; e não possui avaliação e indicadores de qualidade. Nesse sentido, o modelo de cuidado exige uma mudança de cultura de todos os atores, não se tratando de um programa isolado que busque conhecer o perfil sócio demográfico e epidemiológico.

Dentre os objetivos específicos, Ana Paula Cavalcante destacou a ampliação o acesso a médicos generalistas na rede de cuidados primários da saúde suplementar; a ampliação da vinculação de pacientes com condições crônicas complexes a Coordenadores do cuidado; a redução das idas desnecessárias à unidades de urgência e emergência; a redução das internações por condições sensíveis à atenção primária (ICSAP); a ampliação do número de médicos generalistas (Médico de Família e Comunidade ou Clínico Geral) por beneficiário; e a ampliação da proporção de pessoas que faz uso regular de um mesmo serviço de saúde. Também fala da prática de telemedicina e telessaúde. 

O moderador Eno Dias de Castro Filho, coordenador do Projeto Cuidado Integral pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), comentou que a atenção primária é internacionalmente reconhecida pela sua capacidade de melhorar os desfechos em saúde e a eficiência do sistema; sobre o respeito e a interoperabilidade entre os atores dentro da saúde suplementar; sobre a necessidade de modelos inovadores; entre outros pontos.

Rob Janet,  professor assistente de medicina na Harvard Medical School, falou que comparado a outras entidades mundiais, o Brasil está atrasado na implementação da APS. Entretanto, para ele, o país está andando a um nível importante e adequado. Destaca erros principais no processo de implementação da APS robusta, centrada no paciente e integrada, como a ausência de integração forte com outros especialistas, com hospitais e a falta de reflexão na integração das estruturas e funções que podem ajudar na transferência da informação, dos pacientes e dos planos de cuidados para esses pacientes.

Enfatiza a necessidade de focar nos objetivos, metas e valores  do paciente; ele deve ser o centro de interesse do sistema. Rob Janet ressaltou que se os objetivos da APS forem econômicos e financeiros, será um desapontamento a longo prazo; o sistema atual não é sustentável; a alta inflação no sistema suplementar é insustentável; e os resultados de qualidade são inadequados. Além disso, argumentou sobre a importância dos especialistas capazes de prestar o serviço com qualidade, resolutividade e eficiência no sucesso da APS.

O professor comentou ainda que, para superar um sistema tradicional fragmentado, é preciso, primeiramente, pensar na gestão de transição dos pacientes, dos médicos da APS, dos especialistas, dos hospitais e das comunidades; na gestão da remuneração; em integrações verticais e horizontais entre os agentes e entidades; e na coordenação das entidades de saúde.


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