Brasília, urgente

 Atual cenário do câncer é debatido na 4º edição do Diálogo com Saúde

NK Consultores – A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados recebeu, nesta quarta-feira (24), o Médico Oncologista, especialista em Tumores Urológicos e Torácicos, Dr. Igor Morbeck, na 4º edição do Diálogo com Saúde, para falar sobre o cenário atual do câncer. O evento foi solicitado pela deputada Silvia Cristina (PL-RO) e presidido pelo deputado Weliton Prado (PDT-GO).

Incidências

Igor Morbeck apresentou dados da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) de que, em 2020, ocorreram cerca de 19,3 milhões de novos casos de câncer em todo o mundo. Desses, os mais incidentes são os cânceres de pulmão, mama, colorretal, próstata e de estômago. De acordo com ele, os cânceres de mama e próstata são diagnosticados em fase precoce, já que demoram para avançar. Por outro lado, para os casos de câncer de pulmão, 70% dos pacientes realizam diagnóstico tardio, o que inviabiliza o tratamento. 

Conforme o oncologista, dados do Inca estimaram cerca de 625 mil novos casos de câncer por ano no Brasil, entre 2020 e 2022. Já para o triênio de 2023-2025, é previsto que sejam diagnosticados 704 mil casos da doença por ano no Brasil. Desses, 70% dos casos estão previstos para as regiões Sul e Sudeste. Segundo Igor, o câncer de próstata é predominante em todas as regiões, totalizando 72 mil casos novos estumados a cada ano. Porém, é mais incidente nas regiões Norte e Nordeste. Quanto ao câncer de mama, ele explicou que é o mais incidente com 74 mil novos casos previstos por ano até 2025. Já o câncer colorretal, informou ele, é o segundo mais incidente seguido do Câncer de Pulmão no sexo masculino e do colo uterino no sexo feminino. 

Quanto às causas dos cânceres, ele explicou que a carga genética acumulada ao longe de gerações, associada aos hábitos de vida e consumos, é favorável ao aparecimento de tumores e mutações. Causas como a obesidade, sedentarismo, incidência de radiação ultravioleta associado a hábitos como bebidas alcoólicas e tabagismo, além da exposição a vírus oncogênicos, são os principais vilões para o aparecimento do câncer.

Para combater a doença, ele disse que a realização do diagnóstico precoce é fundamental, já que possibilita a cura. Defendeu os programas de rastreamento e as campanhas de conscientização da população para promover esse diagnóstico. 

De acordo com ele, o sistema de saúde precisa prover acesso adequado para que os pacientes possam realizar os exames. Quanto ao tratamento, explicou que a tecnologia está avançando, mas atrelada a um custo multo alto, o que dificulta o acesso dos pacientes. Por isso, defendeu que sejam estabelecidas políticas racionais com custo-efetividade que garantam sobrevida para a população. Sobre a prevenção, ele ressaltou que nem todos os cânceres são passíveis de prevenção, dando destaque ao de próstata e de mama. Sobretudo, disse que é possível evitar o aparecimento de inúmeros tumores, evitando que o paciente tenha contato com fatores de riscos. Defendeu, ainda, o investimento em pesquisa clínica, sob a justificativa de que é essencial para melhorar a compreensão do câncer, desenvolver tratamentos mais eficazes e encontrar estratégias de prevenção mais avançadas. 

Ele destacou dados da OMS de que o número de novos casos de cânceres daqui a duas décadas passará de 19,3 milhões para 30 milhões no mundo. Por isso, defendeu mais investimento, diagnóstico precoce, tecnologia, pesquisa e inovação. 

Barreiras

O oncologista citou estudo realizado que demonstra que pacientes precisam se deslocar por muitos quilômetros para realizar o tratamento. Outro ponto mencionado por ele foi que o acesso dos pacientes ao SUS não é equânime. Estudo apresentado por ele, em que foi analisado o tratamento realizado no SUS e na saúde suplementar, demonstrou que grande número de pessoas estava recebendo tratamento diferente das diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

De acordo com ele, existem vários cenários em que a Conitec deveria prover recursos para determinada população. Disse que a imunoterapia é a melhor arma já disponível para tratar o câncer, mas que é uma realidade somente para os usuários de plano de saúde. Como exemplo do benefício da tecnologia, ele mencionou seu uso para o tratamento de melanoma, que é uma doença agressiva e não tinha tratamento adequado. Por isso, ele defendeu que o tratamento seja ofertado no SUS.  

Outra preocupação mencionada por ele é o enfrentamento aos cânceres de pulmão e de colo de útero. No que tange ao câncer de pulmão, ele disse que é um dos maiores obstáculos a ser enfrentado, o qual o diagnóstico é realizado de forma tardia. Mencionou dados de estudo de que 80% dos pacientes que buscam no SUS para atendimento de câncer de pulmão já chegam com sintomas. Já na rede privada, o percentual é de 47%. Outra comparação apresentada por ele foi a mediana dos pacientes com câncer de pulmão diagnosticado em estágio avançado, sendo que no SUS foi de 12 meses e na saúde suplementar, 24 meses. 

O Câncer de Colo Uterino também recebeu destaque na apresentação. Segundo Morbeck, se estivesse ocorrendo a implementação de maneira adequada das políticas de prevenção da doença, por meio da vacina HPV, o número de novos casos seria reduzido. Para ele, a vacinação é a melhor e a principal arma para evitar a doença. Mostrou estudo que após a introdução do Programa Nacional de Imunização para a população com HPV, em adolescentes entre 9 a 14 anos, ocorreu uma baixa taxa de adesão por parte dessa população. Para ele, isso ocorre devido à falta de entendimento sobre a importância da prevenção. 

Por fim, mencionou que outro obstáculo enfrentado pelos pacientes, de acordo com ele, é a falta de acesso ao tratamento com novas tecnologias. Explicou que mesmo quando é aprovada a inclusão da tecnologia no SUS, não ocorre a atualização da Apac, o que faz com que o gestor não compre o medicamento, o que acaba inviabilizando o acesso do paciente. 

A deputada Flávia Morais (PDT-G) pediu o posicionamento do oncologista sobre o projeto de lei, apresentado por ela, que pretende rastrear o câncer colorretal, cuja a incidência está alta. Ela relatou que o projeto foi criticado por um setor médico, mas a deputado entende que o rastreamento da doença seja positivo. Em resposta, Morbeck defendeu o rastreamento da doença, alegando que é mais eficiente, visto que reduz o custo e desonera o serviço de saúde, principalmente no setor terciário.  

Por fim, o presidente da Comissão Especial de Combate ao Câncer, deputado Weliton Prado (Solidariedade-MG), defendeu a conscientização da importância da vacinação das escolas e a exigência do cartão de vacinação. Também elogiou a Lei dos 60 dias, que viabiliza o acesso ao tratamento de forma mais célere. Defendeu, ainda, a aprovação do Fundo Nacional de Enfrentamento ao Câncer, para financiar as ações de tratamento aos pacientes.


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