Brasília, urgente

Audiência pública debate sobre o abandono de mulheres por seus parceiros durante tratamento contra câncer

NK Consultores – Em audiência pública realizada na terça-feira (28), a Comissão Especial da Câmara dos Deputados que acompanha o Combate ao Câncer no Brasil debateu sobre os casos de abandono conjugal após o diagnóstico da doença.

O debate foi proposto pela deputada Laura Carneiro (PSD-RJ). A deputada destacou que esse abandono gera um abalo psicológico relevante e que pode inclusive alterar o curso e o sucesso das terapias.

O presidente da Comissão Especial, deputado Weliton Prado (Solidariedade-MG), elogiou a iniciativa da deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) e destacou a importância de debater o tema, pois é uma verdadeira covardia o abandono dessas mulheres e é necessário conscientizar, fazer campanhas. “A gente vê que na saúde do homem quem é responsável é a mulher, por que o homem não procura o médico, homem só vai no médico quando não aguenta mais de dor, e inclusive o homem tem a expectativa de vida de 7 anos, no mínimo, a menos que as mulheres, aqui no Distrito Federal em torno de 10 anos, por que não fazem seus exames e só vão quando não aguentam mais de dor E é a mulher que o leva arrastado, a mulher que é responsável ainda de salvar a vida dos homens, e quando é o contrário, quando a mulher se encontra com o diagnóstico de câncer, em 70% dos casos são abandonadas. Isso é realmente uma covardia, isso tem que mudar, a gente tem que fazer campanhas educativas”, enfatizou.

Fernanda Chahin Bali de Aguiar, idealizadora do projeto Mamas do Amor, destacou que todos nós sabemos que não é fácil receber a notícia de estar com câncer. Afeta inclusive todos ao nosso redor, como os familiares, amigos e colegas de trabalho. Para ela, o governo deve oferecer serviços de apoio psicológico e psiquiátrico para as mulheres que sofreram abandono, além disso fazerem um acompanhamento para adaptação e aceitação dos seus cônjuges e familiares, diminuindo o estresse e a insegurança que esta fase causa, explicando com clareza todo caminho a ser percorrido por todos os familiares e amigos até a cura dessa paciente. “O Ministério da Saúde precisa urgentemente oferecer um canal de atendimento para maridos, companheiros, familiares e acompanhantes das pacientes para que eles possam esclarecer as suas dúvidas e solicitar ajuda quando for preciso”, completou.

Para ela, a mulher acometida com câncer precisa de dedicação dos médicos e tratamento adequado, acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, compreensão, amor e dedicação da família durante o período do tratamento, precisa ainda da compreensão dos colegas de trabalho e de seus gestores e relacionamentos saudáveis e muito respeito. “São coisas óbvias mas não fáceis, sendo assim, são realizadas para uma pouquíssima percentagem de mulheres”, finalizou.

Mariana Robrahn, da Organização não Governamental Cabelegria, disse que 7 em cada 10 mulheres que passam por tratamento oncológico são abandonadas pelos seus parceiros. “Muitas mulheres que atendemos foram abandonadas pelos seus maridos, então a gente trabalha muito a relação da autoestima também, porque imagina para uma mulher que descobriu um diagnóstico de câncer, vai passar por todos os processos da quimioterapia que podem deixar cicatrizes, muitas vezes essas mulheres são mastectomizadas, têm a perda do cabelo, além de todos esses processos ainda serem abandonadas pelo seu marido, isso acaba com a autoestima de qualquer pessoa”, relatou.

Disse ainda, que a ONG trabalha muito com essas mulheres que chegam querendo o resgate dessa autoestima. Segundo ela, através do resgate da autoestima dessas pacientes a gente consegue acolher, para que elas passem por todo esse processo de tratamento de uma maneira um pouco mais branda. “No atendimento a gente brinca um pouco, aconselhamos não só sobre a doação da peruca, mas também a importância dela buscar uma rede de apoio diferenciada. Então se ela não tem naquele momento a rede de apoio do parceiro ou do marido dela, que ela busque essa rede de apoio em algum familiar, que ela busque essa rede de apoio com os amigos, para que ela possa esta amparada nesse momento, para passar essas dificuldades com autoestima mais elevada, pois segundo dados do Inca, o abandono mexendo com a autoestima dessa paciente, mexe diretamente com o tratamento dela também, então é muito importante a gente ressaltar essa discussão de como que a gente, organizações da sociedade civil, o poder público, conseguem amparar essas pacientes”, enfatizou.

Regina Vidal, assessora técnica da Coordenação-Geral de Prevenção e Controle do Câncer (CGCAN/SAES) do Ministério da Saúde, ressalta a importância da equipe multidisciplinar, não só para o manejo da doença, mas também para o apoio psicológico. “O câncer não é uma doença que é tratada somente com um especialista, ele é tratado com vários especialistas, ele é tratado pelo mastologista que faz a cirurgia, ele é tratado pelo oncologista que indica a quimioterapia, indica a radioterapia, indica a hormonioterapia pelo radioterapeuta que vai fazer o tratamento local, pelo psicólogo e principalmente nas unidades básicas de saúde, o assistente social”, destacou.   

Para ela, lidar com uma população no âmbito do SUS, muitas vezes, tem muita dificuldade de acesso, uma população que não tem noção dos seus direitos, como direito a saque do FGTS, como direito a isenção do Imposto de Renda sobre proventos de aposentadoria. O tratamento para essas mulheres, não é só um tratamento de cirurgia, um tratamento de quimioterapia, de hormonioterapia ou de radioterapia, precisamos tratar ela como um todo, a cabeça, o corpo e principalmente a vida que essa mulher poderá seguir à frente. “Muitas mulheres vão na primeira consulta com seus esposos e depois elas não vão mais, e depois falam que o marido as abandonaram. A mulher com câncer vai passar por um tratamento, vai passar por uma cirurgia conservadora ou uma cirurgia radical, essa se vê sem sua mama que faz parte da sua libido, faz parte da sua sexualidade e faz parte também do contato com seu filho, porque através das mamas é onde ela pode amamentar, e dentro da cabeça dessa mulher que já tem que enfrentar um tratamento, que não é fácil, tem que enfrentar no dia a dia o abandono pelo seu companheiro. Precisamos pensar em políticas públicas, para que possamos cada vez mais apoiar essas mulheres”, finalizou. 


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