A Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas
com Deficiência (CPD) debateu em Audiência Pública realizada nesta terça-feira
(12) sobre o Requerimento nº 19/2022-CPD, que propõe a elaboração de protocolo
terapêutico para a Doença de Batten (CLN2). A audiência foi coordenada pelo
autor do requerimento, o deputado Cássio Andrade (PSB-PA).
Bruno Alex Marinho Araujo, representante dos
familiares de pacientes, explicou que os sintomas da Doença de Batten, como
crises convulsivas e perda da capacidade de movimento, iniciam-se nas crianças
por volta da faixa etária de três anos, salientando o rápido avanço da doença.
Pai de uma criança diagnosticada com a doença, Bruno relata que conseguiu
acesso à medicação para o filho através de uma autorização judicial,
ressaltando a demora do processo e o quão é prejudicial essa espera para a
saúde das crianças, uma vez que a doença avança rapidamente. O representante
aborda como seu filho reagiu bem ao tratamento, o qual em um curto período de
tempo obteve melhoras significativas em seu quadro. Desta forma, defende a
elaboração do protocolo terapêutico para a doença, ressaltando seu desejo de
que seja amplo à população, para que, assim, todas as crianças tenham acesso ao
tratamento. Além disso, ressalta que com a incorporação da medicação ao Sistema
Único de Saúde (SUS), espera-se que o acesso seja mais rápido e, assim, o
tratamento ficará mais efetivo, salvando diversas vidas.
O autor do requerimento, deputado Cássio
Andrade, realiza uma breve fala apoiando a causa, ressaltando sua importância.
Além disso, aponta os elevados preços das medicações que tratam de doenças
raras, visto a pequena quantidade de medicamentos produzidos pelas indústrias
farmacêuticas. Sendo assim, salienta que é função do governo possibilitar que
todos tenham acessos a essas medicações.
A doutora Carolina Fishinger Moura de Souza, médica
geneticista, inicia sua fala apontando que o tema é extremamente relevante,
ressaltando o grande marco para a saúde pública a incorporação do medicamento
que trata a Doença de Batten no SUS. A médica salienta a essencialidade de
monitoramento após a elaboração do protocolo, uma vez que o tratamento exige o
uso de determinados equipamentos médicos específicos, treinamento técnico das
equipes em relação a aplicação e o cuidado clínico do paciente, uma vez que o
tratamento também envolve fisioterapias, terapia ocupacional, entre outros.
A doutora Elisa Sobreira, representante da
indústria fabricante do fármaco, explica que a CLN2 ocorre por conta da
deficiência da enzima lisossômica TPP1, gerando acúmulo de material dentro das
células do sistema nervoso, ocasionando a evolução neurológica da doença. Além
disso, ressalta a necessidade do diagnóstico ser o quanto antes possível. A
doutora aponta a importância do tratamento com a medicação “Brineura” para uma
significativa melhora da doença. Concluindo, destaca que a pesquisa sobre a
doença e seu tratamento é extremamente ampla, e, assim, servindo de embasamento
para a equipe que montará o protocolo.
Mônica Maria Vieira Aderaldo, representante da
Federação das Associações de Doenças Raras Norte, Nordeste e Centro Oeste
(Fedrann), inicia sua fala abordando a respeito da jornada desde o primeiro
diagnóstico no Brasil, em 2017, até o início do tratamento, apontando que
inicialmente ele ainda não estava disponível na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), mas que já estava no processo de ser submetido. A
representante ressalta que a Doença de Batten possui 14 tipos, e o único
possível de ser tratado é a CLN2. Continuando a relatar acerca da jornada para
o início do tratamento, aponta a formação de um grupo que reivindica pela
causa, abordando que iniciaram a luta em uma audiência pública onde conseguiram
começar o processo de incorporação desse tratamento. Também descreve alguns
sintomas da doença, como convulsão, por exemplo. Além disso, ressalta que o
protocolo deve ser muito abrangente, apontando que se o protocolo for baseado
em uma literatura científica dentro de uma escala bem rígida, muitos pacientes
ficarão sem tratamento. Concluindo, salientou a demora para a incorporação da
medicação, ressaltando o rápido avanço da doença, e, assim, solicitando ao
Ministério da Saúde um “feedback” para a sociedade em relação de como está o
andamento dessa incorporação.
Marta da Cunha Lobo Souto Maior, Tecnologista
Pleno em Políticas de Assistência Farmacêutica e Planos de Ação do Ministério
da Saúde, explica o fluxo de elaboração de Protocolos e Diretrizes, explicando
cada etapa para a elaboração do Protocolo, como recebimento da demanda, síntese
das evidências, reunião de recomendação, consulta pública, entre outros. A
tecnologista ressalta a importância de cada etapa que o processo necessita
seguir para que assim se tenha segurança de que o documento está contemplando
todas as necessidades e obedecendo as evidências científicas disponíveis. Além
disso, salienta que o processo de elaboração do PCDT já foi iniciado.
Klébya Hellen Dantas de Oliveira, consultora
técnica do Ministério da Saúde, faz uma breve fala apontando que está
disponível para tirar as dúvidas da mesa.
O deputado Cássio Andrade indica que há mais
convidados. O primeiro a falar, Rodrigo, da Sociedade Brasileira de Enfermagem,
questiona o tempo de diagnóstico, apontando que é a favor do diagnóstico
precoce. Além disso, solicita que no Congresso Nacional seja verificada a
legislação referente a CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no Sistema Único de Saúde), apontando que grande parte da população
não é escutada por essa comissão. A segunda convidada, Marlene Vieira, é
assistente social e representa a família dos pacientes, e assim, solicita que o
deputado não abrace a causa apenas dentro do plenário, mas também na
intermediação desses pacientes junto ao Ministério da Saúde.
Após as considerações finais, a audiência foi
encerrada.