Brasília, urgente

Comissão de Saúde realiza audiência pública sobre valorização do médico clínico geral

NK Consultores – A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados realizou audiência pública, nesta terça-feira (24), para debater a necessidade de valorização do médico clínico, que é aquele especializado em ter uma visão geral do organismo humano.

O debate foi solicitado pelo deputado Luiz Ovando (PP-MS), através do Requerimento 190/2023. Para o deputado, o médico é fundamental para a saúde física, mental e social da sociedade, no entanto, a prática médica resolutiva tem os seus alicerces no clínico o que, infelizmente, foi abandonado e negligenciado. “A valorização política do clínico é necessária, assim como a oferta de uma remuneração mais atrativa aos profissionais. Busca-se, portanto, estimular o médico a resgatar sua identidade profissional o que, infelizmente, está opaca e pouco definida’, concluiu o deputado.

Etelvino de Souza Trindade, vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), abordou o tema sobre a importância da relação médico paciente. Para ele, a arte da medicina é o resgate do doente como a peça alvo, como foco, e não da doença. “Nós precisamos da nossa audição que recolhe as queixas, a mão que toca, o gesto que afaga, o olhar que mantém a esperança, o sorriso que consola, a palavra que tranquiliza, a mente que elabora, isso não pode ser feito com nenhum recurso tecnológico, isso é humano, isso é a relação médico paciente”, enfatizou. Destacou ainda, que a medicina tem um tripé, é o tripé cognitivo, habilidades e atitudes. “O problema quando você fala relacionamento médico paciente é atitude, a atitude ela é aprendiz, ela consegue ser aprendida melhor com a presença dos instrutores perto, e está havendo uma série de problemas complexos, as faculdades são muitas e tem muito professor que são espécie de viajantes, de vez em quando vai lá. E a gente aprende a exercer a medicina, o contato com o paciente na observação dos nossos mestres. E o próprio governo se equivoca nisso, com a Lei do Mais Médicos, onde diz que quem fez o período integral dos quatro anos ganha um ano de residência médica na clínica, tá errado, ele vai aprender como a atitude? Como ele vai aprender o relacionamento com o paciente? se ele vai fazer sozinho. Se você aprende sozinho sem uma monitorização, você se perde”, criticou.         


De acordo com Eduardo Freire Vasconcellos, diretor de Editoração Científica da Associação Médica de Brasília (AMBR), o momento em que vivemos, é um momento de extrema preocupação, porque o país vive uma fase de transição e possivelmente vislumbra um prognóstico muito desanimador. “Época em que por mais paradoxal que possa parecer temos que defender o que é o pilar essencial da medicina que é a clínica médica. O exercício da Clínica Médica é nada mais do que o exercício da relação médico paciente, é a base do conhecimento”, disse. Para ele, a base do conhecimento médico é a clínica médica bem exercida. “A verdadeira democratização do acesso à medicina depende de valorizarmos o clínico, ações como essa fomentando o acesso à medicina de qualidade no Brasil pelo incremento técnico e humanista na formação do médico, não é aumentando o número de médico que vamos democratizar o acesso à medicina, é melhorando a formação do médico”, salientou.


Segundo Fábio Freire, diretor tesoureiro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), o clínico tem uma grande relevância no sistema de saúde como um todo. “O clínico é um grande orquestrador de todas as necessidades do paciente, é o médico de confiança”, destacou. Para ele, é muito importante a centralização do clínico e a valorização do profissional clínico. “Um profissional valorizado, um profissional com condição de receber o paciente adequadamente, acompanhá-lo, abraçá-lo, é fundamental para o sistema de saúde, ser o orquestrador desse paciente para que ele possa realmente se sentir acolhido. E com certeza isso tem um impacto muito grande nos custos decorrentes de toda linha de cuidado. Porque a fragmentação e a falta de conhecimento sobre o paciente no sistema de saúde levam a um custo exorbitante, muito trabalho repetitivo, retrabalho, exames desnecessários”, ressaltou. 


Para Eliziane Brandão Leite, gerente de Educação Médica da Coordenação do Curso de Medicina das Escolas Superiores de Ciência da Saúde (ESCS/FEPECS/DF), os cursos de graduação de medicina precisam dar uma atenção para formação de um médico, com um olhar mais generalista, mais humanizado e que atenda através de medidas críticas e reflexivas todas as necessidades do paciente no âmbito do olhar da atenção primária. “Nós temos 55 especialidades médicas e 59 áreas de atuação, das 55 especialidades médicas nós temos 8 áreas de acessos diretos, onde está a clínica médica, a formação do clínico, é a principal procura dos jovens médicos. O clínico precisa de uma formação, mas para ele superar as suas dificuldades, vamos precisar trazer e expandir dentro das competências do médico durante a formação da residência médica algo que ainda não é abordado nas faculdades de medicina, por ser inclusive novo, que seria uma abordagem de conhecimentos iniciais em telemedicina, em direito médico e empreendedorismo”, salientou. Ela finalizou dizendo que, o médico precisa expandir, além da sua prática vocacional, a capacidade de gerenciar o negócio que é a prática médica.


Carlos Magno Pretti Dalapicola, representante titular do CFM no Conselho Deliberativo da Associação Médica Brasileira e Representante Suplente na Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho e no Comitê Intersetorial do Programa Trabalho Seguro, abordou o tema sobre porcentagem atual da resolução médica na atenção primária. Para ele, o tema tem que ser encarado de forma diferente, porque do jeito que está caminhando poderemos ter mais mil escolas e os médicos, uma grande maioria, vai continuar saindo da faculdade com má formação. “O Conselho Federal de Medicina não é contra a abertura de escolas médicas, nós somos contra sim, contra a abertura de escolas médicas que não oferecem a mínima capacidade de formação do seu graduado. Chegar no final do seu sexto ano e ver que ele não tem condições de exercer a medicina e o pior, ele vai exercer a medicina na linha de frente, PA, Upas, PS, ai começa um grande problema, o indivíduo mal formado acaba solicitando muito exame na procura do diagnóstico e esquece que com a mão, com um estetoscópio, com uma boa anamnese ele pelo menos faz diagnóstico de 55 a 60% dos diagnósticos ou faz uma suspeita diagnóstica forte. A capacidade do médico de escutar o paciente traz muita informação, saber fazer perguntas ao paciente ou seja uma boa anamnese ele vai resolver muitos problemas sem grandes necessidades de realização de exames. Os exames são necessários, mas seriam só para confirmação de uma hipótese diagnóstica e não para a procura de um diagnóstico, isso que o SUS está caminhando e a gente tá vendo que a coisa está ficando cada vez mais complicada”, disse. Ele destacou que a Frente Parlamentar da Valorização da Clínica Médica é muito interessante, não só para os médicos, mas principalmente pela população e a sobrevivência do SUS. “Se nós tivermos um médico bem informado, bem capacitado, nós temos uma condição de fazer uma boa medicina sem grande custo para o sistema público de saúde ou para o operador de saúde”, finalizou.


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