Nesta terça-feira (21), a Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados realizou audiência pública para debater sobre a necessidade de mais uma aplicação dos imunizantes disponíveis no Brasil contra a Covid-19, retomando os grupos prioritários iniciais, em especial os profissionais da saúde.
O Ministério da Saúde, foi representado pela secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo, que destacou que no dia 15 de setembro, toda população brasileira acima de 18 anos teria sido vacinada com uma dose do imunizante, e partir de então, iniciaria a aplicação de doses de reforço e a redução do intervalo entre as doses das vacinas, com relação a Pfizer. Também citou que a partir da análise de estudos realizados referentes aos imunizantes CoronaVac e AstraZeneca, as populações consideradas pelo Ministério como prioritárias, para mais uma aplicação da dose das vacinas, englobam pessoas com idades entre 70 e 80, devido a perda de eficácia do imunizante com o aumento da idade da população idosa. Assim, o Ministério optou por fazer o corte para idosos acima de 70 anos para receber a dose de reforço 6 meses após a última dose do esquema vacinal. A dose adicional foi considerada para pessoas com alto grau de imunossupressão, após 28 dias da última dose do esquema vacinal.
Para Natasha Slhessarenko, Conselheira Federal no Conselho Federal de Medicina, a discussão sobre a consideração da aplicação de uma dose de reforço para os profissionais de saúde é de extrema importância, principalmente pelo fato desses agentes terem sido imunizados no início da campanha de vacinação, entre janeiro e fevereiro. Com isso, tiveram uma perda na proteção, aumentando o número de casos de profissionais contaminados, já que têm impacto direto na transmissão da doença.
Margareth Dalcomo, médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apresentou algumas questões que são colocadas para a instituição. A primeira delas referiu-se à possibilidade de se aplicar, neste momento, considerando a disponibilidade dos imunizantes oferecidos no Brasil, para idosos e pessoas com grau elevado de imunossupressão. A segunda tratou sobre a cobertura e a proteção de adolescentes e a terceira dispôs sobre o reinício da vacinação dos profissionais de saúde havendo disponibilidade de insumos para tal e sem prejudicar a vacinação dos grupos mais vulneráveis.
Nereu Henrique Mansano, Assessor Técnico do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a respeito da dose de reforço, mencionou que a questão já vem sendo debatida há algum tempo, já foi destacado e encaminhado ao Ministério da Saúde, sobre a importância de priorizar as doses de reforço para aquelas populações mais suscetíveis ao contágio da covid-19. Segundo o assessor, é preciso garantir as doses de reforço para os profissionais da saúde considerando a vulnerabilidade de tais trabalhadores, e a necessidade de garantir o funcionamento do serviço de saúde e de reduzir as taxas de transmissão nesses serviços. Sobre a vacinação de adolescentes e a possibilidade de volta às aulas serem prejudicadas com a pausa na campanha de vacinação para os jovens, destacou a importância do ponto de vista social, considerando o impacto na questão educacional, da socialização e do aumento de comorbidades nessa faixa etária. Uma colocação feita por ele tratou sobre a contemplação de quais grupos devem ser priorizados primeiro para a aplicação das doses de reforço e a aplicação da primeira dose nos adolescentes.
Hisham Hamida, Diretor do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), trouxe ao debate a questão da insuficiência de imunizantes, nesse sentindo, é preciso priorizar quais grupos devem receber as vacinas. Outro desafio apontado pelo diretor, tem haver com o sistema de informação e com os numeradores incompatíveis com a realidade local. Além disso, outro problema apresentado trata sobre a comunicação e planejamento durante a pandemia.
O representante da Associação Médica Brasileira (AMB), Alexandre Barbosa, médico infectologista, apresentou alguns estudos e artigos científicos sobre os surtos na comunidade médica e de profissionais de saúde mesmo com as duas doses da vacina aplicadas, informações que podem ajudar a Câmara Técnica do PNI na tomada de decisões em relação à dose de reforço para profissionais de saúde. A vacinação desse grupo é, no posicionamento da AMB, estratégica em termos de discussão para priorização nas próximas etapas do PNI. Em relação à vacinação de adolescentes, destaca que a posição da AMB é favorável que se mantenha a vacinação por questões de segurança dos adolescentes e da população e não vê necessidade na parada do processo de vacinação.
Para Cleide Mazuela, membro do Comitê Gestor de Crise da Covid-19 do Conselho Federal de Enfermagem, o setor de enfermagem está extremamente desgastado e também houve muitos afastamentos devido à pandemia do coronavírus e às questões relacionadas com a sanidade mental dos profissionais. Observou-se uma expectativa do setor a respeito da aplicação de uma terceira dose da vacina. O Conselho Federal de Enfermagem apoia a vacinação dos idosos imunossuprimidos, dos profissionais de saúde e dos adolescentes.
Segundo a representante da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Lely Guzmán, a dose de reforço, principalmente com a Pfizer, é necessária para aumentar a imunidade após o declínio da eficácia da vacina em idosos e pessoas em imunossuprimidas, seguindo a disponibilidade de insumos e de homogeneidade nos esquemas de vacinação da Covid. Sobre a vacinação dos adolescentes, acrescenta que a OMS recomenda que os países devem considerar o uso da vacina em pessoas com idades entre 12 e 15 anos, apenas se tiverem alta cobertura de vacinação com duas doses nos grupos de prioridade. A OPAS recomenda que os canais dos eventos associados à vacinação devem ser muito bem avaliados junto com a implementação e a comunicação efetiva, a fim de justificar a alteração de estratégias de vacinação em qualquer faixa etária ou grupo alvo.
Alexander Precioso, diretor do Centro de Farmacovigilância, Segurança Clínica e Gestão de Riscos do Instituto Butantan, reforça a importância do debate de aplicação das doses de reforço para os profissionais da saúde, a vacinação de adolescentes e a priorização. O diretor destaca que o posicionamento do Instituto Butantan é favorável a essa discussão desde que seja baseada em dados locais, devido à realidade de disponibilidade das vacinas e para que não haja prejuízo para a imunização completa para as populações já definidas.
Segundo a Deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), autora do requerimento nº 71/2021, a ciência, as pesquisas e os dados já estão mostrando a importância da dose de reforço, e por isso o apelo do encontro com representantes do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, os pesquisadores e cientistas.
A deputada Carla Dickson (PROS-RN) acrescentou ao debate que foi lançado o Plano Nacional de Testagem Rápida em vários estados brasileiros e um problema enfrentado, ultimamente, é identificar o indivíduo assintomático. Questionou ainda sobre a suspensão da vacinação dos adolescentes.
O deputado Jorge Solla (PT-BA) se posicionou favorável à vacinação de adolescentes, à dose de reforço para os profissionais de saúde e para idosos.