Brasília, urgente

Em debate sobre a saúde do homem, participantes destacam que prevenção do câncer de próstata é desafio do sistema de saúde

NK Consultores – A Comissão Especial do Câncer da Câmara dos Deputados debateu, em audiência pública nesta terça-feira (08), sobre o tema “Ser Homem no Brasil”. O debate foi solicitado e coordenado pela deputada Silvia Cristina (PL-RO).

Instituto Lado a Lado pela Vida

Denise Blaques, Diretora do Instituto Lado a Lado pela Vida, falou sobre algumas atividades idealizadas pelo instituto para tratar sobre a saúde do homem. Citou que em 2011 foi criado o Novembro Azul, mês de conscientização do Câncer de Próstata; a criação da linha 0800 222 2224, destinada a comunicação com os homens, para que eles pudessem tratar sobre suas dúvidas de acesso ao tratamento de saúde no país; e pesquisas robustas de 2019 a 2021, com foco exclusivo para a saúde do homem. 

De acordo com ela, a saúde do homem é um grande desafio no Brasil. Mencionou dados do Inca de que a previsão é de 65 mil novos casos de câncer de próstata no triênio 2020-2022, com cerca de 16 mil óbitos. Explicou que quando diagnosticado de forma precoce, as chances de cura pode chegar até 95%. Porém, ressaltou que, apesar de ter uma Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, não existe uma linha de cuidados que olhe para todas as etapas de saúde e tratamento deles. Denise ressaltou que eles chegam cada vez mais tarde ao sistema de saúde; tem dificuldades em acessar as unidades básicas; e não se sentem confortável em expor seus problemas em um ambiente que é mais propicio ao atendimento de mulheres e crianças. 

Ministério da Saúde

O Coordenador de Puericultura do Ministério da Saúde, Marcos Pelico Ferreira Alves, disse que o primeiro desafio é colocar o homem dentro da unidade básica de saúde para que ele realize as consultas básicas, possibilitando o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Relatou que umas das prejudicialidades do diagnóstico tardio é que ele afeta os cofres públicos, visto que os gastos são maiores. Por isso, chamou atenção para a importância de estruturar as Unidades Básicas de Saúde, para que os homens se sintam acolhidos. 

O coordenador ressaltou que dentre as ações de saúde do homem, o ministério realizou a inclusão do pai ou parceiro afetivo no atendimento pré-natal da mulher na carteira da gestante. Segundo ele, o treinamento das equipes de saúde e a mudança no pré-natal já elevaram as consultas masculinas que, na média, representam 25% do total, ante 75% das mulheres. Outra estratégia mencionada por ele, é utilizar os agentes comunitários de saúde para encaminhá-los para as unidades de saúde. Destacou, ainda, a possibilidade de uso da teleconsulta no acesso dos homens na prevenção primária de saúde. 

Instituto Nacional do Câncer (INCA)

Franz Santos de Campos, Chefe do Setor de Urologia do Instituto Nacional do Câncer, disse que hoje 52% dos casos de câncer de próstata no Brasil são identificados nas fases mais graves. Porém, informou que no Rio de Janeiro, o instituto conseguiu, em parceria com o SUS, zerar a fila de espera por diagnósticos. Por isso, sugeriu a criação de centros especializados no diagnóstico da doença. 

Segundo ele, o pilar inicial do tratamento do câncer de próstata é a cirurgia robótica, que possui maior chance de reduzir a sequela de tratamento, como a incontinência urinária e impotência sexual. Ele relatou que de 2012 a 2022, o Instituto do Câncer tem realizadas 1.313 cirurgias robóticas e 350 prostatetomias. Defendeu que o uso da cirurgia robótica seja discutida, apenar de a Conitec ser desfavorável. 

Defendeu, ainda, a incorporação da Ressonância magnética na análise da doença, alegando que garantirá um aumentando no valor positivo da biópsia prostática, identificando os tulmores significativos que devem ser tratados. Para ele, esse ganho não pode acontecer somente na medicina privada. 

Quanto aos novos medicamentos para o tratamento da doença, ele relatou que apenas 10% da população do SUS é tratada com esses medicamentos. Defendeu que a incorporação de novas tecnologias no SUS sejam implementadas com maior celeridade. 

Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)

Igor Morbeck, representante da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, destacou a importância do fortalecimento de ações para a saúde do homem no Sistema Único de Saúde, que se inicia na Atenção Primária de Saúde. De acordo com ele, a falta desse fortalecimento faz com que os homens caiam em um diagnóstico muito elevado de câncer de próstata. Porém, ponderou que, se diagnosticado precocemente, 90% dos pacientes possuem chance de cura. 

Como oportunidades para a Saúde do Homem, mencionou a campanha Novembro Azul; engajamento da sociedade civil no tema; mapeamento das populações que tem acesso ao sistema de saúde; intensificar campanhas e informações na população rural, que tem dificuldade de acesso a informação. 

Outro ponto destacado por ele, foi que existe publicação no site do Inca desde 2013 que recomenda o não rastreamento do câncer de próstata pelo PSA, por entender que há um maior risco no diagnóstico da doença, com pouco impacto na mortalidade e na geração de metástase. Por isso, sugeriu que o Inca atualize as informações disponibilizas no site, uma vez que é consultado por estudantes médicos.

Por fim, ele mencionou a dificuldade dos pacientes ao acesso e tratamentos sistêmicos incorporados ao SUS. De acordo com ele, não adianta a Conitec aprovar o medicamento, se não existe reembolso do Ministério da Saúde da APAC, para que isso seja viável. Citou como exemplo a Abiraterona, que possui mil dias de atraso na publicação de uma portaria sem o fornecimento dela no SUS.

Organização PanAmericana da Saúde

Lysiane Pereira, Consultora da Organização PanAmericana da Saúde, disse que, no mundo, é baixa a participação dos homens nos sistemas de saúde. Ela informou que estão criando um Grupo de Trabalho para abordar ações para a saúde do homem nas américas.  Defendeu a realização de campanhas para que os homens consigam acessar a Atenção Primária a Saúde.

Parlamentares

A deputada Flávia Morais (PDT-GO) defendeu uma estratégia de busca ativa para prevenção do câncer de próstata. Além de sugerir análise comparativa dos eventuais custos dessa busca ante o tratamento dos casos graves, ela lembrou que outras doenças, como o câncer colorretal, poderiam ser atacados.

Para a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), o SUS enfrenta dificuldades que afetam o atendimento, ainda que exista previsão legal, não há recursos para mamografias. Ele informou que faltam especialistas, praticamente não há urologistas no SUS, e que ainda há um abismo entre as normas e a realidade. Ela defendeu, ainda, o fortalecimento da teleconsulta para identificar os pacientes que precisam de encaminhamentos mais complexos. 

A relatora da comissão, e presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Câncer, deputada Silvia Cristina (PL-RO), lembrou que desde 2019, estão trabalhando com um projeto de resolução para formação de uma comissão exclusiva da saúde. De acordo com ela, as pautas são discutidas na Comissão de Seguridade Social, mas a casa precisa de uma comissão permanente da saúde. Pediu apoio dos parlamentares nessa proposta.

Por fim, informou que em dezembro irá apresentar ao colegiado o Plano Nacional de Combate ao Câncer, com objetivo de mudar a realidade do Brasil no enfrentamento à doença. 


Envie sua opinião