Brasília, urgente

Frente Parlamentar da Nefrologia debate a Crise Humanitária da Diálise

NK Consultores -Foi realizado, nesta terça-feira (26), seminário organizado pela Frente Parlamentar da Nefrologia sobre a Crise Humanitária da Diálise. O evento foi presidido pelo deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), coordenador da frente.

Sociedade de Nefrologia do Rio de Janeiro

Inicialmente, o nefrologista Dr. Pedro Túlio Rocha alertou sobre a preocupação com os pacientes renais, ressaltando ter obtido um aumento de investimento após uma reunião com o Ministério da Saúde para buscar mais soluções para a crise de diálise.

Sociedade Brasileira de Nefrologia do Distrito Federal

Isadora Calvo, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, relatou que frequentemente se depara com situações em que pacientes começam com inchaço, picos de pressão e mal-estar, e os pacientes tendem a encarar essa situação como se estivessem com uma virose, continuando a tomar remédios para aliviar os sintomas. A presidente ressaltou que, uma vez que o paciente recebe esse diagnóstico, ele precisa de um acesso para realizar a hemodiálise e para que o sangue seja filtrado. Segundo ela, enfrentar a fila de espera acaba se tornando um dos maiores problemas para esses pacientes, a fim de conseguir realizar um acesso definitivo, ou seja, a cirurgia necessária.

Patrícia Ferreira de Abreu, tesoureira da sociedade, destacou que a experiência e o conhecimento que adquiriu levaram a reflexões sobre a situação atual. Ela mencionou que em 2013, a doença renal crônica foi incluída no contexto do SUS como uma doença crônica não transmissível, sendo que a diabetes e a hipertensão arterial já faziam parte desse grupo, sendo as duas principais causas do desenvolvimento da doença em indivíduos que necessitam de diálise. Ela também observou que há 10 anos, a doença renal crônica passou a fazer parte do plano de enfrentamento do Ministério da Saúde, que visa à vigilância, à prevenção da saúde e ao cuidado integral, o que significa que, por lei, a doença renal crônica deveria já estar sendo prevenida e tratada em todos os seus estágios.

De acordo com dados do Programa de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, mais de 30 milhões de brasileiros sabem que têm hipertensão arterial, e mais de 30 milhões de brasileiros sabem que têm diabetes. Além disso, cerca de 10% da população brasileira apresenta algum nível de doença renal crônica, o que equivale a uma a cada 20 milhões de brasileiros em fase avançada da doença.

Fábio Ferraz, tesoureiro da sociedade e médico nefrologista, destacou que o Brasil possui o hospital que mais realiza transplantes no mundo e compartilhou que o maior sonho de todos os pacientes é conseguir um transplante renal.

Associação Brasileira de Centro de Diálise e Transplantes

Leonardo Barberis, vice-presidente da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes, relatou que tem discutido várias vezes com o Ministério da Saúde a situação da diálise, que a cada dia se agrava mais, e também tem discutido a dificuldade de acesso dos pacientes ao tratamento de diálise peritoneal. Barberis afirmou que 92% das clínicas de diálise no Brasil são privadas, sendo que 68% delas têm fins lucrativos. Ele ressaltou que, dos 7.242 hospitais, 4.529, ou seja, 62% dos 428 mil leitos, são privados, e fez um apelo para que as iniciativas privadas participem dessas discussões a fim de evitar a fragmentação do sistema.

Sociedade Brasileira de Nefrologia

Moura Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, ressaltou que a frente parlamentar de nefrologia foi criada em 4 de julho de 2023, uma data considerada histórica para a nefrologia brasileira. Ele afirmou que, após muitas reuniões importantes, o segundo evento público foi realizado em 26 de setembro de 2023, conforme planejado nas conversas iniciais com o deputado Vinicius Carvalho.

Afirmou que atualmente no Brasil existem cerca de 150 mil pessoas em tratamento dialítico, distribuídas em 872 unidades de terapia renal substitutiva, sendo que 80% desses pacientes dependem do SUS. O censo de diálise da Sociedade Brasileira de Nefrologia estima que 47 mil novos pacientes entram em diálise a cada ano. Além disso, estima-se que 60 mil brasileiros com doença renal crônica morrem antes de conseguir acesso à diálise, com a maioria dessas mortes precoces ocorrendo nos estados mais pobres, especialmente no Norte e Nordeste.

Associação dos Pacientes Renais e Transplantados do Distrito Federal

Márcio Leone, paciente renal há 5 anos, ressaltou que vive com descasos e falta de bom atendimento devido à instabilidade do sistema de saúde. Ele destacou que a associação nasceu a partir de uma clínica que foi dissolvida. Essa clínica atendia 100% de pacientes do SUS, mais de 200 pacientes, mas não tinha receita suficiente para arcar com seus compromissos. Leone também enfatizou que um problema bastante comum era a locomoção das pessoas, que vinham de diversas localidades em Brasília.

Parlamentares

O deputado Marcelo Queiroz (PP-RJ), transplantado renal há mais de 4 anos, no Rio de Janeiro, tem visto muitas clínicas de diálise sendo fechadas. Essas clínicas costumavam atender cerca de 300 a 400 pessoas, o que acaba dificultando o dia a dia e a qualidade de vida.

A deputada Flávia Morais (PDT-GO) destacou a importância da realização de debates para conscientizar todos, de maneira ampla e com linguagem acessível a toda a população. Ela ressaltou que o desafio é grande, mas o avanço é necessário.

Por fim, o presidente da Frente Parlamentar de Nefrologia, deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), destacou que os avanços tecnológicos são uma grande conquista, mas que é necessário buscar eficiência no que é básico. Ele observou que existem pessoas esperando para realizar tratamento em uma clínica, mas ainda aguardam no hospital. Ressaltou também a falta de profissionais e equipamentos para a realização dos procedimentos, além de enfatizar as dificuldades de locomoção de pacientes para ter acesso ao tratamento, que muitas vezes não está disponível em suas localidades de residência.


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