Brasília, urgente

Na CPI da Covid, secretária do Ministério da Saúde contradiz versões de Pazuello sobre tratamento e crise no Amazonas

Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (25), a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, apresentou versões que conflitam com as apresentadas à comissão na semana passada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde), em particular sobre a crise em Manaus e a plataforma TrateCov, destacou a Folha de S.Paulo. Após a oitiva da secretária, a sessão desta quarta-feira (26) será destinada à votação de requerimentos. Mayra Pinheiro, que é médica, prestou depoimento munida de um habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que lhe garantia o direito de ficar em silêncio sobre os fatos de dezembro do ano passado e janeiro, quando houve o colapso do sistema de saúde de Manaus, na segunda onda da pandemia. A médica, porém, respondeu a todas as perguntas que foram feitas ao longo de quase oito horas. Mayra é investigada em ação que corre em segredo na Justiça do Amazonas. Ela confirmou ter informado à Secretaria de Saúde do Amazonas que era inadmissível não adotar a orientação da pasta sobre o uso desses medicamentos. A secretária foi questionada sobre o tema pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL). O senador leu trecho de um ofício encaminhado por ela ao Amazonas no qual estimulava a gestão municipal a usar as drogas orientadas pelo Ministério da Saúde. Mayra ainda afirmou à CPI que a “orientação para tratamento precoce é para todos os médicos brasileiros, não só para Manaus”. Ela também defendeu a hidroxicloroquina. Disse que, como médica, mantém a orientação “de que a gente possa usar todos os recursos possíveis para salvar vidas”. Por outro lado, afirmou que nunca recebeu ordens para propagar o medicamento. Ela depois ainda avaliou que a cloroquina e outros medicamentos foram criminalizados com base na publicação de dois estudos acadêmicos. 

Secretária afirma que Tratecov não foi hackeado 

Em seu depoimento, a secretária apresentou, por exemplo, uma data diferente em que o Ministério da Saúde tomou conhecimento de problemas de falta de oxigênio, que resultou na morte de pessoas asfixiadas. A secretária afirmou que o Ministério da Saúde soube dos problemas de escassez do insumo em Manaus por meio de um email da empresa White Martins, que havia sido repassado pelas autoridades locais para a pasta. Ela negou que tenha sido informada do problema da falta de oxigênio no período em que esteve atuando em Manaus, em missão do ministério —ela esteve no estado de 2 a 5 de janeiro. “Não houve uma percepção que faltaria. De provas, é que nós tivemos uma comunicação por parte da secretaria estadual que transferiu para o ministro um email da White Martins dando conta de que haveria um problema de abastecimento”, respondeu. “O ministro teve conhecimento do desabastecimento de oxigênio em Manaus creio que no dia 8 [de janeiro], e ele me perguntou: ‘Mayra, por que você não relatou nenhum problema de escassez de oxigênio?’. Porque não me foi informado”, disse à CPI. Em depoimento à comissão, Pazuello disse que foi informado do problema apenas na noite do dia 10 de janeiro. A CPI tem documentos que mostram, porém, que a White Martins enviou email à Secretaria de Saúde do Amazonas no dia 7 de janeiro no qual informou que não tinha quantidade suficiente de oxigênio para suprir a demanda do estado. No mesmo email, a companhia apontou o nome de outro concorrente, Carboxi, que poderia ter a carga necessária, segundo mensagem a que a Folha de S.Paulo teve acesso. Outra contradição da secretária diz respeito ao aplicativo Tratecov. Ela afirmou à CPI que a ferramenta foi alvo de uma extração de dados, e não um hackeamento, como havia informado Pazuello na semana passada. Segundo Mayra, a constatação de que houve uma extração de dados foi o que levou o ministério a tirar a plataforma do ar, mas frisou que não houve alterações nele porque o sistema era seguro. Já Pazuello disse que isso havia ocorrrido em razão de um hackeamento e que o aplicativo havia sido manipulado. Nesta terça, Mayra disse que o laudo da perícia no aplicativo mostra não ter havido hackeamento, mas que ele foi retirado do ar para que houvesse uma investigação. Segundo a secretária, o TrateCov servia como uma plataforma para auxiliar médicos no diagnóstico da Covid. De acordo com senadores, no entanto, o aplicativo também receitava cloroquina para crianças e adolescentes. 

CPI deve votar convocação de governadores e prefeitos na quarta-feira 

A CPI da Pandemia deve votar nesta quarta-feira (26) a convocação de nove governadores e 12 prefeitos e ex-prefeitos para depor sobre suspeitas de desvio de recursos para o combate ao coronavírus em estados e capitais. A lista dos gestores ainda não foi divulgada, informou a Agência Senado. Mas o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), já anunciou em uma rede social que o colegiado deve apreciar mais de 200 requerimentos.b— Logo mais retomaremos os trabalhos da CPI. Hoje e quinta, depoimentos. Amanhã, votação de mais de 200 requerimentos. Semana promete. Vamos votar requerimentos para a convocação de pelo menos nove governadores e 12 prefeitos e ex-prefeitos — estados e capitais onde a Polícia Federal investiga suspeitas de desvio de recursos de combate à covid — escreveu. A pauta divulgada pela CPI da Pandemia para a reunião de quarta-feira prevê a votação de 42 requerimentos. O documento ainda não inclui os pedidos de convocação dos gestores estaduais e municipais. Os senadores devem votar a reconvocação do ex-ministro Eduardo Pazuello e a convocação do empresário Carlos Wizard, suspeito de integrar um “ministério paralelo da Saúde”. Os senadores devem votar ainda 15 requerimentos de informações. Os parlamentares querem acesso a dados mantidos pelos ministérios da Saúde, das Relações Exteriores e das Comunicações, além Secretaria-Geral da Presidência da República. Há ainda requerimentos de informações para Instituto Butantan, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Conselho Federal de Medicina (CFM), governos estaduais, prefeituras e as empresas Wuxi Biologicals e Sinovac. A CPI da Pandemia pode votar 24 requerimentos para convite a testemunhas. Os senadores querem ouvir médicos e pesquisadores sobre tratamentos e protocolos usados no enfrentamento à covid-19. Os parlamentares também podem chamar para depor representantes da empresa White Martins, responsável pelo fornecimento de oxigênio à cidade de Manaus (AM). Outro requerimento na pauta recomenda que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, revogue uma nota informativa com orientações para o “tratamento precoce” de pacientes com covid-19. O documento foi publicado em julho do ano passado, na gestão do então ministro Eduardo Pazuello. 

Anvisa autoriza testes em humanos do soro anti-covid feito pelo Instituto Butantan  

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta terça-feira (25), o início dos testes do soro anti-covid, desenvolvido pelo Instituto Butantan a partir do plasma de cavalos. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo com isso, o Butantan já pode começar a aplicação do soro em voluntários da pesquisa. Esta será a primeira vez que o soro será aplicado em humanos. A agência já havia dado a anuência para a pesquisa no dia 24 de março, mas mediante a assinatura de um Termo de Compromisso que previa a entrega de informações complementares, que ainda não estavam disponíveis naquele momento. A autorização foi concedida após o Butantan submeter o novo protocolo clínico com as adequações necessárias para que o estudo possa ser iniciado em humanos. O soro é um concentrado de anticorpos contra o novo coronavírus e pode ser aplicado assim que o paciente apresentar manifestações clínicas da doença. Em março, o Butantan tinha informado que o estudo clínico incluiria pacientes transplantados do Hospital do Rim e com comorbidades do Hospital de Clínicas, ambos da capital paulista. Os testes serão conduzidos, respectivamente, pelos médicos José Medina e Esper Kallas. A avaliação da proposta de pesquisa foi feita integralmente pela Anvisa, sem a participação de outras agências estrangeiras, já que as fases iniciais de testes clínicos do soro serão feitas apenas no Brasil. Como esta é a primeira vez que o soro do Butantan será testado em pessoas, isso exigiu da agência uma avaliação criteriosa dos aspectos técnicos e de segurança do produto. Até o momento, o soro foi testado somente em animais. 


Envie sua opinião