Após um início conturbado, a telemedicina finalmente se consolidou no Brasil, destacou reportagem do jornal O Globo. Em 2020, as restrições impostas para controlar a disseminação do novo coronavírus deflagraram um movimento inexorável e revolucionário: a interação entre médico e paciente com smartphones, tablets e computadores. Em março de 2020, o Ministério da Saúde autorizou o uso da telemedicina para atendimento pré-clínico, assistencial, consultas, monitoramentos e diagnóstico durante a pandemia de Covid-19. A medida acabou com um tabu de anos e alterou de forma permanente a prática da medicina no Brasil, explicou a publicação.
A pandemia, apesar de todos os danos que ela trouxe, foi um grande e uma grande alavanca para a expansão da saúde digital, porque ela forçou que as pessoas adotassem essa tecnologia e isso naturalmente traz um ganho de escala e de velocidade de adoção — diz Carlos Pedrotti, gerente médico do Centro de Telemedicina do Einstein. No final de abril deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que autoriza a telessaúde no Brasil. Uma semana depois, o Conselho Federal de Medicina (CFM) regulamentou a prática, em caráter definitivo. Dessa vez, não houve oposição. Não há dúvida de que a mudança de postura de médicos e da sociedade em relação ao atendimento remoto à saúde entre 2019, quando o CFM tentou regulamentar a prática pela primeira vez, e hoje, é consequência direta da pandemia.
Para o médico Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms), a resolução brasileira é uma das melhores do mundo, “porque ela detalha as modalidades de serviço”. O médico participou da elaboração da resolução de 2022 e da que foi revogada logo após a publicação, em 2019. Outro ponto importante da resolução é a definição da telemedicina como método médico para cuidar do paciente e não como ferramenta. A ideia é que uma ferramenta se desatualiza rápido, não tem ética nem responsabilidade. Quem tem responsabilidade e ética, é o profissional.
Portanto, a telemedicina é um método médico e ele tem a obrigação de assumir toda a responsabilidade pelas consequências geradas por essa abordagem. Isso era fundamental para garantirmos que a população tenha um serviço médico de qualidade — avalia o presidente da ABTms. Um dos pontos mais sensíveis da discussão para definir as regras da telemedicina era se a primeira consulta poderia ou não ser realizada à distância. Por fim, ficou definido que essa decisão caberia ao médico. No entanto, o padrão-ouro para as consultas médicas continua sendo o encontro presencial. A telemedicina é complementar.