Brasília, urgente

Vacinas para malária não são úteis no Brasil e destacam importância do desenvolvimento nacional de imunizantes

A aprovação inédita de uma vacina para a malária pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021, e os resultados recentes de uma nova candidata desenvolvida pela Universidade de Oxford, que aumenta a eficácia contra a doença, são celebrados pela comunidade científica e aproximam o planeta da meta de reduzir em 90% os casos até 2030, em comparação com os números de 2015, e eliminar o patógeno na década seguinte, destacou matéria do jornal o Globo. No entanto, embora despertem esperança para intensificar as estratégias de prevenção, principalmente em países da África onde o diagnóstico tem índices mais dramáticos e letalidade maior, especialistas explicam que os imunizantes não serão úteis no contexto brasileiro. A realidade chama atenção para a importância do desenvolvimento nacional de vacinas, que podem ser direcionadas à forma da doença prevalente no país e de fato influenciar a epidemiologia da malária aqui. — As duas vacinas atuais são para o plasmodium falciparum, que é de fato a espécie causadora da malária mais virulenta e responsável pela maior mortalidade no mundo. Mas ela não é a que predomina no Brasil, aqui é o plasmodium vivax.

Isso significa que essas vacinas não vão ter muita utilidade para os casos brasileiros da doença, que permanecem altos — explica a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) Irene Soares, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Vacinas (NAP) da universidade. A realidade expõe a importância de se investir no desenvolvimento de vacinas nacionais, que podem mirar o contexto epidemiológico da malária aqui. Isso porque, se por um lado instituições como a Fiocruz e o Butantan garantem uma capacidade de produção de imunizantes, a criação de imunobiológicos desde o conceito até os testes, e a eventual disponibilização para os brasileiros, não é uma área dominada no país. É o que explica a pesquisadora Irene Soares, da USP, que coordena na universidade o grupo que desenvolve a primeira vacina do Brasil para a doença, em parceria com o Centro de Tecnologia de Vacinas (CTAVacinas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e com a Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos.

Ela pontua que um dos desafios para o imunizante é o fato de ser um parasita, microrganismo cuja biologia é mais complexa que a de outros patógenos, como vírus e bactérias, que já contam como um amplo arsenal de vacinas. Além disso, os especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam que há os entraves conhecidos no desenvolvimento da ciência no Brasil, como o sucateamento das instituições de pesquisa, a falta de investimentos financeiros e de recursos humanos devido à migração de profissionais capacitados para países que oferecem melhores oportunidades.


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