“O Brasil tem as maiores taxas de transtorno de ansiedade do mundo”, alerta o Dr. Kalil Duailibi
No início da tarde, do primeiro dia do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB, em uma das salas, especialistas compartilharam conhecimentos valiosos sobre temas atuais e essenciais para a prática psiquiátrica. Foram abordadas as diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria para o tratamento dos transtornos de ansiedade, apresentando novas estratégias e práticas, além da importância do gerenciamento de emergências psiquiátricas em situações de calamidade pública, explorando como agir em contextos de crise e uma reflexão importante sobre as dependências químicas que têm impactado a sociedade contemporânea.
A mesa redonda de psiquiatria teve a coordenação do Dr. Elson de Miranda Asevedo, Diretor Técnico do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) da Vila Mariana, e do Dr. Sérgio Pedro Baldassin, Professor no Centro Universitário FMABC e Coordenador do Fórum Nacional de Serviços de Apoio a Estudantes de Medicina (FORSA). Uma oportunidade única para os profissionais de saúde de diversas áreas se atualizarem sobre questões cruciais e urgentes da psiquiatria.
Diretrizes para o tratamento dos transtornos de ansiedade
O Dr. Kalil Duailibi, Presidente do Departamento Científico de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina, destacou como a ansiedade está interligada a outros quadros clínicos, formando um ciclo vicioso com várias implicações. Além da própria ansiedade, ele mencionou a depressão, a insônia, o estresse crônico, a dor crônica e as doenças clínicas comórbidas como fatores que se entrelaçam nesse processo. “Quando o paciente entra por uma dessas portas, ele acaba desenvolvendo todas as demais condições”, explicou o especialista.
O psiquiatra também enfatizou que o Brasil possui uma das maiores taxas de transtorno de ansiedade do mundo, com 14% da população adulta diagnosticada com essa condição, que exige cuidados específicos. Ele abordou os tratamentos clássicos, sejam medicamentosos ou não, e reforçou que “todos os tratamentos funcionam, desde que aplicados de maneira adequada, com evidências científicas que comprovam seus benefícios. O simples fato de o paciente saber que está em uma lista para ser cuidado já é um passo importante, antes mesmo de iniciar o tratamento. O essencial é manter o cuidado até a remissão, o que implica no desaparecimento total dos sintomas”.
Emergências psiquiátricas em situações de calamidade pública
Dr. Sérgio Tamai, Diretor Técnico do Hospital Municipal da Cantareira e Diretor Secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria, ressaltou que o sofrimento mental em situações de calamidade pública é significativo e tende a agravar transtornos mentais pré-existentes de forma intensa, como estresse agudo, ansiedade, depressão, uso de substâncias como drogas e álcool, e, posteriormente, transtorno de estresse pós-traumático.
Ele enfatizou a importância de uma avaliação rápida, com protocolos específicos, para a identificação de casos que requerem atendimento imediato, como risco de suicídio, além da estabilização da crise por meio de intervenções rápidas, acolhimento e suporte. “Também faz parte do gerenciamento dessas emergências o encaminhamento e a continuidade do cuidado, com o acompanhamento contínuo do paciente. Por isso, os serviços de emergência precisam estar preparados com treinamentos em diretrizes e protocolos específicos para esses eventos”, afirmou.
Dependências químicas da atualidade
Dr. Quirino Cordeiro Júnior, Diretor do HUB de Cuidados em Crack e Outras Drogas do Estado de São Paulo, destacou que as drogas mais utilizadas atualmente no Brasil são as mesmas que têm sido consumidas por adictos ao longo dos anos, como álcool, maconha, cocaína, crack, entre outras. É justamente nesse grupo de substâncias que se concentra a maioria dos usuários. “Embora já se ouça falar de novas substâncias, como os canabinoides sintéticos, essas são emergentes e ainda afetam grupos específicos da população”, explicou o especialista.