“A deficiência nutricional da gestante não diz respeito apenas à condição socioeconômica da gestante”, diz a Dra. Lilian De Paiva Rodrigues Hsu – AMB

“A deficiência nutricional da gestante não diz respeito apenas à condição socioeconômica da gestante”, diz a Dra. Lilian De Paiva Rodrigues Hsu

A mesa redonda de Obstetrícia do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB trouxe discussões fundamentais sobre a saúde da mulher e do recém-nascido, com destaque para as melhores práticas na assistência pré-natal, um panorama sobre as urgências hipertensivas na gestação e orientações sobre como manejar esses desafios e garantir uma amamentação bem-sucedida.

Na coordenação do painel estiveram a Dra. Rosiane Mattar, Professora Titular do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, Presidente da Comissão Nacional Especializada de Gestação de Alto Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Diretora Científica da Associação De Obstetrícia E Ginecologia Do Estado De São Paulo (SOGESP); e Maria Rita De Souza Mesquita, ⁠Presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de SP (SOGESP), Primeira Secretária da AMB, ⁠Secretária Geral Adjunta da Associação Paulista de Medicina (APM) e Diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (RBEHG).

Assistência pré-natal

Quem abriu o painel foi a Dra. Lilian de Paiva Rodrigues Hsu, Diretora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de São Paulo, Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da FEBRASGO. Ela iniciou sua fala destacando que “a assistência pré-natal envolve um período de promoção à saúde que deve ser aproveitado para abordar, orientar e avaliar a mulher como um todo: seus hábitos de vida, sua condição nutricional, os fatores de risco que ela apresenta e suas queixas, tudo isso, necessariamente, acompanhado de um atendimento multidisciplinar.”

Após essa introdução, a especialista se dedicou a falar mais especificamente sobre a deficiência de nutrientes, um problema de saúde pública global. Destacou que isso “nem sempre está conectado apenas às condições socioeconômicas da paciente, mas também pode ser um reflexo de seus hábitos alimentares específicos ou de condições patológicas.”

Em seguida, elencou diversos cenários e as suplementações indicadas com base em estudos científicos, além de comentar sobre as imunizações, exames e manejo de doenças crônicas recomendados durante o processo gestacional para garantir a qualidade da assistência pré-natal.

Urgências hipertensivas na gestão

Dr. José Paulo De Siqueira Guida, Professor do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp, foi o convidado que deu continuidade às aulas médicas do painel. Trouxe para o debate a pré-eclâmpsia que tem se tornado mais comum no Brasil devido ao comportamento e escolhas das mulheres em grupos de risco para a doença estarem gestando, como obesidade (13% de risco), acima de 35 anos (2%), hipertensão crônica (2,9%) e gestação múltipla (se tornando mais comuns pelos tratamentos de fertilidade, 3,7%). E destacou que “distúrbios hipertensivos são a principal causa de morte materna no Brasil”.

Para o especialista, “o diagnóstico-clínico de pré-eclâmpsia deve ser realizado ao identificar a hipertenão associada a alguma lesão de qualquer órgão alvo, e não apenas a proteinúria, como acreditava-se anteriormente, que, inclusive, pode estar negativa e ainda assim a doença deve ser diagnosticada”.

Aleitamento materno

A Dra. Silvia Regina Piza, Assistente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do IMSCSP e Presidente da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno da FEBRASGO, iniciou sua fala apresentando dados estatísticos sobre o aleitamento materno no Brasil. Ela destacou um avanço significativo, considerando que, na década de 80, as taxas eram extremamente baixas, e, em 2019, alcançamos uma taxa de aleitamento materno exclusivo de 45% (dados mais atualizados disponíveis). No entanto, ela ressaltou que essa taxa ainda deveria ser muito mais alta, chegando a cerca de 100%, pelo menos na primeira hora de vida do recém-nascido.

Apesar disso, o Brasil é reconhecido mundialmente como referência em amamentação. Até os seis meses de vida, 41% das mães brasileiras alimentam seus filhos exclusivamente com leite materno, o que representa o dobro da taxa registrada em países como os EUA e o Reino Unido.

A especialista também alertou que a principal causa de desmame precoce são as complicações mamárias locais, por isso é tão importante o tema estar na programação de um encontro médico com profissionais de todas as especialidades.