Especialistas destacam crescimento alarmante de Acidente Vascular Isquêmico entre pessoas com menos de 40 anos

O avanço das neurociências e o impacto direto das descobertas clínicas na prática médica estiveram no centro das discussões de mais uma jornada científica voltada à atualização de profissionais da saúde. Reunindo especialistas de renome, a programação abordou temas de alta relevância para o dia a dia dos atendimentos neurológicos.
As palestras ofereceram uma visão crítica e atualizada das possibilidades terapêuticas e dos desafios que ainda permeiam condições neurológicas altamente prevalentes. O painel foi coordenado por Dr. Florival Meinão, secretário-geral da AMB e membro da Academia de Medicina de São Paulo (APM).
Expansão da janela terapêutica no Acidente Vascular Isquêmico
Dr. João Brainer Clares de Andrade, professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo e pesquisador clínico do Hospital Israelita Albert Einstein abriu a programação com uma análise técnica sobre o Acidente Vascular Isquêmico (AVCI), uma das principais causas de morte no Brasil, responsável por 300 óbitos por dia e com crescimento alarmante entre pessoas com menos de 40 anos.
O especialista destacou que a janela de tratamento, que antes se limitava a três horas, hoje pode chegar a 24 horas, com possibilidade de recuperação significativa. “A expansão do tempo é um conceito relativizado. Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maior será o benefício para o paciente”, afirmou.
Doença de Parkinson x Parkinsonismos Atípicos
Dra. Chien Hsin Fen, neurologista, mestre e doutora em Ciências pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP, apresentou uma perspectiva evolutiva sobre a Doença de Parkinson, destacando marcos históricos na pesquisa e avanços no entendimento da patologia.
Em sua apresentação, a especialista diferenciou a Doença de Parkinson dos chamados ‘Parkinsonismos Atípicos’, entre os quais se destacam a Atrofia de Múltiplos Sistemas e a Paralisia Supranuclear Progressiva.
A neurologista ressaltou que, por ainda ser classificado como uma doença e não uma síndrome, o Parkinson demanda uma definição biológica mais precisa. “É uma condição multifatorial, e a melhor forma de prevenção ainda é a mudança no estilo de vida”, afirmou ao encerrar sua palestra em uma sala lotada.
Tratamento da Enxaqueca
Responsável pelo Ambulatório de Cefaleia e Aligas Cranianas da Universidade Federal de São Paulo, Dr. Flávio Moura Rezende Filho apresentou um panorama sobre o tratamento da enxaqueca, condição que afeta cerca de 20% da população mundial e ocupa a segunda posição entre as maiores causas de anos vividos com incapacidade.
No Brasil, a condição atinge entre 15% e 20% da população. Caracterizada por cefaleia unilateral, pulsátil e agravada por esforço físico, a enxaqueca geralmente vem acompanhada de fotofobia, fonofobia e náuseas.
O especialista alertou para as limitações dos tratamentos convencionais: início de ação demorado, baixa eficácia em casos de uso excessivo e uma lista extensa de efeitos adversos. Ele destacou os avanços terapêuticos recentes, em especial os medicamentos que atuam sobre o CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), além de outras alternativas em profilaxia. Sua análise crítica incluiu também considerações sobre a prescrição criteriosa dos novos tratamentos.