Dr. José Eduardo Dolci afirma: “Não basta formar, é preciso saber se o médico está preparado” – AMB

Dr. José Eduardo Dolci afirma: “Não basta formar, é preciso saber se o médico está preparado”

Na mesa que discutiu a formação e o exercício profissional do médico durante o segundo dia do 3º Congresso de Medicina Geral da Associação Médica Brasileira (AMB), especialistas apontaram falhas na regulação e na qualidade do ensino médico no Brasil, e defenderam a criação de um exame nacional de licenciamento como forma de garantir profissionais mais bem preparados, proteger a população e ofertar uma assistência médica efetiva e de qualidade.

O médico Dr. José Eduardo Lutaif Dolci, diretor científico da AMB, foi direto ao ponto ao moderar e palestrar sobre a formação no Brasil, com a provocativa pergunta: “Precisamos de mais médicos?”. Ao apresentar o panorama atual — com 472 faculdades de Medicina no país —, ele alertou para a falta de critérios rigorosos de avaliação. “Temos hoje um número elevado de cursos, muitos com estrutura precária. É urgente discutir a qualidade da formação, e não apenas a quantidade de médicos”, afirmou.

Também defendeu a adoção de um exame de licenciamento médico, ao estilo do que ocorre em outros países. “Boa parte dos médicos e estudantes entende que precisamos de uma prova de suficiência. Isso dialoga com os alunos, com as famílias e, principalmente, com o bem-estar do paciente”, argumentou. Segundo Dolci, o objetivo não é punir, mas assegurar que quem recebe o título de médico esteja, de fato, preparado para atender a população.

O tema foi aprofundado pelo Dr. Fernando Sabia Tallo, membro titular da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e diretor Segundo Tesoureiro da AMB, que apresentou um panorama internacional dos processos de licenciamento. Ele destacou que, ao contrário do Brasil, onde o diploma permite automaticamente o exercício da profissão, em países como a China é obrigatório passar por uma prova nacional para obter o registro. “Na Índia, o sistema exige duas provas complementares, e na Rússia o processo é ainda mais restritivo”, exemplificou. Para Tallo, o Brasil precisa seguir esse caminho. “O licenciamento deve ser entendido como um instrumento de segurança pública em saúde.”

A médica Viviane Cristina Uliana Pertele, professora titular do curso de Medicina e diretora-geral da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), da Universidade do Distrito Federal, também participou da mesa e destacou que a discussão sobre o ensino médico deve ir além da expansão de vagas e incluir, de forma urgente, a qualidade da formação e seus reflexos na assistência à saúde. Segundo ela, enfrentar os desafios da formação médica no Brasil exige coragem para rever o modelo atual e assegurar que o futuro médico esteja, de fato, preparado para atender as demandas da população.