“Escolher a IA não adequada é como usar o martelo quando você precisa de um alicate”, alerta o Dr. Davi Ferreira Soares – AMB

“Escolher a IA não adequada é como usar o martelo quando você precisa de um alicate”, alerta o Dr. Davi Ferreira Soares

As múltiplas aplicações da inteligência artificial na medicina foram tema de uma mesa redonda que projetou o futuro e o presente da prática clínica no 3º Congresso de Medicina Geral da AMB. Especialistas debateram desde o uso da IA generativa além do ChatGPT, passando pela interdependência entre dados clínicos e algoritmos inteligentes, até o papel dos assistentes virtuais como ferramentas de suporte na rotina médica.

A discussão evidenciou como a incorporação estratégica da IA pode otimizar diagnósticos, personalizar tratamentos e ampliar a eficiência no atendimento, sem substituir a sensibilidade humana essencial à medicina. A responsabilidade da coordenação do debate ficou com o Dr. Antonio Carlos Endrigo, Diretor da Associação Paulista de Medicina, e Presidente da Comissão de Saúde Digital da AMB, e o Dr. Enrico Stefano Suriano, da Comissão Nacional do Médico Jovem da AMB.

Inteligência artificial generativa na saúde

O painel teve início com a palestra do Dr. Davi Ferreira Soares, médico e engenheiro de IA na Voa Health, empresa brasileira voltada ao desenvolvimento de soluções de inteligência artificial para médicos. O especialista iniciou sua apresentação explicando, de forma acessível, os aspectos técnicos da IA generativa, desde o processamento de dados até sua aplicação específica na área da saúde.

Ele comentou brevemente sobre como a inteligência artificial vem sendo utilizada em diversos setores: na bioinformática em laboratórios, com precisão já variando entre 62% e 76%; na pesquisa científica, simulando ensaios clínicos, como ocorreu no desenvolvimento acelerado das vacinas contra a covid-19; no diagnóstico por imagem; na integração multimodal de dados; e na automação de documentos, que atualmente consomem cerca de 50% do tempo dos atendimentos médicos. Para cada um desses usos, o palestrante apresentou exemplos de ferramentas já disponíveis no mercado.

Apesar dos avanços, o Dr. Davi fez um alerta importante sobre os riscos associados ao uso da IA, como as chamadas “alucinações”, que são respostas incorretas geradas pela falta de dados ou pela degeneração de contexto, e a imperícia no manuseio das ferramentas. “A escolha errada da IA é como usar um martelo quando você precisa de um alicate”, exemplificou.

Inteligência artificial nos dados clínicos e na rotina médica

Com a proposta de aprofundar o debate sobre dados clínicos na era da inteligência artificial, o painel contou com a participação do Dr. Paulo Salomão, conselheiro do HL7 Brasil, organização responsável pela padronização da troca de dados em saúde, e criador do primeiro prontuário eletrônico Web do país.

O especialista iniciou sua apresentação elogiando o 3º Congresso de Medicina Geral da AMB pela presença do tema IA em diversas palestras, destacando que, em geral, esse tipo de abordagem é mais comum em grandes eventos voltados especificamente à tecnologia. Em seguida, detalhou como ocorre o processamento dos dados clínicos por ferramentas baseadas em IA, os fundamentos legais que embasam seu uso e de que forma essas soluções podem ser integradas à jornada do paciente, promovendo mais eficiência, segurança e personalização no cuidado em saúde.

O Dr. Matheus Feliciano da Costa Ferreira, médico especialista em inteligência artificial aplicada à saúde e educação, contribuiu com o painel trazendo o foco para o uso da tecnologia no apoio ao diagnóstico médico. Um dos principais destaques de sua apresentação foi a reflexão sobre o chamado “paradoxo da colaboração” entre médicos e sistemas de IA na prática clínica, ilustrada com dados estatísticos de estudos científicos. O especialista abordou como a interação entre profissional e tecnologia pode tanto potencializar a tomada de decisão quanto levantar desafios éticos e operacionais, reforçando a importância do preparo técnico e do pensamento crítico no uso dessas ferramentas.