I Congresso de Associativismo Médico - AMB

I Congresso de Associativismo Médico

Em 1º e 2 de outubro, a Associação Médica Brasileira (AMB) promoveu o I Congresso de Associativismo Médico. Focado no fortalecimento da atividade médica e, naturalmente, do próprio associativismo, propiciou debates de extrema relevância, como as perspectivas do sistema de saúde neste momento da Covid e no pós; formação em Medicina; defesa profissional, entre outros tantos. 

O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, abriu oficialmente os trabalhos ponderando sobre a necessidade de o movimento associativo ir a fundo em um processo de revisão organizacional e financeira. Ter contas administradas de forma austera, gestão moderna e integrada, um modelo de contribuição comum, agilidade em defesa do médico são alguns dos desafios inadiáveis. 


Especial

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi um dos convidados especiais. Esteve no painel “O médico e a sociedade”, tratando de questão que se agrava dia a dia, com consequências nocivas aos cidadãos:  o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

O papel das diversas instâncias federativas sob o aspecto da destinação de recursos veio à pauta, por consequência. Vale lembrar que hoje falta equidade ao financiamento. 

O desequilíbrio se arrasta há décadas, desde a Emenda Constitucional 29 quando então foram estabelecidos os índices para a dotação orçamentária de 10% para União, 12% para estados e 15% para municípios. No entanto, houve demora para a normatização, além de outros obstáculos. O mais recente o congelamento de investimentos por 20 anos, pela Emenda Constitucional 95, no governo Temer. Só em 2019, a Saúde perdeu R$ 20 bilhões por conta dessa chamada Emenda do Teto de Gastos. Enquanto a saúde não teve qualquer aumento, a receita da União cresceu 27%.

Quando à pandemia da Covid-19, o ex-ministro da Saúde defendeu que os médicos se unam para elencar propostas e apresentá-las aos candidatos, influenciando no debate e angariando compromissos com a sociedade e com a Medicina. 

Marcos Gutemberg, presidente da Federação Nacional dos Médicos, pontuou que “sem financiamento adequado para políticas públicas focadas no acesso universal de fato, na oferta de leitos e postos suficientes para atender os pacientes, o SUS seguirá ótimo no papel, mas não completo, na prática”. 

A discussão sobre formação médica foi coordenada por Gerson Junqueira Jr, presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul, em conjunto com o Ivan Cecocconello, professor de Cirurgia do Aparelho Digestivo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. José Eduardo Dolci, diretor científico na AMB, trouxe à polêmica a complexidade do ensino médico, a matriz curricular, o sistema de acreditação de escolas médicas e a residência médica no Brasil. 

Lembrando que a mais recente mudança da Diretriz Curricular Nacional da Medicina, em 2014, veio junto com a lei do “Mais Médicos”, mexendo profundamente com postulados do ensino médico. 

“Precisamos focar na qualidade seja na formação de médicos generalistas quanto na de especialidades. Essa é uma questão que requer responsabilidade e equilíbrio”, pontua José Eduardo Dolci.

Houve também o painel Responsabilidade e Judicialização da Medicina. César Eduardo Fernandes, presidente da AMB, afirma tratar-se de assunto cada vez mais presente no dia a dia dos médicos exigindo, assim, o aprofundamento da polêmica para esclarecimentos e orientações responsáveis, resguardadas sob o aspecto legal e, portanto, seguras.

Nerlan Tadeu Gonçalves de Carvalho, presidente da Associação Médica do Paraná, e Florisval Meinão, ex-presidente da Associação Paulista de Medicina, mostraram que em anos recentes, as sociedades de especialidades médicas se fortaleceram, cresceram em número de associados e criaram um círculo virtuoso sustentável. 

Esse mesmo caminho deve ser percorrido pelas Federadas e a AMB, sendo fundamental discutir como e de que maneira. A pergunta quando nem é necessária, pois há consenso de que é para já.  

Meinão, diretor administrativo da APM, argumentou que se faz urgente a busca de caminhos ao associativismo de forma planejada e focada no engrandecimento continuado, principalmente, das Federadas.

Guido Palomba, especialista em psiquiatria forense e diretor Cultural da Associação Paulista de Medicina, proferiu conferência sobre a Síndrome de Burnout. Apresentou um panorama sobre a síndrome, causas, formas de manifestação, além de enfatizar o aumento de casos na pandemia da Covid-19. 

Em tempos recentes, aliás, a linha de frente da Covid-19 estava exausta física e emocionalmente, apresentando ainda outros sintomas de Síndrome de Burnout. O retrato veio de I pesquisa nacional Os médicos e a pandemia de Covid-19, da própria AMB, com participação de 3.882 profissionais de Medicina de todas as regiões do País, em janeiro de 2021.

Guido Palomba ainda comentou como enfrentar o Burnout tendo como aliados os exercícios físicos, descanso, a redução de estresse e com mínimo uso de remédios.

O Congresso de Associativismo Médico também contou com mesa especificamente dedicada para a Defesa Profissional, tendo como moderador Agnaldo Lopes da Silva Filho, presidente da FEBRASGO. Isso com vistas a qualificar as ações para a valorização do médico e o exercício digno da Medicina. 

Na pauta, aspectos do dia a dia profissional, desde a remuneração na saúde suplementar e rede pública; a formação em todos os níveis, legislação em saúde; incorporação de novas tecnologia, entre outros.

Participaram da conferência os palestrantes José Fernando Macedo, diretor da AMB, Miyuki Goto, consultora técnica da CBHPM, Marun Cury, da APM, Luiz Carlos Von Bahten, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e João Sobreira, vice-presidente APM. 

Miyuki Goto asseverou que a discussão sobre remuneração médica é mais que necessária, é imprescindível:  

“É visto que em algum momento da história da civilização humana, adotou-se um entendimento da atividade médica como um sacerdócio, ato de doação e altruísmo e que a remuneração ou ganho por esta atividade teria relevância secundária. No entanto, a despeito de o médico continuar com seu alto grau de dedicação aos pacientes, como vemos nesta pandemia da Covid, a atuação do profissional exige, além de boa formação acadêmica, retorno adequado, treinamentos específicos para curva de aprendizado ascendente e acúmulo de experiência”.