“Má qualidade do sono está associada a diversas comorbidades e impactos no cotidiano”, alerta Dra. Rosa Hasan

O sono como peça-chave na prática médica foi o foco de uma das mesas redondas do último dia do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB. Especialistas abordaram desde os impactos das comorbidades no padrão de sono até as consequências clínicas de distúrbios como a apneia e o ronco. Os destaques foram a relevância do sono na gestão de doenças crônicas e na qualidade de vida dos pacientes, orientações sobre como conduzir, de forma ética e eficaz, as queixas relacionadas à insônia, e os riscos silenciosos dos distúrbios respiratórios do sono, muitas vezes subestimados no cotidiano clínico.
Com coordenação do neurologista Dr. Fernando Gustavo Stelzer, médico especialista em Medicina do Sono pela AMB e assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, a mesa reforçou a importância de que médicos generalistas estejam atentos ao sono como um marcador essencial de saúde.
Importância do sono na prática médica
O painel foi aberto pela Dra. Rosa Hasan, médica neurologista e especialista em Medicina do Sono pela AMB, responsável pelo serviço de Medicina do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP e pelo setor de polissonografia do Alta Excelência Diagnóstica. Ela iniciou sua apresentação com uma definição enfática: “O sono é um processo fisiológico essencial para manter a nossa saúde física e mental. Na prática médica, a avaliação e a promoção de um sono adequado são fundamentais, pois a privação ou a má qualidade do sono estão associadas a diversas comorbidades e impactos negativos no cotidiano dos pacientes.”
Durante sua fala, apresentou uma escala que relacionava faixas etárias às horas de sono recomendadas, destacando que, com o passar dos anos, essa necessidade tende a diminuir. Para adultos entre 18 e 64 anos, a média ideal varia entre 7 e 9 horas por noite. A médica ressaltou as consequências de um sono de má qualidade, amplamente documentadas por estudos científicos: prejuízos à memória e à atenção, comprometimento do sistema imunológico, problemas cardíacos, alterações na aparência e na sexualidade, ganho de peso, dificuldade de concentração, variações de humor e até aumento no risco de acidentes e no comprometimento da saúde mental.
Atualmente, mais de 50 CIDs estão relacionadas a distúrbios do sono — entre elas, insônia, apneia obstrutiva do sono, síndrome das pernas inquietas, entre outras. Por isso, a Dra. Rosa enfatizou a importância de valorizar o sono já na anamnese, abordando comorbidades associadas e, sempre que necessário, encaminhando o paciente para avaliação especializada.
Medicamentos para dormir
Para introduzir o tema do uso de medicamentos na abordagem dos distúrbios do sono, assumiu o palco o Dr. Alexandre Pinto de Azevedo, médico psiquiatra assistente do Programa de Transtornos do Sono do Instituto de Psiquiatria, professor da Residência Médica em Medicina do Sono do HCFMUSP, docente do Curso de Especialização em Medicina do Sono do InCor-HCFMUSP e coordenador científico da Comissão de Sono da Associação Paulista de Medicina.
Em sua apresentação, o especialista destacou a importância de especificar detalhadamente as queixas relacionadas ao sono para que se possa realizar um diagnóstico preciso e, consequentemente, uma prescrição adequada. “É essencial diferenciar, por exemplo, um quadro de insônia crônica de outros diagnósticos diferenciais que apenas simulam insônia”, alertou.

Entre os exemplos apresentados, o Dr. Alexandre explicou que, nos casos em que o paciente relata dificuldade para iniciar o sono, as causas podem incluir má higiene do sono, atraso da fase do sono (como consequência de horários irregulares para despertar) ou ainda a síndrome das pernas inquietas. Esta última, inclusive, também pode estar presente em pacientes com dificuldade para manter o sono, assim como a apneia obstrutiva. Cada um desses distúrbios, isolados ou combinados, exige protocolos específicos de tratamento e, quando necessário, intervenções farmacológicas personalizadas.
Para colaborar com o tema, assumiu a fala o Dr. Danilo Anunciatto Sguillar, Secretário de Departamento de Medicina do Sono da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial. Ele trouxe para o painel o foco no ronco e seus reflexos na saúde do paciente. Um dos destaques de sua fala é que, apesar da associação ser bastante comum, nem sempre o ronco está associado a apneia do sono, um pode acontecer sem o outro e deve ser avaliado com atenção para o diagnóstico.