Presidente da AMB alerta para crise na formação médica durante palestra no Hospital da Mulher

Na última quinta-feira (23), o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes, ministrou a palestra “Crise no Ensino Médico do Brasil na Atualidade” no Hospital da Mulher (antigo Pérola Byington), em São Paulo. O encontro reuniu diretores, médicos, profissionais da saúde e residentes do hospital, para discutir os desafios da formação médica no país e os reflexos diretos na qualidade da assistência à população.
Durante sua exposição, o Dr. César Fernandes chamou atenção para o crescimento desordenado das escolas médicas no Brasil nas últimas duas décadas. Segundo ele, muitas instituições foram abertas sem infraestrutura adequada e sem corpo docente qualificado, o que tem resultado na formação de profissionais despreparados para lidar com a complexidade do sistema de saúde brasileiro.
“Estamos formando médicos em ritmo acelerado, mas sem garantir a qualidade necessária. Isso coloca em risco não apenas o futuro da profissão, mas também a segurança dos pacientes”, alertou o presidente da AMB.
O médico apresentou dados que dimensionam a gravidade do cenário: até o fim deste ano, o Brasil deve ultrapassar 630 mil médicos ativos, com projeção de chegar a 1,1 milhão em 2025. Para ele, o aumento numérico não se traduz em qualidade.

Cinco pontos críticos
César Fernandes elencou cinco aspectos centrais que, em sua avaliação, sintetizam a crise atual do ensino médico no país:
- Expansão desordenada: Crescimento majoritariamente privado, com falhas graves de infraestrutura e ausência de preceptores qualificados.
- Gargalo na residência médica: Oferta insuficiente de vagas frente ao número crescente de formandos.
- Má distribuição geográfica: Concentração de médicos em grandes centros urbanos e no setor privado, deixando vazios assistenciais em diversas regiões.
- Qualidade comprometida: Formação prática deficiente e educação baseada em competências ainda incipiente, com relatos crescentes de falhas éticas.
- SUS sob pressão: Sistema sobrecarregado por carência estrutural, acúmulo de demandas e desigualdades no acesso.
Falta de políticas públicas e necessidade de avaliação nacional
O presidente da AMB também criticou a ausência de políticas públicas consistentes para valorização do ensino médico. Ele destacou o enfraquecimento das residências e a falta de investimento em hospitais de ensino como fatores que agravam o problema.
César Fernandes defendeu ainda a implementação de uma avaliação nacional obrigatória para egressos dos cursos de medicina, como forma de assegurar um padrão mínimo de competência profissional.
Impactos no SUS e na sociedade
Para o dirigente, as deficiências da formação médica repercutem diretamente no Sistema Único de Saúde (SUS) e na qualidade do atendimento à população. Segundo ele, os efeitos se manifestam em áreas críticas como segurança do paciente, desigualdade regional, descrédito profissional, sobrecarga do sistema público, retrocesso tecnológico e perda de confiança nas instituições formadoras.
Caminhos e soluções
Como possíveis soluções, o presidente da AMB apontou medidas estruturais e políticas, entre elas:
- Reequilíbrio do FIES, com maior proteção ao estudante e renegociação ampla;
- Expansão qualificada da residência médica;
- Organização de eixos estruturantes de longo prazo;
- Implementação de exames de proficiência e de progresso, como o ENAMED, e revisão regulatória do ensino.
“A crise é menos sobre quantidade de médicos e mais sobre qualidade, distribuição e integração com o SUS”, enfatizou.
Compromisso com a excelência
Encerrando o evento, Dr. César reafirmou o compromisso da AMB com a defesa da excelência na formação e na prática médica no Brasil.
“A medicina brasileira só poderá avançar se a formação dos novos profissionais for tratada com seriedade e responsabilidade. A crise decorre da expansão desordenada, da avaliação insuficiente, das fragilidades estruturais e do gargalo na residência. É urgente alinhar formação, regulação e financiamento à excelência e à equidade”, concluiu.




Assessoria de Comunicação da AMB