Primeiro encontro de jovens médicos da AMB na confemel destaca desafios comuns e inspira novas soluções – AMB

Primeiro encontro de jovens médicos da AMB na confemel destaca desafios comuns e inspira novas soluções

Jovens médicos no primeiro encontro durante a Confemel

Após sua participação em evento da Confederação Médica Ibero-Latino-Americana (Confemel 2024), realizada no final de 2024, a Dra. Marcela Pavani, representante da Comissão Nacional do Médico Jovem da Associação Médica Brasileira (AMB), compartilhou suas impressões sobre os desafios enfrentados por médicos em início de carreira em diferentes países da região. A médica destacou a importância da organização dos jovens profissionais, relatou experiências inspiradoras vividas no Peru e reforçou a necessidade de união da categoria para enfrentar questões como saúde mental, precarização do trabalho e violência no ambiente médico.

O evento da Confemel em 2024 reuniu representantes de vários países da América Latina, da Península Ibérica e do Caribe. Qual foi o papel dos médicos jovens nesse cenário internacional e como essa participação fortalece a atuação da nova geração no Brasil?

No contexto da Confemel, foi realizado o primeiro encontro de jovens médicos da América Latina, Península Ibérica e Caribe, organizado pelo comitê de jovens médicos do Peru. Nesse evento, pôde-se notar que o protagonismo do jovem medico é um fenômeno mundial, explicado pela mudança do perfil sociodemográfico do médico.

Alguns países, como o Peru, encontram-se mais desenvolvidos na conscientização da importância do médico jovem, contando com um comitê que desenvolve projetos próprios de relevância reconhecida e apoia a execução de projetos de outros comitês. O protagonismo desse grupo inspira médicos jovens de países vizinhos, inclusive do Brasil. Houve uma mudança significativa recente na carreira médica em todo o mundo e compreender os novos desafios e enfrentá-los é papel do médico jovem. Não devemos nos furtar de defender o exercício digno da nossa profissão e contar com experiências de organização bem-sucedidas como exemplo é fundamental para tanto.

Durante o evento, quais foram os temas mais debatidos em relação à realidade dos médicos em início de carreira? Houve alguma pauta que a surpreendeu ou que a sra. considera urgente trazer para o debate nacional?

Pode-se dividir o grupo que contempla o médico jovem em três subgrupos: aqueles que ainda não são médicos, mas que o serão em breve, ou seja, o estudante de medicina; o recém-formado, que busca ou não uma residência médica ou que está na residência; e por fim, o especialista em início de carreira ou que busca se consolidar no mercado. A divisão nesses grupos foi apresentada pela comissão peruana para melhor delimitação de perfis, já que cada um desses grupos abarca anseios e desafios próprios e demanda apoio diverso. No que tange especificamente ao médico em início de carreira, temas de grande relevância trazidos ao encontro foram a saúde mental do médico jovem, a violência sofrida pelo profissional no local de trabalho e a redução da confiança e do respeito no seu trabalho por parte da população, a remuneração, as condições de trabalho e a concorrência para as vagas de residência médica. Surpreendentemente, os desafios enfrentados pelos países são os mesmos, sendo possível a discussão fértil de ideias e a inspiração a partir de planos bem-sucedidos colocados em prática pelos vizinhos. Todos esses temas citados são de urgente abordagem também no cenário brasileiro. Uma experiência bem-sucedida peruana a ser citada é o canal de comunicação eficaz criado pela comissão do médico jovem com os médicos em início de carreira, o que os possibilita realizar denúncias, especialmente no que tange à violência e questões de saúde mental, e apontar desafios buscando enfrentamento conjunto.

Sabemos que a transição entre a formação médica e o exercício profissional pode ser desafiadora. De que forma a Confemel contribuiu para ampliar a visão dos jovens médicos sobre os caminhos possíveis dentro da medicina?

Na Confemel, foi possível conhecer um pouco das particularidades da carreira médica em cada país participante e, a partir dessa experiência, ter insights sobre a atuação no contexto brasileiro. A comissão do médico jovem do Peru é composta por representantes de cada distrito peruano e cada um desses representantes exerce a profissão de forma distinta, em áreas médicas diversas. Foi bastante proveitoso vê-los todos presentes discutindo as mazelas de suas regiões, de suas áreas médicas e de suas carreiras, buscando um uníssono de apoio mútuo. Por exemplo, há componentes da comissão de médicos jovens peruana que buscam uma vaga na residência médica, outros já especializados, outros generalistas em áreas rurais, outros ainda optaram pela gestão (pública ou privada) sem atuar no assistencialismo. Há um intercâmbio de visões e de possibilidades. Além da experiência peruana, os representantes de outros países da América Latina também trouxeram uma visão geral da carreira médica em seus países e somaram para a compreensão de que existem mais possibilidades de carreira do que costumamos contemplar na faculdade de medicina.

Houve uma mudança significativa recente na carreira médica em todo o mundo e compreender os novos desafios e enfrentá-los é papel do médico jovem”

A diversidade de contextos regionais entre os países participantes do evento certamente trouxe reflexões ricas. Houve algum exemplo internacional de valorização do médico jovem que a Sra. acredita que poderia ser adaptado à realidade brasileira? Ou importante para ser citado aqui?

No contexto da América Latina, o Peru é o país mais desenvolvido no quesito posicionamento e organização dos médicos jovens. Embora seja uma atuação recente, eles institucionalizaram o comitê do médico jovem como organização dentro de um órgão similar à AMB peruana (no que seria para nós uma mistura entre AMB e CFM), que possui capacidade de apresentar propostas próprias e de executar projetos. Atingiram tamanho sucesso que passaram a ser o porta-voz de questões trazidas pelos acadêmicos, residentes e médicos recém-formados, estabelecendo uma rede de comunicação efetiva entre o médico na assistência e o órgão de gestão. Comitês antigos já bem estabelecidos passaram a contar com o apoio dos jovens na execução dos próprios projetos de tais comitês. Cientes do protagonismo na organização do médico jovem, os peruanos sediaram esse evento, que foi o primeiro do gênero na América Latina, buscando servir de exemplo e estimular os países vizinhos no sentido de empoderar o médico jovem. Mostraram-se transparentes com os êxitos e percalços enfrentados e estimulados a contribuir com a medicina e o contexto em que se inserem os profissionais em nível internacional. Embora o Peru guarde diferenças sociodemográficas em relação ao Brasil, esse encontro deixou claro que os desafios enfrentados pelo médico nos países latino-americanos e ibéricos são mais similares do que poderíamos imaginar a princípio. Dessa forma, espelhar-se em exemplos bem-sucedidos vizinhos é combustível para nosso próprio desenvolvimento.

Por fim, que mensagem a sra. traz da Confemel 2024 para os médicos jovens brasileiros que ainda estão buscando seu espaço? Há motivos para otimismo nesse novo ciclo que se abre para a medicina latino-americana?

Drª. Marcela Pavani, representante da Comissão Nacional do Médico Jovem da Associação Médica Brasileira (AMB)

Definitivamente, a medicina do futuro próximo é jovem. Estatisticamente, em poucos anos, a esmagadora maioria dos médicos em atividade será jovem (pessoas que contarão com até 40 anos de idade ou 10 anos de formados). Isso se explica pelo massivo aumento do número de egressos no mercado, fomentado pelo crescente número de faculdades de medicina. Tal realidade traz preocupações próprias que se encontram em fértil discussão, mas também traz adaptações e mudanças, como é próprio do desenvolvimento da sociedade. Apesar das mudanças, a medicina continuará sendo uma profissão honrosa e recompensadora, com inúmeras possibilidades de carreira. Esse contexto é compartilhado pelos países latino-americanos e ibéricos. A porta que se abre para cooperação mútua entre o grande grupo de médicos jovens também traz novas ideias e fôlego para enfrentamento conjunto dos desafios que a nova realidade impõe. O sentimento é de esperança ao testemunhar medidas que estão sendo tomadas em prol da medicina em países vizinhos. Todos nós temos um papel a ser exercido com esse objetivo, seja dentro da nossa instituição, no nosso exercício assistencial, de gestão ou de ensino. Precisamos nos unir, internamente e com os vizinhos, em defesa do exercício digno da nossa profissão, do tratamento de qualidade aos pacientes e de proteção à saúde da população.