“Quem parou de se atualizar sobre o câncer colorretal pode tomar a decisão errada”, alerta cirurgião Dr. Raul Cutait

“É muito importante um evento como este, porque nos permite aprender um pouco daquilo que nós não fazemos…mas somos consultados sobre eles pelos pacientes”. Assim foi aberta uma das palestras especiais trazendo o tema do tratamento do câncer colorretal e como convidado o médico cirurgião Dr. Raul Cutait, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, membro da Academia Nacional de Medicina Cirurgião do Hospital Sírio Libanês e presidente do Conselho Superior de Responsabilidade Social da FIESP. Um painel que teve como anfitrião na coordenação o Dr. José Eduardo Lutaif Dolci, professor titular de Otorrinolaringologia da FCMSCSP e diretor científico da AMB.
O tema foi destaque em um dos quatro encontros especiais que integraram a programação do 3º Congresso de Medicina Geral da AMB. A escolha se justifica: trata-se de uma doença cuja relevância vem crescendo em todo o mundo, tanto pelo aumento no número de casos quanto pela rápida evolução das alternativas terapêuticas.
“Quem parou de se atualizar há cinco anos pode tomar decisões equivocadas”, alertou o cirurgião, que já ocupou os cargos de Secretário Municipal da Saúde de São Paulo e presidente de sociedades médicas nacionais e internacionais.
Segundo ele, “o câncer colorretal é o terceiro tipo mais comum no Brasil, atrás apenas dos cânceres de mama e de próstata. Em 2023, foram estimados 46 mil casos”. O especialista também chamou atenção para uma característica marcante: “estudos apontam maior incidência da doença em países mais ricos”.
Outro dado preocupante apresentado na palestra foi o crescimento de casos entre pessoas com menos de 50 anos de idade — um grupo em que a doença, segundo pesquisas, tende a evoluir de forma ainda mais agressiva do que em pacientes mais velhos.
Um dos pontos altos da apresentação do Dr. Cutait foi a linha do tempo ilustrativa, que mostrou a evolução do tratamento ao longo das décadas. O percurso vai desde o tempo em que a única alternativa era a amputação do reto — sem protocolos padronizados — até os avanços mais recentes, que incluem técnicas com preservação esfincteriana, controle da recidiva local, terapias adjuvantes e neoadjuvantes, e cirurgias laparoscópicas.
“Saímos de um conceito centrado na amputação do reto para uma abordagem que prioriza a preservação, com ressecções locais menos agressivas, menor índice de complicações, melhores resultados funcionais e mais recursos técnicos disponíveis”, destacou.
Apesar dos avanços, o especialista lembrou que o tratamento ainda envolve cirurgias extensas, com riscos de complicações, impacto sobre as funções evacuatórias e genitourinárias, limitações para pacientes com comprometimento esfincteriano e a exigência de um cirurgião experiente, além de estrutura hospitalar adequada.
Atualmente, pesquisas já indicam resultados promissores com o uso exclusivo de imunoterapia, além de esquemas que combinam imunoterápicos e quimioterápicos. Ainda assim, o Dr. Cutait concluiu reforçando:
“Já existem muitas opções, mas as cirurgias extensas ainda são o padrão ouro, enquanto seguimos buscando condutas que preservem o reto sempre que possível.”