“Rastrear o câncer de pulmão é urgente, mas ainda enfrentamos barreiras no Brasil”, alerta Dr. Wolfgang Aguiar

A detecção precoce do câncer de pulmão e os desafios da Cirurgia Torácica no sistema público foram temas centrais da mesa-redonda realizada no último dia do 3º Congresso de Medicina Generalista (CMG), promovido pela Associação Médica Brasileira (AMB). A moderação ficou a cargo do Dr. Artur Serra Neto, presidente da AMB-MA, que conduziu o debate com especialistas da área.
Entre os participantes, o Dr. Wolfgang Aguiar, membro da Diretoria Executiva da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), chamou atenção para a necessidade de implementar políticas de rastreamento do câncer de pulmão, com foco em pacientes de alto risco. “Precisamos fazer o rastreamento, e o exame mais indicado é a tomografia. Raio-x não vai resolver”, destacou. Para ele, o Brasil precisa tratar o câncer de pulmão com a mesma seriedade com que já rastreia neoplasias como o câncer de mama.
Dr. Wolfgang também alertou para obstáculos que ainda impedem a aplicação prática dessas diretrizes no país, como a escassez de equipamentos, barreiras culturais, estigma e ausência de protocolos nacionais. “Nos próximos 30 anos, o câncer de pulmão será responsável pelo maior custo em saúde oncológica. Rastrear precocemente significa não só salvar vidas, mas também gerar economia para o sistema público”, enfatizou.
Para o Dr. André Miotto, professor adjunto da Disciplina de Cirurgia Torácica da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, a Cirurgia Torácica é como uma ferramenta que pode adiar a morte e oferecer qualidade de vida para pacientes de alta complexidade. Ele ressaltou a importância de decisões rápidas e do trabalho conjunto entre as especialidades. “A atuação integrada é essencial para alcançar os melhores desfechos”, afirmou.
Já o Dr. Alessandro Mariani, diretor de Assuntos Internacionais da SBCT, tratou das complicações cirúrgicas relacionadas à pneumonia, como o empiema e o abscesso pulmonar. Embora sejam situações menos frequentes, ele explicou que a cirurgia pode ser indicada em casos com derrame pleural ou espessamento. “A investigação começa com o raio-X, mas é a tomografia que realmente direciona a conduta. O problema é que muitos hospitais não têm acesso a esse exame”, lamentou.
Fechando o debate, o Dr. Artur Serra Neto questionou como garantir rastreamento de qualidade diante da falta de tomógrafos em diversas regiões do país. “Esse é um gargalo fundamental. Precisamos pensar em como garantir acesso ao diagnóstico precoce para além dos grandes centros urbanos”, afirmou.