“Sem união, não há medicina” destacam representantes de entidades médicas em debate sobre associativismo e ética no 3º CMG

Durante a 3ª edição do Congresso de Medicina Generalista (CMG), a mesa-redonda “AMB, Associativismo e Ética Médica” reuniu representantes de entidades médicas de todo o país para debater os rumos da profissão em um cenário marcado por expansão desordenada de escolas médicas, pressão sobre os sistemas de saúde e desafios éticos crescentes.
O secretário-geral da Associação Médica Brasileira (AMB) e ex-presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Florisval Meinão, ressaltou a necessidade de fortalecer o papel das associações médicas para garantir qualidade na formação e na prática médica. “Essa mesa tem uma importância fundamental. Não existe medicina sem uma associação forte e unida. É por meio dela que conseguimos enfrentar os desafios coletivos da categoria”, afirmou.
Etelvino de Souza Trindade, presidente da Academia de Medicina de Brasília e vice-presidente da AMB na região Centro-Oeste, alertou para os riscos da formação médica acelerada e sem critérios. “Precisamos de mais ética. O país não pode continuar criando vagas de residência médica sem planejamento. Hoje, muitos jovens terminam a faculdade inseguros e sem a formação adequada para atender com qualidade”, disse.
O médico Marun David Cury, diretor de defesa profissional da APM, tratou do papel do associativismo na defesa da profissão, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na saúde suplementar. Chamou atenção para a desigualdade na distribuição de médicos e para a formação precária de generalistas. “Temos regiões com excesso de médicos e outras com carência, como o Norte e o Nordeste. E 90% dos problemas de saúde se resolvem na atenção primária, mas o médico recém-formado não está preparado para isso”, alertou.
Para Antonio José Gonçalves, presidente da APM, o associativismo é essencial para garantir representatividade e qualidade na medicina. “A APM cresceu por meio da união dos médicos. Sem isso, não há defesa profissional sólida, nem compromisso com a qualidade do atendimento à população”, afirmou. Ele defendeu a valorização das sociedades de especialidades e criticou modelos de formação que não priorizam a prática e a responsabilidade.
Carlos Henrique Mascarenhas, diretor de Defesa Profissional da AMB, destacou a importância da articulação da entidade com órgãos como o Ministério da Saúde, Ministério da Educação e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “A AMB representa os médicos nas grandes instâncias. Precisamos estar unidos para influenciar políticas públicas e garantir condições dignas de trabalho e formação”, disse.
Fechando a mesa, Miyuki Goto, consultora técnica da CBHPM – AMB, abordou a importância da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos na valorização do ato médico. Segundo ela, houve avanços, mas ainda falta reconhecimento. “A CBHPM é uma ferramenta importante, mas precisamos continuar trabalhando para que ela seja aplicada de forma justa, refletindo a complexidade e a responsabilidade dos procedimentos médicos”, avaliou.
A mesa reforçou a necessidade de fortalecer o associativismo médico, unindo profissionais em torno da valorização ética, técnica e institucional da medicina no Brasil.