Sociedade de Neurologia - Poliomielite, ricos e condutas - AMB

Sociedade de Neurologia – Poliomielite, ricos e condutas

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A neuropediatra Alexandra Prufer de Queiroz Campos Araujo, professora Associada de Neuropediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Doenças Neuromusculares do IPPMG-UFRJ, comenta, com exclusividade, o estudo Re-Emergence of Poliovirus in the United States: Considerations and Implications (pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36120838/), que alerta para a diminuição global da vacinação contra a poliomielite na esteira da pandemia da Covid. Confira a seguir.

“O artigo publicado em novembro de 2022 no Annals of Neurology por Russo e colaboradores (1) nos apresenta um sinal de alerta em relação a uma doença infecciosa parcialmente erradicada no mundo pela imunização (2). A infecção pelo poliovirus selvagem (PVS) mantém-se endêmica no Paquistão e no Afeganistão (2). Por este motivo, a vigilância pela notificação de casos suspeitos, em conjunto com a persistência da cobertura vacinal eficaz, são os pilares do controle ainda sujeito ao aparecimento de novos surtos.

A motivação do artigo publicado no Annals of Neurology (1) parte de um caso notificado em julho de 2022, em um adulto jovem americano não vacinado que apresentou paralisia flácida. Houve confirmação de se tratar de um poliovirus vacinal tipo 2 (PVV2) e verificado que ele circulava na região da ocorrência, assim como em outras regiões do mundo.

Nos Estados Unidos, a última notificação de infecção pelo PVS havia sido em 1979 (3). Dez anos depois, ocorreu no Brasil o último registro de poliomielite no estado da Paraíba, e as Américas receberam o certificado de erradicação da transmissão autóctone do Poliovírus Selvagem (PVS) em 1994 (4). Trata-se de vírus de alta contagiosidade, portanto, de fácil disseminação entre populações com baixa adesão ao esquema de imunização. Apesar da maioria das infecções cursarem com quadro assintomático ou brando, a possibilidade da neuroinfecção com sequelas motoras perenes reforça a importância de seu controle (5).

O PVV usado na vacina oral é um vírus atenuado cuja vantagem é sua eliminação nas fezes dos vacinados, auxiliando na potencial imunização de terceiros ao serem contaminados por ele. No entanto, o PVV da vacina Sabin, exatamente por ser um vírus vivo atenuado, pode sofrer mutações e se tornar novamente um vírus selvagem (2). A redução desse risco só é possível com cobertura vacinal de 95 %. No Brasil, tínhamos até 2015 uma excelente cobertura vacinal, seguindo-se, a partir daí, sua lenta e progressiva queda, chegando ao final de 2021 com cobertura para a imunização de polio próxima a 60% (6). Pelo calendário do Programa Nacional de Imunização, a vacinação se inicia com doses aos 2, 4 e 6 meses, e um reforço aos 15 meses (7).

Investigação da etiologia do poliovirus, outra ação de controle da poliomielite, deve ser realizada em todo caso de paralisia flácida aguda. As fezes do paciente com caso suspeito, encaminhadas ao laboratório para a pesquisa do PVS. E o laboratório deve ser notificado (8).

A revisão não sistemática do artigo de Russo e colaboradores apresenta uma atualização na epidemiologia, seguindo com uma revisão sobre a importância da notificação e uma lembrança do quadro da poliomielite, voltada particularmente para os neurologistas mais jovens, que não acompanharam pessoalmente casos dessa neuroinfecção”.

REFERÊNCIAS

1. Re-Emergence of Poliovirus in the United States: Considerations and Implications. Grace B Russo, Tarini Goyal, Kenneth Tyler, Kiran T Thakur. Ann Neurol. 2022 Nov;92(5):725-728. doi: 10.1002/ana.26504. Epub 2022 Oct 6. PMID: 36120838 DOI:10.1002/ana.26504

2. https://polioeradication.org/wp-content/uploads/2022/09/GPEI–Recommendations-for-Reporting-on-Poliovirus-Outbreaks-20220901.pdf Acesso em: 20 fev. 2023

3. https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/00050435.htm Acesso em: 20 fev. 2023

4. SCHATZMAYR, H. G.; FILIPPIS, A. M. B. de; FRIEDRICH, F.; LEAL, M. da L. F. Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde: Manguinhos, Rio de Janeiro, 9(1): 11-24, jan.-abr. 2002. https://doi.org/10.1590/S0104-59702002000100002

5. https://www.paho.org/pt/topicos/poliomielite Acesso em: 20 fev. 2023

6. https://cdn.who.int/media/docs/default-source/country-profiles/immunization/2022-country-profiles/immunization_bra_2022.pdf?sfvrsn=32a76d91_3&download=true
Acesso em: 20 fev. 2023

7. http://pni.datasus.gov.br/calendario_vacina_Infantil.asp Acesso em: 20 fev. 2023

8. https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/notificacao-compulsoria Acesso em: 20 fev. 2023