Por ser o endotélio o maior sistema do corpo humano, revestindo todos os vasos sanguíneos, desde o coração até os pequenos capilares(41), a sua disfunção está intimamente ligada à maioria das doenças tabaco- relacionadas.
Partindo da premissa de que os fumantes podem desenvolver uma lesão endotelial sistêmica que predispõe à trombose e à embolia pulmonar aguda, é razoável a hipótese da sua maior chance de complicações face à contaminação pelo novo Coronavírus. O tabagismo eleva as concentrações de radicais livres no corpo, bem como os quadros agudos de infecções microbianas, como a COVID-19 (42).
Assim como nos fumantes, os indivíduos contaminados com o novo Coronavírus apresentam elevações de algumas interleucinas, (IL-2, IL-7) e do fator de necrose tumoral alfa, o que contribui para a síndrome de tempestade de citocinas, responsável pelas graves lesões endoteliais, observadas em um subgrupo de pacientes que evoluem para a forma grave da COVID-19, com excesso de inflamação e síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO) (43).
Entretanto, não está claro se essas complicações ocorrem pela resposta imunológica desregulada, que desencadeia importante disfunção endotelial ou distúrbio da coagulação, que é verificada nos casos graves da COVID-19 9(44,45). Além disto, a infecção pelo novo Coronavírus cursa também com elevação dos níveis de Proteína C Reativa (PCR) e Dímero-D (46,47) que já são elevadas nos fumantes, sendo plausível pensarmos numa evolução com manifestações mais graves da COVID-19.
Estudo constatou que a coagulação intravascular disseminada estava presente em 71% dos casos de COVID-19 que evoluíram para óbito, comparado com 0,4% dos que superaram a doença. Observou-se nesses casos um aumento de 3 a 4 vezes do Dímero-D, comparado aos níveis encontrados na admissão hospitalar (48). A chance de evolução para óbito pela SDMO aumenta em 18 vezes, nos casos de elevação do Dímero-D (acima de 1μg / L) na admissão (47,49) .
A elevação desses marcadores, em especial do Dímero-D, indica que abordagens mais críticas e agressivas serão necessárias, face à gravidade progressiva do quadro infeccioso causado pelo SARS-CoV-2(50) .
Em resumo, os fumantes(38,40) fazem parte do grupo de risco para a contaminação e complicações da COVID-19, não somente pelas comorbidades tabaco-relacionadas preexistentes, mas também porque apresentam elevados níveis de PCR, Dímero-D (38,40) e das citocinas pró-inflamatórias (36).