Carta ao Brasil - AMB

Carta ao Brasil

O Dia Mundial sem Tabaco – 31 de maio foi criado em 1987 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com a finalidade de alertar a população mundial e as autoridades sanitárias dos países sobre os malefícios do tabagismo ativo e passivo, bem como para desencorajar o uso do tabaco em qualquer uma de suas formas.

O tabagismo é considerado uma doença crônica causada pela dependência à droga nicotina presente nos produtos derivados do tabaco. É a maior causa evitável de doença e morte no mundo de acordo com a OMS. Anualmente, morrem mais de 8 milhões de pessoas, sendo que mais de 7 milhões dos óbitos são atribuíveis ao tabagismo ativo e 1,2 milhão ao tabagismo passivo. No Brasil, são estimadas cerca de 156 mil mortes anuais (428 mortes por dia) devido ao tabagismo.

Os produtos do tabaco são consumidos de diversas formas (fumado, inalado, aspirado, mascado ou absorvido pela mucosa oral). No Brasil, predomina o uso do tabaco fumado. Os produtos derivados da combustão do tabaco contêm aproximadamente 7 mil substâncias tóxicas que são responsáveis direta ou indiretamente por cerca de 55 doenças. Entre estas, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) – doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, doenças respiratórias crônicas, câncer e diabetes – são responsáveis por 7 entre cada 10 mortes prematuras no mundo.

A exposição de adultos não-fumantes à poluição do ambiente causada pela fumaça ou vapor do tabaco (tabagismo passivo) aumenta as chances de apresentarem as mesmas doenças dos fumantes. As crianças têm maior risco de infecções respiratórias, otites de repetição, asma brônquica, perda da função pulmonar e morte nos primeiros anos de vida, além de câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica na vida adulta. As gestantes que fumam têm risco aumentado de complicações da gravidez (abortos, partos prematuros, descolamento prematuro da placenta) e de danos para o bebê, como baixo peso ao nascimento, morte súbita infantil e comprometimento da inteligência e do comportamento, com dificuldade de aprendizagem escolar.

TABAGISMO E COVID-19

Desde o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, diversos estudos seguem em andamento. Diversos têm demonstrado que fumantes de qualquer produto derivado do tabaco têm uma chance 2 a 3 vezes maior de desenvolver a COVID-19 em suas formas mais graves, que podem culminar com a morte, pois já podem apresentar redução da capacidade pulmonar, alterações ou mesmo doenças pulmonares crônicas já instaladas, doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, todas essas relacionadas ao tabagismo.

O tabagismo aumenta o risco de infecções causadas por bactérias, vírus e fungos, pois altera a estrutura do sistema respiratório, causa inflamação, promove a elevação da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) – enzima que se comporta como receptor do novo coronavírus, aumentando a carga viral – e reduz a resposta local de defesa do sistema respiratório, bem como das células que compõem o sistema imunológico do organismo (resposta imune). Os fumantes apresentam baixa oxigenação dos tecidos, alterações dos vasos sanguíneos e um estado de hipercoagulação, que os predispõem à trombose, o que pode ocorrer também na COVID-19. O ato de fumar pode favorecer a transmissão da COVID-19, através dos movimentos repetidos mão-boca (cerca de 200 por dia, nos fumantes de 1 maço diário), sem a adequada higienização das mãos e com cigarros contaminados, bem como através da eliminação de aerossóis no ambiente, o que ocorre com os cigarros eletrônicos, cigarros de tabaco aquecido e narguilés. Nestes últimos, há também aumento do risco de transmissão da doença pelo compartilhamento de piteiras e mangueiras e pela preparação e limpeza inadequadas do dispositivo e seus acessórios. A tosse frequente dos usuários durante o uso, a umidade da fumaça do tabaco e o recipiente com água fria do narguilé possibilitam a sobrevivência de microrganismos dentro das mangueiras. Geralmente o uso do narguilé é realizado em grupos e as sessões têm a duração de 45 a 60 minutos, promovendo, portanto, aglomeração, o que sabidamente também aumenta o risco de transmissão do novo coronavírus.

 “Comprometa-se a parar de fumar durante a PANDEMIA DA Covid-19”

Este é o tema definido pela OMS para o Dia Mundial sem Tabaco de 2021, tendo em vista a forte interação entre os fatores de risco do tabagismo e da COVID-19. Portanto, é fundamental que os médicos e demais profissionais de saúde encorajem, motivem e apoiem os fumantes a interromper o tabagismo.

De 1,3 bilhão de usuários de tabaco em todo o mundo, 60% expressam o desejo de parar de fumar, mas apenas 30% têm acesso às ferramentas para ajudá-los a ter sucesso.

A OMS listou 103 razões para parar de fumar, como forma de mobilizar, motivar, sensibilizar e encorajar os tabagistas a deixarem o fumo. São previstas ações de fortalecimento e ampliação do acesso aos serviços de cessação, aumento da conscientização sobre as táticas da indústria do tabaco e empoderamento dos fumantes para conseguirem vencer o tabagismo, através da criação de comunidades digitais, onde as pessoas podem encontrar o apoio social de que precisam para parar de fumar.

No Brasil, o tema do Dia Mundial sem Tabaco vai ser divulgado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) para alertar a população sobre o uso de produtos fumígenos como fator de risco para a transmissão do SARS-CoV-2 e para o desenvolvimento de formas mais graves de COVID-19, incentivando os fumantes a pararem de fumar e desestimulando a iniciação no consumo de produtos do tabaco por crianças, jovens e adolescentes.

Nas situações de dificuldade de comparecimento dos usuários para o tratamento presencial nas unidades de saúde, em consequência da pandemia, será recomendado o tratamento dos fumantes a distância. Através de parceria entre a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o INCA e a Associação Médica Brasileira (AMB), foram elaborados 9 vídeos curtos de aconselhamento para a cessação do tabagismo e a prevenção de recaídas, no formato de história em quadrinhos, que devem ser amplamente divulgados para a população.Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira