Dicas tabagismo – AMB

O que é narguilé?

Narguilé é um dispositivo usado para o fumo de essências, de tabaco ou outras substâncias entre elas algumas psicoativas.

O narguilé é composto por várias peças, isto é, fornilho (ou rosh, cabeça ou cerâmica) onde a mistura do tabaco é depositada; prato (ou cinzeiro) que recolhe as cinzas do carvão; corpo; jarro (base ou vaso) onde a água é inserida; mangueira (única ou múltiplas) e piteira, por onde flui a fumaça 1.

A mistura de tabaco usada neste dispositivo, também conhecida por essência ou massel, é composta, de um modo geral, por 30% de tabaco que é adocicado com 70% de mel de abelha ou melaço de cana-de-açúcar, além de umectantes e sabores de frutas como maçã, morango, manga, cappuccino, chocolate, baunilha, hortelã e até cheiro de rosas, que conferem aroma e atratividade específicas 2, conforme ilustrado na figura 1.

Figura 1 – ilustração de sabores e tabaco adicionados ao narguilé.

 

Para aquecimento da mistura do tabaco para narguilé, faz-se necessário o uso de briquete, que são blocos de carvão comprimido, ou pedaços de carvão vegetal em brasa que são colocados por cima de papel alumínio que envolve o fornilho1.

Com a sucção da piteira, a fumaça percorre o corpo do narguilé, borbulhando na água do jarro chegando ao usuário pela mangueira1.

Muito tempo antes da chegada do tabaco no Velho Mundo já se falava desse equipamento, que era usado para fumar não só o tabaco, mas também frutas, flores, especiarias, haxixe e marijuana1.

Possui várias nomenclaturas como narguilê, narghile, arghile, sisha, hookah, waterpipe, cachimbo d’água, hubble-bubble e goza ou gouza1.

Do Oriente se expandiu rapidamente para o Ocidente, tornando-se um grave problema de Saúde Pública do século XX e XXI, pela crença equivocada de ser menos danoso à saúde comparado ao cigarro tradicional1.

Figura 2: Homens usando narguilé em Jaffa, Palestina (1948), autoria desconhecida.

 

Figura 3: mulher persa fumando narguilé, Antoin Sevruguin (1840 -1933), fotógrafo iraniano.

 

A mistura usada para o fumo do narguilé pode ou não conter nicotina 1.

A equivalência de uma sessão de narguilé onde é usado mistura de tabaco, com aroma e sabor, corresponde a 6,5 cigarros regulares, enquanto que se for fumado o tabaco puro, sem aditivos, essa equivalência sobre para o consumo de 70 cigarros 1,3.

Essa enorme diferença se deve ao fato das grandes variações de ingredientes adicionados ao tabaco, como por exemplo, maior uso de caules do que de folhas, onde a concentração de nicotina é mais elevada 1.

Conhecidos por essências herbais, esses tipos de misturas para uso no narguilé são muito danosos à saúde. Exceto pela ausência de nicotina, os herbais contêm as mesmas concentrações de inúmeras substâncias tóxicas como os cancerígenos alcatrão, benzopireno, formaldeído e acetaldeído, além do monóxido de carbono e do óxido nítrico 1.

É plausível pensarmos que o narguilé, quando usado com mistura de tabaco, que contém nicotina, uma potente substância psicoativa, desencadeia a instalação da dependência química1.

Alguns estudos evidenciaram a presença de sintomas de síndrome de abstinência entre usuários que fizeram a interrupção do uso do narguilé, manifestos por fissura e inquietação, além da dificuldade de cessação mesmo quando motivados4, 5,6.

Fonte: INCA, Ministério da Saúde.

                                 

 

Adolescentes e adultos jovens compõem o grupo de maior vulnerabilidade ao uso deste dispositivo. As razões para seu uso são inúmeras, quais sejam, a falsa crença de ser inócuo ou menos danoso à saúde; a atratividade dos aditivos que são uma característica desse tipo de produto; o modismo e a forma de uso, a necessidade de pertencimento e o uso geralmente coletivo favorece a socialização nessa fase em que os pares exercem grande influência no comportamento 1.

Urge a implantação de programas de educação em saúde, como forma de disseminar conhecimento e reflexão principalmente entre os adolescentes e adultos jovens.

Fonte: TobaccoFree California, USA.

 

Essa é uma crença totalmente equivocada. A água usada no jarro do narguilé não possui a capacidade de filtrar nenhum tipo de substância ou toxina, nem tornar o seu uso mais seguro1.

 

Infelizmente, sim. O narguilé tem sido usado para o consumo de cannabis, haxixe, além de ser uma porta de entrada ao tabagismo com o uso posterior de cigarros tradicionais e álcool 1,7–10.

 

 

Inúmeros são os danos à saúde causados pelo uso do narguilé, onde o sistema cardiovascular e o respiratório são os mais afetados. As gestantes e os fetos são também muito afetados pela fumaça do narguilé. Os fetos podem apresentar baixo peso ao nascer e distúrbios pulmonares. Doenças periodontais e alterações da voz por danos à laringe são comuns entre os seus usuários1,11.

Entre os danos a curto prazo observamos que o usuário de narguilé sofre aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial com elevação do risco para doença coronariana, além do aumento da frequência respiratória, risco de intoxicação pelo monóxido de carbono e prejuízo à função pulmonar1,11.

Os danos cardiovasculares em longo prazo mais observados são risco maior para cardiopatia isquêmica ou insuficiência cardíaca, enquanto que, os danos pulmonares inerentes ao seu uso são o desenvolvimento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma. O uso do narguilé está associado à diversos tipos de cânceres, entre eles os de pulmão, esôfago, intestino e bexiga1,11.

O compartilhamento das piteiras predispõe e eleva o risco de contaminação para herpes labial, influenza, tuberculose1,11 e por que não pensarmos também na COVID-1912.

Não. O tabagismo passivo à fumaça do narguilé é um grande risco à saúde. A queima da essência do narguilé com ou sem tabaco libera na sua fumaça substâncias tóxicas e cancerígenas nos mesmos níveis e, algumas vezes até superiores as da fumaça do cigarro tradicional, qual seja, monóxido de carbono, óxido nítrico, acetaldeído, acroleína, pireno, benzopireno, benzantraceno entre outras 1,13.